9- Uma coisa não volta mais

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Então, é o primeiro dia de aula. O primeiro dia é sempre o meu preferido porque é o único dia do ano no qual a escola é uma novidade. Há aquele clima de recomeço, de verão, de expectativa; isso tudo me deixa ansiosa.

Nesse ano, eu tenho um ingrediente adicional na minha empolgação: Estou otimista.

Aproveitei os últimos dias das férias para fazer uma limpeza astral na minha vida e coloquei tudo que era doce demais(no sentido de romance) numa caixa e a enfiei no quarto da bagunça da minha mãe. Agora, meu quarto está combinando com o meu estado de espírito.

Estou limpa.

Esse ano vai ser diferente. Um ano sem viagens no ônibus cobertos por canções de amor e pensamentos ora melancólicos(mal me quer, bem-me-quer), ora agridoces.

Eu sou outra garota. Estou curada.

Acordo bem cedo para arrumar o meu cabelo. A princípio, penso em fazer um penteado diferente, algo como princesa Léia, ou alguma coisa que eu não esteja habituada a usar, mas acabo optando pelo velho e bom solto na parte de baixo e rabo de cavalo na parte de cima. Agora, já são quase sete da manhã e o Artur está pronto, mas eu ainda estou aqui, no meu quarto, enrolando o meu cabelo, cacho por cacho.

— Lily!—O Artur bate na minha porta quando passa pelo corredor.— Você não vai atrasar a gente para continuar feia!

Eu começo a agilizar o meu trabalho com o cabelo.

— Já tô indo, Artur!

Nesse momento, escuto Alex estacionando o carro diante a minha casa, buzinando feito doido.

— Alex, você vai acordar os vizinhos!- A minha mãe grita da janela dela.

— Desculpa, tia Vivian! — Ele devolve.

Eu termino de enrolar o último cacho, pego a minha mochila e corro lá para baixo. Apesar ainda ser de manhãzinha, o clima já é quente e a sensação do sol matinal na minha pele é parecida com a sensação de tomar um copo de chocolate quente. Aquece tudo. O Artur já está sentado no carro, sentado no banco da frente e se vira para trás, quando eu me sento.

— O que foi que eu disse? Continua feia. — Ele comenta com o Alex.

Eu coloco a minha cabeça entre o banco deles. O Alex colocou tanto perfume nesta manhã que, por um segundo, fico tonta.

— Eu posso escolher a música?

Artur faz uma cara feia.

— Não, ninguém quer escutar aqueles suas músicas melosas.

O Alex sorri para mim pelo retrovisor.

— Vai em frente, garota.

O Artur revira os olhos.

— Você só pode tá de brincadeira...

— Respeita a decisão do dono do carro.— Eu digo, esticando o braço para trocar a estação do rádio.

O Artur coloca os braços embaixo da cabeça, relaxando a coluna.

— Cara, se você deixar a senhorita estou de coração partido escolher a música, você vai se arrepender.

Meu queixo cai. O Artur realmente disse isso? O Alex pisa no acelerador do carro e olha para o Artur.

— Ela tá de coração partido?

Eu tenho a obrigação moral de dizer:

— Eu não estou de coração partido.

O Artur tira os fones ouvidos da mochila.

Devolva o meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora