11- E se eu prever o futuro

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A CAROL SE mudou para Minas Gerais para cursar direito. Então, a Melissa hoje de manhã me pediu para vir até a casa dela, depois da escola, para ajuda-la a fuxicar as coisas que a irmã dela deixou no quarto. Eu não acho certo nós duas estarmos invadindo a privacidade da Carol desse jeito, mas a Melissa diz que a irmã dela não deixaria nada muito comprometedor em casa, e eu acabo topando.

Além do mais, eu gosto da ideia de olhar os objetos deixados para trás por uma menina que abandonou uma vida inteira, para ir atrás de um sonho. É como se cada coisa encontrada contasse uma história diferente, e eu imagino a Carol escolhendo a faculdade deitada nessa cama, planejando o seu futuro, naquela escrivaninha. A Melissa não sabe, mas houve uma época que eu era meio afim da Carol. Ela usava presilha com formato de frutas quando era mais nova e eu a achava meio que bonitinha. E agora, é como se, de alguma maneira, eu estivesse dentro da cabeça dela.

Eu estou deitada na cama, folheando os livros da Carol, tentando encontrar alguma reflexão que ela poderia ter escrito em alguns deles, quando, de repente, tenho uma ideia.

—  Será que a sua irmã deixou alguma cartinha guardada por aqui?—Eu pergunto para a Melissa, ficando de pé na cama para olhar em cima do guarda-roupa da Carol.

A Melissa ri, irônica.

—  Ninguém escreve cartinhas de amor, Emily Louise. Além de você.

Eu dou de ombros e pulo na cama para ter uma visão mais ampla do teto do guarda-roupa.

— Às vezes, acontece.

Eu não encontro nenhuma cartinha, mas encontro uma caixa de bombons sortidos. Me deito na cama de novo, e assisto à Melissa fuçar o armário da irmã dela, enquanto como os bombons. Claramente, a Melissa está sofrendo com a síndrome do ninho vazio. Ela pode até tentar bancar a garota feliz, que agora tem um quarto só para ela, mas da para notar que, sem a irmã aqui, ela não que o que fazer. Por isso, ela está tão obcecada com esse achado.

De repente, o telefone da Melissa vibra em cima da cama e ela o pega.

— Ah. Pronto.— Ela sorri. — Gabi chegou.

Eu me sento, abruptamente.

— Chegou onde?— Apesar de já saber a resposta.

Melissa volta para o armário.

—  Aqui. Ela vai participar do nosso achado.

— Melissa. — Eu tento sorrir. — Por que você não me avisou?

Eu teria corrido para casa antes.

— Mas eu avisei.

E confirmo com toda a certeza.

—  Não, não avisou.

Ela reflete.

— Você estava no banheiro.

Continuo tentando manter o sorriso político.

— Podia ter esperado eu sair.

Melissa enruga a testa.

— Que diferença faz?

— Nenhuma.—  A diferença é que eu já estaria na minha casa.

Eu escuto passos vindo do corredor e a Gabi entra no quarto, toda suada, vestindo o uniforme da escola.

— Vocês acharam alguma coisa interessante?

Melissa coloca um bolo de roupas na cama.

— Não. A Lily tentou encontrar cartinhas de amor. — Ela força a voz, para soar enjoativa.—  Mas não encontrou nada.

Devolva o meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora