12- As cinco regras

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EU ESTOU PASSANDO muito mal. Acho que foi alguma coisa que eu comi na rua, porque a minha barriga está muito esquisita e eu também estou com febre.

- Você não está com febre.-Artur diz, olhando para o termômetro.

O Artur está sentado na beirada da minha cama, todo descabelado. Eu o chamei quando ele estava passando no corredor, para me ajudar com a minha crise. Afasto as cobertas, engatinho até ele e olho para o termômetro.

- É claro que eu estou. Está bem aí.- Indico a temperatura na régua do termômetro com o dedo.- Trinta e sete graus.

Artur continua avaliando o resultado, com as sobrancelhas juntas.

- Trinta e sete graus não é febre. Deve ser calor.

- É sim.- Eu insisto.- Vou medir de novo.

Eu pego o termômetro da mão dele e o coloco na boca. Aguardo o intervalo necessário e depois o retiro.

- Trinta e sete-e-meio!- Eu pulo.- Viu só? Febre. E eu estou piorando.

O Artur balança a cabeça, me olhando com desprezo.

- Por que você gosta tanto de atenção?

- Eu não quero atenção.- Me esparramo na cama, deixando o meu corpo mole.- Eu estou mesmo doente. Queria que a minha mãe estivesse aqui; Ela saberia que eu estou falando a verdade.

A minha mãe saiu com a tia Vanessa e a com a tia Fernanda, suas amigas do tempo da faculdade, na cidade vizinha. Vai voltar só amanhã. O que significa que eu estou sozinha com o insensível Artur. O Artur se levanta.

- Lily, você vai lavar a sua louça. Para de querer me enrolar.- Ele diz, fechando a porta o quarto.

- Aonde você vai?- Eu grito para a porta.

- Vou no Alex! Quando eu voltar, nada de louça suja.

Quando o Artur sai do quarto, eu coloco a mão no meu rosto. Gelada.

Ta.

Vou ser sincera.

Eu não estou passando mal.

Mas eu tô com tanta preguiça de de lavar a louça.

Não é justo. Eu arrumo a casa e tudo mais. Por que eu tenho que lavar a louça? O Artur só faz isso.

Que droga.

Ja que eu, obviamente, sai na pior, vou lavar a louça. Quando termino, mando uma mensagem para a Melissa, perguntando se ela quer vir aqui em casa ficar a toa, mas ela responde que vai sair com o Cadu. Ela me convida para ir junto, mas eu apenas respondo:

" bleh"

Não sou tão fracassada assim ao ponto de me meter em um encontro de um casal. No fim das contas, decido pintar. Pode parecer o fim da linha, mas é raro eu ter a casa toda para mim e eu aprecio o momento reunindo meu material de artes na sala. Eu pego o meu cavalete e misturo as tintas. Estou na segunda camada da tela quando o quando meu telefone vibra no meu bolso. Número desconhecido.

"oi!"
"ta em casa?"

Eu digito:

" Quem é?"

Um minuto depois, a resposta chega:

" a Alice"

E no topo do chat, a foto da Alice aparece. Eu abro a foto. Alice está sorrindo, no restaurante de comida japonesa do shopping, tão linda que dói.

Devolva o meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora