16- Pela primeira vez

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ALGUMAS ROUPAS fazem você se sentir uma outra versão de si mesma. As roupas têm um papel de compor um figurino, de fazer uma marca. Quando penso na Cinderela, sempre penso no seu vestido azul cintilante. Isso acontece porque o vestido fez a Cinderela fazer sentido. Algumas outras vezes, você é, por si própria, brilhante, vestindo um vestido de festa ou um pano de prato. Obviamente, eu estou na primeira categoria e, hoje, eu queria vestir uma roupa que mudasse a minha vida. Ao invés disso, o que eu achei foi um monte de tralha. Por isso estou aqui, com depressão, deitada no chão do meu quarto. Peguei o meu diário e estou enrolando para me arrumar para a festa na casa da Laila, porque sei que se eu tiver de encarar as minhas roupas de novo, eu vou cair no choro. 

Agora, eu estou escrevendo sobre o meu dia. 

"A Melissa ainda não me mandou uma mensagem, desde ontem, quando eu defendi a Alice.

A minha mãe ainda quer me fazer cozinhar, para se vingar do insulto que eu fiz a comida dela. E isso está me dando vontade de fugir de casa. 

Segui o Caleb no Instagram, como a boa aluna que eu sou. 

Ainda não sei se o Caleb é tocável. 

A Alice é minha professora, então ela não pode ser tocável. Porém..."

Alguém bate na porta do meu quarto.

— Pode entrar.— Eu grito.

A minha mãe entra. 

— Mas que bagunça, hein.— Ela diz.

Sem tirar os olhos do diário, eu digo:

— Gosto de deixar o meu quarto combinando com o meu estado de espírito.

— O que?

A minha mãe não gosta do meu lado emo. Balanço a cabeça. 

— Nada. 

Minha mãe solta um suspiro.

— Não sei como uma mulher tão racional como eu, foi ter uma filha tão dramática. O que foi dessa vez?

Continuo rabiscando no papel.

— Sou uma pobretona sem roupa bonita para vestir.

Eu vejo a minha mãe indo até o meu armário e tirando as roupas do chão. Minha mãe se esforça para não se meter, mas ela sempre acaba arrumando a bagunça que eu e o Artur fazemos. Culpa do TOC.

— Fizemos compras no Natal.— Ela objeta.

Fecho o diário e me deito de costas. 

— Odiei todas. Só as comprei porque você não parava de me apressar. Na próxima vez, vou ir sozinha.

Minha mãe ignora isso. 

— Se te consola, amanhã as suas tias vão passar a noite aqui.

Eu me sento, feliz de repente. Eu adoro quando as minhas tias vêm para o jantar. elas não são minhas tias no sentido estrito, na realidade, o nome correto é "madrinhas", mas a minha mãe não tem irmãs e eu não tenho família no lado paterno. Então, é quase como se elas fossem da família de verdade. Quando éramos pequenos, elas costumavam tomar conta de mim e do Artur, quando a minha mãe precisava fazer algo importante na rua. Fazia sentido chamá-las de tias. Hoje em dia, elas preferem que eu e o Artur nos referirmos a elas pelo nome, Vanessa e Clara.

— Jura?

— Sim, agora arrume esse armário. 

Quando a minha mãe está saindo, eu pergunto:

Devolva o meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora