EU VOU CONTAR como as coisas aconteceram entre a Gabi e eu.
Eu havia acabado de começar a oitava série e a Gabi entrou na minha sala, transferida de outro colégio. Era normal alunos novos chegarem no início de cada ano e, antes de abril, todos já haviam virado amigos. Menos a Gabi. No começo, ela se sentava no fundo da sala e ficava quietinha a aula toda, penteando a franjinha, não olhava para ninguém. E na hora do recreio, eu sentia pena de vê-la tão sozinha, e a chamava para sentar comigo e com a Melissa. A Gabi sempre nos seguia, mas, enquanto comia seu sanduíche, ficava calada, não dizia nada, apenas sentava la, assistindo eu e a Melissa conversando. A melissa a detestou, no primeiro momento. Uma vez, durante a aula de educação física, ela me puxou para o canto.
— Essa novata me deixa nervosa. Por que ela não fala?
Olhei para a arquibancada, onde Gabi estava sentada, olhando para a nossa direção, como se soubesse que estavamos falando sobre ela, e puxei a Melissa para mais longe, morta de vergonha.
— Ela fala, quando nós falamos com ela. O problema é que a Gabriela é muito tímida.—Estiquei o braço e arrumei o cabelo da Melissa, que estava todo bagunçado, de tanto que ela havia corrido.— Nem todas as pessoas são descaradas como você.
Melissa deu um tapa na minha mão o para eu tirar a mão da cabeça dela.
— O pior é que nem quando ela fala, eu consigo escutar. Ela me deixa com sono.
Eu revirei os olhos, e pedi para a Melissa ser paciente, mas ela estava um pouco certa. Mesmo após a Gabi ter se adaptado ao grupo, ela ainda era muito tímida. Falava sempre em voz baixa, calma. Eu sempre tive a sensação de que ela nunca havia gritado na vida. E provavelmente eu tinha razão. A Gabi era tão gentil, que não gritava. Uma vez, na fila do mercado, uma mulher pisou no seu pé, e a Gabi ainda pediu desculpas; Ela era gentil assim. Na escola, ficava cantarolando quando não havia mais nada para fazer, e eu sempre parava para prestar atenção.
Se, no geral, estar apaixonada platonicamente é uma agonia sem fim, há algo sobre se apaixonar pela sua melhor amiga que acrescenta a situação toda um quê de castigo grego. Eu tenho essa tendência, para não dizer vicio, de me apaixonar pelas minhas melhores amigas. Não todas; Duas, para ser precisa. Mas, em minha defesa, não é minha culpa. Com a Gabi, em particular, nos sentávamos no corredor da escola e, enquanto Melissa fazia comentários maldosos sobre os passantes, a Gabi se sentava atrás de mim e ficava fazendo trancinha no meu cabelo, com a mão levinha. Melissa odiava ficar de grude, mas eu e a Gabi éramos parecidas e andávamos de mãos dadas, de braços dados, trocávamos segredos, cochichando baixinho na sala de aula. Eramos amigas, e fazíamos coisas de amigas, mas quando você gosta de meninas, você, bem, literalmente gosta de meninas. E é difícil explicar para o seu coração que a menina que troca segredos com você madrugada a dentro não pensa em você do outro jeito.
Mas aí eu descobri que a Gabi também gostava de meninas.
Estávamos na minha casa, à toa após a escola, quando Gabi confessou que não gostava de meninos. Eu estava pintando a unha do dedinho da mão da Melissa e quando Gabi fez a confissão, borrei tudo. Após ouvir poucas e boas da Melissa, pedi para Gabi falar de novo.
— Acho que não gosto de meninos.— Ela repetiu.
— E quem gosta?— Melissa respondeu, mau-humorada, esfregando o algodão no dedo manchado.
Gabi estava sentada à escrivaninha da Melissa, e se enterrou na cadeira.
— Não, eu quis dizer no sentido romântico.— Explicou, baixinho.— Eu não sou hétero.
— Você gosta de alguma menina?— Perguntei, tentando manter a voz imparcial, controlada.
Gabi não estava me olhando, estava olhando para um ponto atrás do meu ombro.
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Devolva o meu coração
Teen FictionEmily Louise é de peixes. Ok, muitas pessoas são de peixes. Não é esse exatamente o problema. O problema são os romances sáficos que ela não para de ler. Ou será que são as músicas de amor que ela não para de ouvir? Seja qual foi o problema, Emily p...