É MUITO DIFÍCIL evitar a Gabi. Depois de vê-la na casa da Melissa, eu aprendi uma lição; se eu não quero encontrar a Gabi, eu preciso fazer isso direito. Então, eu tenho sido muito cuidadosa. No horário do almoço, a Gabi se senta com as meninas da sala dela, mas fora isso, eu preciso estar em estado de vigilância total. Agora, antes de entrar no banheiro, olho lá dentro, só para evitar. Só que, mesmo assim, eu fico tão assustada que nem consigo fazer xixi direito. Por isso, parei de usar o banheiro da escola.
Eu não me orgulho disso.
Além disso, a Melissa nunca mais irá me avisar sobre a Gabi. Ou seja, eu não posso mais chegar na casa da Melissa de surpresa ou convidá-la para ir no shopping ou coisa do tipo, porque ela pode levar a Gabi.
Mas hoje não teve jeito. Alex e o Artur precisam ir ao clube de futebol e eu sou obrigada a pegar o ônibus. Eu estou descendo as escadas da escola, quando vejo a Gabi ali, sentada no ponto de ônibus. Antigamente, vê-lá ali faria o meu dia. Iriamos de ônibus juntas, ela iria para a minha casa e passariamos a tarde assistindo tevê. Hoje em dia, nada. Acho que isso é o mais triste de fins de relacionamentos: os pequenos rituais que são perdidos.
Dou meia volta e ando para trás de um dos alicerses da escola. Eu sei que eu estou sendo patética e que eu deveria ir lá e parar de fugir dela. Exceto que... bem, eu não quero. Não ainda. E, não, não quero explicar. Eu só... não posso. E se a namorada dela aparecer? E se ela quiser começar a falar sobre a namorada? E se ela começar a falar da Alice e da praia? E se ela perceber que eu menti?
Há muitas possibilidades assustadoras.
Eu fico aqui até a Gabi entrar no ônibus e depois me sento no banco. Eu fico mexendo na ponta do meu cabelo, enquanto o ônibus não chega. Ainda estou aqui, quando alguém surge atrás de mim.
— Bu!
Eu pulo no banco. A Alice ri, que nem uma doida.
— Você tinha que ver a sua cara!
— Muito maduro. — Eu comento, ainda me recuperando do susto.
Quando a Alice finalmente consegue conter a sua risada, ela se senta ao meu lado, os bochechas vermelhas por causa do sol, o cabelo preso em dois coques, um de cada lado da cabeça. O cabelo dela tá tão curto que os fios ficam pulando para fora.
— E aí, querida aluna, conseguiu digerir as cinco regras?
— Na verdade, — Eu incio.— eu tenho uma objeção.
Alice levanta as sobrancelhas.
— Estou ouvindo.
Como a boa nerd que eu sou, fiquei curiosa para descobrir a natureza técnica do amor. Encontrei alguns artigos científicos explicando que o amor é um sentimento puramente psicológico. Mas isso é cético demais até mesmo para mim. Acabei encontrando um artigo bem interessante. Poucas pessoas sabem, mas, se no ocidente só temos uma palavra para falar sobre o amor, na Grécia antiga havíam sete ou oito. Por acaso, um desses amores combina muito com o pilar principal das cinco regras da Alice. É amor Agape. Que é quando você ama pessoas imperfeitas, quando você se apaixona pelos defeitos dela. Porque as pessoas, as vezes, são como uma canção, você precisa dos mínimos detalhes para que ela seja única.
E é isso que eu explico para a Alice. Quando eu termino a minha palestrinha, ela franze a testa.
— O quão azarada eu tenho que ser, para ter como a minha aluna sênior a última romântica do mundo?
— Não é essa a questão. Você nunca se apaixonou pelos defeitos de uma pessoa?
Alice nem pensa no assunto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Devolva o meu coração
Novela JuvenilEmily Louise é de peixes. Ok, muitas pessoas são de peixes. Não é esse exatamente o problema. O problema são os romances sáficos que ela não para de ler. Ou será que são as músicas de amor que ela não para de ouvir? Seja qual foi o problema, Emily p...