20 - Um plano

417 83 30
                                    

A MINHA VIDA acabou. Não estou sendo dramática dessa vez; tudo realmente está acabado. A minha reputação, a de menina que curte desenhar e está sempre de fones no corredor, já era. Eu tentei cuidadosamente não me meter em encrenca desde o primeiro ano, e agora, por um beijo, tudo está arruinado. Agora eu sou simplesmente o casinho passageiro da Giácomo. Não vou à escola há três dias porque não suporto a ideia de entrar na minha sala e ter que me sentar sozinha, com todo mundo me condenando. Ontem eu acordei cedo, queimando de febre. Eu costumo ter sintomas psicossomáticos. Quando fico triste, não tem jeito, também fico doente. Não consigo parar de pensar na segunda. Naquele dia tão horrível, que, na minha cabeça, parece quase um pesadelo. Com certeza, toda aquela situação, da Jennifer e da Melissa é pior do que todos os meus piores pesadelos. Pior até do que aqueles onde eu fico pelada na escola. 

Foi ruim assim.

Mas não é só isso: Fico pensando em como todo mundo está falando sobre mim, em como todo mundo está prestando atenção em mim.

Na terça feira, eu estava sentada, esperando o ônibus, saboreando o meu dia solitário na escola, quando duas meninas pararam perto de mim. Eu sabia que elas estavam falando sobre mim porque elas não pararam de lançar olhares curiosos na minha direção. De repente, uma das meninas gritou:

— Ei, menina!

Eu fingi que não ouvi, mas so havia eu ali. Ela me chamou mais uma vez e eu tive de olhar.

— Oi.

— Seu nome é Emily?

Eu hesitei por um segundo, pensando em dizer não. Mas assenti, enquanto torcia um cacho do meu cabelo.

— É.

Ela cravou os olhos em mim, com interesse.

— Legal. 

Eu voltei a olhar para a estrada, ansiosa, esperando o meu ônibus e ouvi a conversa:

— Até que ela é bonitinha.

— Sou muito mais a Jennifer. — A outra cochichou.

Eu me encolhi.

— Sou mais o Rodrigo. Você lembra como ele era gostoso? 

A menina baixinha soltou uma risadinha.

— Você é hétero. Essa comparação  não é justa.

A outra suspirou.

— Enfim. Tanto faz. Daqui a uma semana a Alice não vai nem lembrar o nome dela.

E depois, assim que cheguei em casa, chorei até dormir. 

Agora, é sexta-feira de tarde e eu ainda nem penteei o cabelo. Desde terça. Acho que o Artur voltou da escola, porque eu estou ouvindo o barulho da tevê. Então, a menos que uma assombração tenha ocupado a minha casa, o Artur está na sala.

Eu estou com sede e a minha garrafinha de água já está vazia, então eu desço para o andar de baixo. Quando estou nas escadas, escuto a voz do Alex. Por um segundo, fico com vergonha de avançar pela sala, tão feia assim, mas acabo indo do mesmo jeito. Afinal, é só o Alex. Artur é o primeiro a me ver. 

— Olha aí, a nova namoradinha da Giácomo. 

Reviro os olhos, andando para a cozinha. O Artur não para de me chamar assim há dias. 

— Para com isso, Artur. Eu não tô bem. 

Para a minha surpresa, o Alex pausa o jogo e levanta do sofá, vindo atrás de mim. 

— Lily, você tá brincando, né?

É a primeira vez que eu vejo o Alex depois do meu beijo com a Alice ter vazado e virado uma grande fofoca. Ele me mandou umas mensagens, durante a semana, mas eu nem respondi. Agora, no entanto, a interação é inevitável. Pego o suco na geladeira e me viro para ele.

Devolva o meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora