APARENTEMENTE, a nova namorada da Gabi é do turno da tarde da nossa escola, está no terceiro ano e se chama Tiffany. A Melissa contou tudo isso, após confessar o namoro da Gabi. Eu liguei para ela, assim que voltei da praia e ela disse a seguinte frase:
- Foi mal, Lily. Eu queria mesmo te contar, mas não sabia como.
Ela fez uma pausa, e eu escutei falar com alguém, do outro lado da linha.
- A Lily descobriu que a Gabi tá namorando.- Eu escutei a Melissa dizer, com a voz abafada.
- Eu a mandei contar, Lily! - Carol, a irmã da Melissa, gritou.- Pode ficar brava com ela!
-Se mete nas suas coisas, Carol!-Melissa devolveu para a irmã e voltou a falar comigo:- Já disse, Lily. Eu queria contar. Mas... Bem, não sei. Não gosto da história de vocês duas. Me deixa nervosa. É muito drama. E, de qualquer forma, você nem gosta dela. Meio que tanto faz, né?
E eu só disse que estou feliz pela Gabi e desliguei o telefone, porque, afinal, o que mais eu diria?
Agora eu estou aqui, tomando banho. Gosto de tomar banho quentinho, quando estou triste, como se a água pudesse me lavar e levar tudo para o ralo. Enquanto lavo o meu cabelo, fico pensando, toda amarga: Estar apaixonada não é nenhum pouco divertido. Na história da Clarissa e da Sofia, tudo deu muito certo. E isso no século dezenove! Na vida real, não. Na vida real, se apaixonar é horrível. Todas às vezes que eu me apaixonei, sempre terminei aqui, tomando banho, acabando com o meu shampoo todo. Daqui a pouco, a minha mãe vai gritar comigo, para eu sair do banho, como sempre. Pelo menos, dessa vez tenho que me dar o mérito. Pelo menos dessa vez eu fiquei com a pessoa. Antes da Gabi, eu nem tive vida romântica. Acho que para valer mesmo, a Gabi foi a única pessoa que eu beijei, só ela gostou de mim. Acho que é por isso que ela é tão importante. Com ela, foi real. E na minha cabeça, íamos voltar, em um determinado momento. Quer dizer, nem sequer queríamos terminar, para começo de conversa. Mas, agora, ela encontrou alguém muito mais interessante do que eu.
Ta tudo bem, eu acho.
♡
A minha mãe faz ratatouille para o jantar, mas eu nem estou com fome. No entanto, eu sei que esse é o meu prato favorito na vida e que se eu não comer, a minha mãe vai ficar bolada. A minha mãe gosta de caprichar nos pratos que faz, e, gosta de, principalmente, quando apreciamos a sua comida, como uma boa chefe de cozinha com tendências narcisistas. Eu me sento à mesa e mastigo o jantar com esforço, a força.
- Você tá quieta.- Minha mãe comenta, enquanto toma um gole do seu suco.
Mexo no meu prato com o garfo.
- Tô, não.
Esse é o lado negativo de ser tagarela. Eu tenho a obrigação de sempre preencher qualquer vazio com um bocado de lero-lero. A minha avó materna( e, na verdade, a única que eu tenho) adora me chamar de passarinho, porque eu canto e canto. Melhor. Falo e falo. Mas, hoje, a última coisa que eu quero é falar. Eu enfio o garfo cheio na boca.
- Tá tão gostoso que eu só quero comer.
Isso a deixa feliz o suficiente para largar o meu pé e eu posso remoer o meu dia sossegada. Queria tanto apagar o dia da minha memória. Eu não acredito que eu pedi para a Alice fingir que estava ficando comigo.
O que tem de errado comigo?
A coisa toda já estava humilhante o suficiente antes de eu mete-lá no meio. Agora, além da vergonha sem precedentes, eu tenho uma testemunha ocular. Aposto que a Alice está em alguma farra nesse momento, rindo de mim. Exceto que a Alice não é desse tipo, que ri das pessoas. Ela foi legal comigo na praia. De um jeito meio irritante.
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Devolva o meu coração
Roman pour AdolescentsEmily Louise é de peixes. Ok, muitas pessoas são de peixes. Não é esse exatamente o problema. O problema são os romances sáficos que ela não para de ler. Ou será que são as músicas de amor que ela não para de ouvir? Seja qual foi o problema, Emily p...