Museu de consternações.

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Existem dias na vida em que tudo se transforma em um angustiante tormento, e as suas únicas saídas são enfrentar ou fugir de seus piores demônios. Eu estava em um desses dias, o que acontece constantemente, pois tenho um calendário repleto deles, mas dessa vez eu estava vulnerável. Me vi destinada a perder para todos os meus medos e pesadelos. E eu perdi. A saída que encontrei para me afugentar foi um museu velho, e nunca apreciei tanto a arte em toda a minha vida. Os quadros eram um misto de súplica, melancolia, dor e amargura. Eram os meus quadros, o mais profundo de minhas lembranças, todas guardadas em um lugar subterrâneo em meu interior. Aquela era uma grande exposição, ou troféus, para quem quisesse se vangloriar com meu sofrimento.

Um quadro específico me prendeu a atenção; ver seu rosto estampado nele despertou toda a consternação que eu guardara durante esses longos anos. Foi como um vulcão adormecido que se ativou, destruindo tudo aos arredores (não que restasse muito de mim para ser aniquilado), mas eu estou lúcida o suficiente para ter a consciência de que sou a artista responsável por este mar de avarias.

A sua lembrança sempre irá afetar o que ainda resta de vital em mim, porque eu nunca vou superar a sua partida, que foi tão breve como água que se escorre por entre os dedos. Eu te perdi, e sei que nunca mais irei recuperá-la. E eu te perdi novamente naquele sonho do qual acordei aos prantos, onde conversamos e lhe implorei para que ficasse ao meu lado, porque a vida sem você estava insuportável. E eu continuo te perdendo todos os dias, de novo e de novo, quando durmo, quando acordo, e quando vago em minha mente, neste lugar velho e assombroso repleto de memórias que expus em todas as paredes, a minha forma de consolo que se tornou o pior de mim e a parte mais devastada de quem sou. Aos poucos estou me desfazendo, e sem demora serei apenas um corpo vazio, desprovido de qualquer coisa que já fui um dia.

A maior parte de mim se foi com você, e agora se encontra soterrada a sete palmos de profundidade, mas a minha alma quebrada ainda te ama.

Lágrimas e Vidro Para o JantarOnde histórias criam vida. Descubra agora