Morte definitiva

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Eu morri quando a música se calou. Meu corpo entrou em estado de putrefação quando meus pés pararam e minhas pernas cansadas cederam, quando meus joelhos foram de encontro ao chão e a dança terminou. Neste momento, a minha vida acabou.

Lá fora, ainda há presença viva. A vida continua para outras pessoas através da janela do 11° andar, e eu as observo com ânsia e desejo de também ser algo além de um corpo vago. Eu anseio pela vida além da existência, pela liberdade e grand jetés, mas hoje o meu espetáculo se encerrou, as cortinas se fecharam para mim.

A ascensão é assim para todos, sempre começa sem deixar vestígios de quando irá acabar: pode ser daqui a 10 anos ou 10 segundos, você nunca irá saber, pois em um instante se vê completamente livre, corajoso, vivendo a nível máximo, e depois, está trancafiado, fadado a acompanhar o mundo lá embaixo apenas com o olhar, com os braços apoiados no batente de uma pequena janela que já não é o suficiente para deixar que o oxigênio corra pelo ambiente, o que se torna cada vez mais sufocante, até que você não consiga mais respirar. Tudo isso estou aprendendo na prática. Meus pulmões estão queimando, e se não posso viver legitimamente, que ao menos me deixem respirar ar puro.

A queda livre me proporciona todo o fôlego que me tiraram ao longo desses anos. Eu o sinto, e sei que se abrir os braços posso me imaginar flutuando, voando sobre um mundo que um dia me aceitou e me fez feliz de verdade, as velhas faces que me aplaudiram e as mesmas que me destinaram à ruína e sofrimento. Consigo sentir o frenético palpitar do meu coração, como um pedido desesperado para nunca mais parar de bater. Finalmente posso executar maravilhoso gran finale que tanto esperavam de mim. Que esteja eternamente registrado meu fouetté em queda livre.

— (E que as luzes se apaguem.)

Lágrimas e Vidro Para o JantarOnde histórias criam vida. Descubra agora