Primeira morte

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Danço sozinha neste imenso salão de ruínas para expulsar a minha tristeza. O palco em que eu costumava brilhar está quebrado; os materiais fajutos que o constituíam desmoronaram e se afundaram na areia movediça, que era a base que um dia imaginei ser sólida.

A vida por trás das cortinas sempre fora forjada. Descobriram que meu espetáculo não era tão iluminado quanto os holofotes faziam aparentar.

Eu dançava e atuava, um show completo e contemplado, porém, a platéia também se foi, juntamente com as luzes sob mim. Até certo dia eu ainda me perguntava onde estavam as flores, e aceitaria até mesmo as vaias, pois qualquer barulho seria menos ensurdecedor do que este silêncio gritante, mas eu não me importo, não mais. Mesmo que esta seja a música que tocava enquanto tudo ao meu redor desmoronava, continuarei dançando sozinha, descalça sob esses cacos de vidro, até que meus pés fiquem ensanguentados e não se possa mais pisar no chão, até que a dor se vá, até que o entusiasmo da vida me encontre, até que este salão esteja inteiro novamente ou até que o mundo todo acabe.

Quando a música parar, penso em dissipar-me com ela.

Lágrimas e Vidro Para o JantarOnde histórias criam vida. Descubra agora