As folhas que choram

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Achei que tinha encontrado alguém que pudesse me estender a mão para me tirar do buraco onde me encontrava, e achei, mas não do jeito que desejava.

Ele estendeu suas mãos irradiando todo o buraco, elas brilhavam como o sol, ou talvez eu estive tempo demais na escuridão que qualquer coisa que pudesse me resgatar, parecesse tão cintilante. Eu hesitei, porque poderia ser apenas uma doce ilusão, poderia ser apenas a vida me pregando peças, no entanto, eu precisava agarrar aquela pequena chama que nascia em mim, a esperança que deixei para traz, o ultimo fio que ainda me mantinha viva, as minhas últimas peças do tabuleiro contra a própria vida.

Chorei com o calor de suas mãos, e chorei mais ainda quando estas me acariciaram como uma pena, com cuidado e delicadeza.

Chorei quando minha alma recebeu seu calor, tão quente como o sol, quando sentiu o que era ser amada, como era viver e querer viver.

Ele foi o meu guarda chuva que me protegeu da chuva la fora. Ele foi a chama que me deixou aquecida e foi a minha esperança, ele foi tudo.

Ainda sinto seus olhos me fitando, me lembro da sensação de mil ondas se chocando em meu estômago, o frio e o arrepio a cada vez que suas mãos quentes iam atrás de qualquer contato com minha pele, apenas para poder me ter por perto. Eu me lembro de sua voz doce e baixa quando conversava sobre coisas banais, mas era o som que mais amei em toda a minha miserável vida, era minha âncora, era minha música preferida.

O único que me regou, que amou minha flores, que não me deixou quando minha folhas caiam, o único que cuidou e apreciou minhas sombras e não fugiu. Eu era uma árvore sofrida e ele me tornou nobre e grande.

Era como se o seu verão invadisse o meu inverno e descongelasse todos os meus sentimentos, e fizesse brotar flores e pássaros. Ele era meu sol, ele, e apenas ele.

Mas então as peças se mexeram, e a chuva se transformou em tempestades, a vida moveu sua peça mais dolorosa, causando a tão falada melancolia, e apagando meu sol, esfriando meu verão enquanto meu inverno voltava e destruía a nos dois. Minhas flores murcharam e meus galhos quebraram, eu voltaria a ser uma árvore coberta pelos pássaros cruéis, que comiam minhas esperanças.

As minhas folhas que choram.

Não havia saída, não havia mais peças, estava encurralada. Como esperado eu fui enganada mais uma vez, ela me fez conhecer o amor, me fez conhecer o calor do verão, me fez sentir, para depois me tirar aquela chama e rir sobre o tabuleiro enquanto eu chorava, mas dessa vez, chorava de uma tristeza intensa, daquelas que o peito aperta o coração e se transforma em um nó na garganta, aquela onde meu choro virou soluços doloridos e abafados, onde nem meus olhos conseguiam ficar abertos, pois, não havia conforto em nada, onde minha mente me fez de prisioneira.

Dessa vez eu não estava em um buraco escuro, mas em uma chuva eterna.

Eu me tornei um salgueiro chorão, onde nem um poema que iluminassem corações sofridos levantassem minhas folhas magoadas.

Minha peça no tabuleiro, caiu, e não havia nada a fazer a não ser sentir a água cair e levar minhas últimas lágrimas.

A vida o levou embora, e a morte me convidou para jogar. Mas eu esperei, e esperarei a misericórdia dela para que me traga o último gosto doce de viver, ou então, mais uma vez, nesse jogo de xadrez, não será eu a ganhar.

E então..

O jogo cruel finalmente, Termina.

E terei sido a Árvore que chora e se contorce sobre a poça de tristura.

Lágrimas e Vidro Para o JantarOnde histórias criam vida. Descubra agora