Efeito Borboleta

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Eu tenho um velho hábito de rabiscar meus cadernos e escrever frases aleatórias em páginas quaisquer, passatempo este que eu estava colocando em prática quando te conheci. Acho que nesse dia uma borboleta bateu as asas do outro lado do mundo e iniciou esse furacão tão repentino que se formou na minha vida.

A minha caneta azul caiu no chão no instante em que você passava por mim. Pude ver seus pés parando ao meu lado, suas mãos ágeis pegando-a e colocando de volta em cima do meu caderno sob a mesa. Foi nesse momento em que ergui o olhar para o par de olhos castanhos que me encaravam.

Jamais esquecerei o brilho que havia neles, e o quanto ele refletia o brilho que também estava contido em mim. Jamais esquecerei os sorrisos que trocamos, a hora exata em que me apaixonei por você e o laço instantâneo que se formou entre nós. Você mudou a minha vida com os seus olhos brilhantes. Se tornou meu melhor amigo quando tudo o que me rodeava era apenas solidão, foi o amor ardente nos dias frios, a calmaria em meio ao caos, foi todas as coisas que se ausentavam de mim.

Juntos pintamos as mais belas cores do céu. Jovens e eternamente felizes. Eu te amei o bastante para abandonar tudo por você. Tracei planos novos, me adequei à sua vida, conheci lugares, conheci novas pessoas, meu endereço e profissão já não eram mais os mesmos, eu me tornei outra pessoa, alguém com quem você quisesse estar o tempo todo. Deixei o meu mundo para viver apenas no seu; para viver apenas por você. Em meus sonhos, isso teria sido recíproco, mas você não foi capaz de fazer o mesmo, não escolheu continuar vivendo, nem sequer por mim. Eu notei o sofrimento oculto pelo seu impecável olhar brilhante e tentei salvá-lo a cada minuto, sem cessar, e ainda assim você escapou em milésimos de segundos. Eu vi a luz ser apagada de seus olhos castanhos, e foi a dor mais terrível que já senti.

Eu não o culpo pelos infortúnios que caíram sobre nós, simplesmente sinto-me sufocada pela sua partida todos os dias quando acordo, e não posso mais permanecer nesse lugar vazio sem os seus abraços firmes, meus eternos alicerces. Você é o amor que eu guardo nas reticências, pois se nele houver um ponto final, o fim definitivo será decretado para mim também.

Eu nunca imaginaria que nosso destino seria esse. Você se foi e levou consigo o mundo que sustentava para nós. Agora, eu já não sei mais quem sou, não sei onde estou, a minha capacidade de adequação se esvaiu, não possuo mais um lar e não sei como irei construir um sem que haja a sua presença nele (sequer tenho forças para tal).

Me faço as mesmas perguntas constantemente: será que a vida seria diferente hoje se aquela caneta azul estivesse firme em minha mão? Será que ela já estava registrando o desfecho pesaroso de nossa felicidade? Não consigo compreender como uma caneta tão insignificante pode ter me proporcionado a melhor fase que vivenciei e, posteriormente, ter destruído toda a minha vida. Jamais irei obter respostas.

— O quão atroz pode ser o Efeito Borboleta?

Lágrimas e Vidro Para o JantarOnde histórias criam vida. Descubra agora