Fogo e Vento

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Há o vento que trás me cobre com gélidas tristezas, ventos azuis, névoas cinzas e noites negras. Há o vento que trás me cobre com liberdades efêmeras, flores brancas, sol laranja e dias radiantes. E há também, o vento que me parte ao meio, me despindo e expondo meus infinitos vazios, chuvas tempestuosas, uma mente inquieta e uma tarde silenciosa.

 E então, fecho as persianas para que o vento não entre e observo por entre o vão as árvores balançarem furiosas, folhas caindo com brutalidade, minhas flores brancas arrancadas do chão, a névoa cinza rastejando para seu destino e a chuva tempestuosa chegar. Observo minha mente inquieta ondulando no meu oceano de lamentações infinitas, tsunamis raivosos de tédio subindo e devastando minha calmaria, minha cidade ensolarada. Meu coração bate forte em meu peito, como uma música agitada antes da guerra, entre espadas e angústias, meu cérebro chora e lateja, não sinto o rio que me desce as bochechas, pois o vento lá fora ameaça minha janela.

Há o vento que trás me cobre com medo quando estilhaça minha janela, minhas persianas fortes e valentes que balançam em sua guerra, falham, e me deixam ser envolvida no caos de gritos, lamentações, tristezas e mágoas, ferindo-me ate que minha alma implore silenciosamente para ser salva, mas deus não esta aqui agora, o diabo certificou-se disso, e agora sinto o inferno queimar meus olhos com seu fogo ardente, queimando, queimando e queimando quem eu sou. As persianas falharam em me manter a salvo da tragédia que ocorria la fora, falharam em manter o vento longe, e todas elas vieram furiosas e me engoliram me levando para o pandemônio, a balbúrdia que ignorei, me levando para dentro de mim.

Há o fogo que trás me queima com volúpia, ardência e fúria. Há o fogo que trás me queima com plenitude, numa armadilha e astúcia. E há também, o fogo que me destrói pessoalmente, com seus chifres e artimanhas, quem sempre sussurrou em meus ouvidos e me levou a perdição.

As persianas que dançam em sua derrota, sinto que o vazio foi preenchido com a confusão de quem eu sou, espiando por suas fendas e clamando por uma parte de mim que se foi, entregue e completamente perdida no tempo que não posso voltar. Choro e observo por entre as persianas penduradas e estilhaçadas, a semelhança que tínhamos e noto tristemente por entre suas fendas a escuridão que se instalou, pegando fogo em suas beiradas queimando a minha outra parte que restou. Os meus olhos fecharam assim como as persianas que se enrolaram e derreteram no crepitar do fogo ardente, não haveria janelas para elas, não haveria quem olhasse por entre elas, não haverá a mim para proteger, pois fui tomada e transformada em pó.

Há o fogo que trás o vento que me leve.

Lágrimas e Vidro Para o JantarOnde histórias criam vida. Descubra agora