Nostalgia

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Recordo-me de nossa velha casa de madeira, certamente o lugarzinho mais adaptável que já conheci, nunca se tornava desinteressante. Eu me deleitava nas mais diversas circunstâncias que nos ladeavam e naqueles seus abraços matinais, aconchegantes e calorosos como o verão, sempre afastando o inverno que insistia em adentrar a nossa pequena porta. Também me lembro do ambiente preenchido com o cheiro do café doce que você tanto amava, juntamente com um leve resquício da fumaça daquele charuto de todas as tardes na grande poltrona, que se dissipava pela sala.

Recordo-me ainda de quando você saía para garantir que nada nos faltasse, para que nada me faltasse. Era essa a sua forma mais silenciosa de demonstrar o amor que sentia; cuidados emanavam de suas ações espontâneas. Eu passei a ponderar tudo isso na mesma medida em que a infância e a inocência me abandonavam, mesmo quando você dizia que eu seria sempre a sua "linda menininha risonha". Então, aprendi a te esperar no fim da tarde com um café igual ao de todas as manhãs, e biscoitos que você adorava. Foi a forma, também silenciosa, que encontrei para retribuir o amor que você destinava a mim.

Eu deixei de ser a menininha risonha no dia em que o café e os biscoitos esfriaram e você não voltou para casa; quando pessoas vieram me buscar alegando que eu não poderia viver sozinha, pois ainda era nova para isso; quando nossa pequena casa de madeira foi fechada para sempre.

Eu ainda espero o seu retorno todos os dias no fim da tarde, com os biscoitos e café sob a mesa de meu apartamento, aguardando que você encontre o caminho até mim, que entre pela porta e me abrace novamente, dizendo que me ama e que sentiu saudades do meu sorriso, e tudo seria recíproco, porque eu também te amo e sinto saudades.

Eu continuo aqui te esperando. Uma parte de mim quebra a cada vez que vou para a cama após ter passado toda a tarde observando nosso pequeno lanche se tornar gélido e indigerível, assim como o inverno que em um dia trágico conseguiu adentrar a porta e arruinar nosso lar.

Você poderia, por favor, voltar por mim e me aquecer em seus braços?

Lágrimas e Vidro Para o JantarOnde histórias criam vida. Descubra agora