Capitulo 36

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No décimo dia Alfonso teve a certeza de que estava enlouquecendo.
Não tinha certeza mais se dormia ou estava acordado, até em seus sonhos os irritantes "bips" das máquinas o perturbavam, era como uma sinfonia de morte.

Ele sabia que cada dia a mais era uma chance a menos para ela e seu filho ou filha, que por um milagre ainda estava ali.

Olhava para a mulher que amava definhando naquela cama. Ela obviamente estava mais magra, o rosto extremamente pálido, os lábios secos, os cabelos sem vida. Segurava suas mãos frias, nas tentativas cansativas de preces que pareciam não ser ouvidas.

Com a cabeça baixa, flutuando entre a realidade e a inconsciência, sentiu um tremor leve que não parecia vir dele. Não levantou os olhos, nesses dias não seria o primeiro espasmo muscular que via.
Mas um tremor se tornou um levantar lento de dedo, seguido por uma respiração fraca que parecia tentar inspirar todo o ar que podia.

Levantou lentamente encarando seu sonho. Seu anjo frágil abria os olhos, lutando contra a claridade. Minutos depois, via as piscinas azuis inundarem de lágrimas como se a realidade a atingisse.
Viu as mãos delicadas fazerem um esforço além do normal para chegarem à barriga e foi quando notou o desespero naquele olhar que percebeu que não era um sonho.

Ela havia acordado.

Ele escutou médicos entrando, acompanhados de enfermeiras, a viu ser examinada, assustada sem falar, encarando-o desesperadamente por respostas.

Escutou seu telefone tocar tantas vezes em seu bolso, mas foi incapaz de atende-lo.
Viu também um enfermeiro alto, com um olhar preocupado, pega-lo pelos ombros falando coisas que ele não compreendia. Ouviu a palavra "choque" e sentiu seu corpo ser arrastado para fora daquele quarto.

Tudo isso pode ter durado 5 segundos como 5 horas. Ela havia acordado, era o que se lembrava. Tudo ficaria bem, não ficaria?

                                        xx

Ian: Não me diga que agora o paciente é você? - debochou entrando no quarto onde Alfonso se encontrava, enquanto recebia uma bolsa de soro pelo acesso venoso. - acho que Ana Pau tem razão, você está realmente velho.

Alfonso: Vai se foder Ian. - resmungou apertando o botão que chamava a enfermagem. - preciso tirar essa coisa, Anahi deve estar confusa, eu tenho que...

Ian: Descansar, você tem que descansar. Anahi está bem, acabou de ser examinada, está consciente e pediu que cuidassem de você. Sinceramente, eu não voltaria à aquele quarto a menos que esteja 100%, ela não precisa te ver desmaiando igual uma moça.

Nina: O que disse machista? - questionou indignada entrando no quarto. - apenas mulheres podem desmaiar? Oi Poncho, se sente melhor? - viu o moreno assentir - que bom! Não se preocupe ela está bem.

Ian: Oi amor, eu só estava explicando que - viu a sobrancelha da esposa arquear automaticamente e percebeu que justificar era uma perda de tempo - nada, você tem razão. Vamos?

Alfonso: Onde vocês vão?

Ian: Já está com saudades? - riu alisando o braço do amigo - eu só vou buscar Manu e Emi, volto já amor. - respondeu recebendo uma revirada de olhos em resposta.

Os meninos estavam durante todos esses dias com a tia Marichelo que entendeu que o melhor que poderia fazer era se dedicar aos sobrinhos como sua irma gostaria, enquanto Alfonso velava seu sono no hospital, as crianças eram cuida das e acolhidas pela tia que realmente parecia ter aderido à trégua.

Alfonso: Quando chegar, traga eles para mim, quero preparar algo especial.

Ian e Nina apenas assentiram e saíram dali, o deixando sozinho com suas ideias e um sorriso de esperança.

                                         xx

Precisamos falar de duas pessoas que estavam em outro país, mas que fazem parte do desenrolar dessa história.

Diana, com o choque da revelação de que Anahi estava grávida, precisou voltar ao seu tratamento. Ela não era burra, sabia quando estava prestes à perder o controle e não queria, não dessa vez, que isso acontecesse.

Se sentiu culpada por ter soltado todas aquelas informações sobre o relacionamento do ex com Anahi. A intenção era apenas fazer com que o escândalo afetasse Manuel Velasco e que ele de alguma forma interferisse no conto de fadas patético que estava se formando.

Obviamente ela não contava com um bebê.
Ninguém contava.
Aparentemente essa informação não havia chegado a público, ainda.
E foi nesse dilema entre a raiva e a culpa, que chegou ao consultório de sua terapeuta e desabafou por horas.

Viu-se a necessidade de trocar a medicação e ela começou ali um novo tratamento.
O pânico de que Alfonso soubesse do que ela foi capaz se instalou de tal forma, que se viu apagando todos os registros, e-mails, fotos. Tudo que a ligasse à tragédia que se sucedeu.

Podia ser apenas amiga de Alfonso, afinal esse foi o papel que ela mais exerceu desde que se conheceram, mas definitivamente não saberia lidar com o desprezo, a raiva e a repulsa dele, nunca.

Já Velasco, ficou furioso ao ver as manchetes que mais uma vez levantavam dúvidas sobre sua sexualidade e escancaravam o caso entre sua ex mulher e Alfonso. Isso era péssimo para sua imagem, mas pior ainda agora que ele estava prestes a se candidatar à presidência.
Estava pronto para fazer Anahi pagar, quando de forma milagrosa viu a oportunidade perfeita para se vitimizar e cair nas graças do pobre povo mexicano.

Com a notícia do acidente, Manuel concedeu diversas entrevistas totalmente devastado, fazendo o papel perfeito de um quase viúvo.
Reforçava que Anahi havia sido seu grande amor e que a dor de saber que ela estava naquele estado era quase sufocante.

Chorou, fez campanhas promovendo preces à sua ex mulher, foi à programas de tv e com esse feito, viu sua posição disparar em relação aos outros candidatos na preferência do povo. Era perfeito afinal.

A notícia de que ela acordara veio durante uma entrevista, quando ele como um perfeito ator chorou e abraçou o repórter, comemorando por fora o que era totalmente indiferente por dentro.

Se ela morresse, ele seria sem duvidas o próximo presidente do México.
Com ela sobrevivendo, bom, era indiferente. Sua imagem havia sido limpa, não precisaria lidar com as duas crianças que tomariam mais seu tempo do que gostaria e ainda tinha grandes chances de ganhar a eleição e demonstrar maturidade.

Tudo parecia finalmente se encaixar.

                                   XX

A primeira coisa que Anahi viu assim que a porta se abriu foram balões. Muitos balões, coloridos e com glitter.
Olhou pra baixo e viu cabecinhas loiras segurando cartazes que diziam: "Te amamos mamá"
Ao levantar o olhar já emocionada, viu seu grande amor, parado segurando as mãos de seus filhos, com olhos que refletiam os dela: transbordantes.

Desde que acordara e a confusão passara, só quis saber de três coisas, como estavam seus filhos (os três), como estava Nina e sobre Alfonso, em que estado se encontrava.

Soube que todos os seus filhos estavam saudáveis, inclusive o da barriga e suspirou aliviada.

Depois viu Nina com os próprios olhos, apenas com algumas marcas na pele que já eram quase imperceptíveis. Ali choraram e se abraçaram, reconhecendo que haviam nascido de novo juntas, um laço maior ainda se formava naquele momento.

Por fim, soube que Alfonso não saiu por nenhum momento do seu lado, o que explicava os círculos escuros ao redor dos olhos verdes que tanto amava. Viu que parecia magro e abatido, podia imaginar o susto que havia levado e que esses dias não foram fáceis.

A surpresa se deu ao saber que a irmã estava na cidade e que a ela que Alfonso haviam se permitido até uma trégua. Isso era realmente uma grande novidade.

Será que agora sua vida finalmente estaria voltando aos trilhos?

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⏰ Última atualização: Aug 29, 2021 ⏰

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