Capítulo 2

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Ian: Bem vinda de volta baby! - a recebeu com um abraço caloroso no aeroporto internacional de Los Angeles, enquanto se apressava em ajudá-la com as malas. - O divórcio te fez maravilhas, já faz 2 minutos que estamos aqui parados nesse saguão e você nem reclamou da temperatura ainda.

Anahí: Ian estou LIVRE, meu cabelo está hidratado, sigo rica, meus filhos estão saudáveis e em segurança e não tem 5 brutamontes em volta de mim agora como costumava ser. Eu estou me lixando para o clima.

Anahí era feita de extremos, amava dias ensolarados e a sensação da vitamina D sendo absorvida por sua pele e se deliciava com a neve, que deixava seu nariz um pouco dormente e a lembrava de Manu, que amava observar os flocos caírem pela janela enquanto segurava seu Olaf e cantava "Let It Go".

Los Angeles em abril era apenas, meio termo. Aquele nublado sem graça, nem frio nem calor, entediante. Mas nem isso poderia diminuir a felicidade de estar finalmente em casa, longe de todo o seu passado e pronta pra correr atrás do que nunca deveria ter perdido.

Ian: Desistiu de trazer os meninos? - perguntou enquanto caminhavam para o estacionamento.

Anahí: Não, mas com a mudança, achei melhor me restabelecer primeiro e planejar tudo para a chegada definitiva deles. Estão com Mac e você sabe como aqueles dois ficam com Pato e Santi, provavelmente nem se deram conta ainda de que eu não estou lá. Foram 23 horas de trabalho de parto de um, 20 pontos do outro para esquecerem que tem mãe, vou te contar... - bufou enquanto se lembrava dos filhos, o coração já apertado de saudade, mas fazendo o que sabia que seria melhor por hora.

Ian: Ok passarinho, tenho uma notícia que talvez me faça perder as bolas - avisou enquanto Anahí se preparava para questionar com o cenho franzido - Antes de qualquer coisa, EU TENTEI! Mas, infelizmente o apartamento da cobertura já havia sido alugado e ao que me consta o atual inquilino pagou adiantado por 12 meses. Nem com suborno, cara de mau ou meus belos olhos azuis conseguiu fazer com que o proprietário mudasse de ideia. Maaaaas... - cortou antes que ela tivesse a chance de protestar - O de baixo é tão grande quanto, está finalmente decorado e tem a mesma vista, seja razoável e não saia da sua vibe, você não perdeu grande coisa.

Anahí: Ian me deixe ser clara porque estou zen e pretendo continuar, mas parece que você torna essa missão impossível - respirou fundo e continuou - Eu queria a cobertura pela piscina, meus filhos amam piscina, eu prometi ao Manu uma piscina e eu não quebro minhas promessas.... Mais. - acrescentou quando viu a sobrancelha do outro arqueada com um ar de ironia - Então serei breve, faça brotar uma piscina ou você está demitido.

Ian: Não estou não! - riu descarado - Anahí engole esse capricho, você nem viu ainda o imóvel, eu não conseguiria nada menos do que o melhor pra você.

Anahí: O melhor pra mim era a cobertura, fui específica - cortou.

Ian: Você precisa transar.

Com esse comentário Anahí virou o corpo no banco da SUV para encarar atônita um Ian que ria abertamente da expressão de choque dela.

Anahí: Ian é você nunca mais vai transar se continuar de boca aberta, porque eu vou cortar seu pau e mandar de presente pra Nina com um laço.

E continuaram entre implicâncias e brincadeiras, como só eles se entendiam.

A relação era leve, extrema intimidade, cabeças muito parecidas, Ian talvez fosse uma das poucas pessoas em que Anahí confiava depois de tudo.

No início foi atração física, se conheceram em um bar em uma das estadias de Anahí em LA, conversaram até amanhecer, flertaram e até houve um beijo, que encerrou antes do previsto porque estavam ambos bêbados demais para qualquer coisa.

Um encontro casual virou dois, que viraram três e que resultaram em dias fixos para "beber até cair ou soltarem os segredos"

O primeiro a contar foi Ian. Havia perdido sua esposa Nikki e a filha Marie Rose em um acidente de carro, 6 anos atrás e vivia um dia de cada vez tentando fazer doer menos, tentando lembrar-se como respirar. Coincidências à parte, o dia do enterro foi o mesmo do casamento falso de Anahí. Era sombriamente cômico pensar que ambos morreram um pouco naquele mesmo dia.

É o que dizem, a dor aproxima mais do que o amor e ao perceberem o quanto tinham em comum, pouco a pouco sentiram segurança de se abrirem um ao outro e criaram ali laços inabaláveis de amizade que perduravam até hoje.

Anahí confiou tanto em Ian que lhe confiou suas finanças pessoais as quais administrava com maestria, fazendo-a dobrar sua fortuna, investindo em bons negócios, garantindo que não precisaria se preocupar nunca mais com dinheiro.

Ian era sócio fundador da Pegasus que era atualmente uma das maiores empresas de investimentos imobiliários nos EUA e em expansão para a América Latina. Construiu seu pequeno império na garagem de sua mãe e não parou até conseguir. Quando se casou com Nikki a empresa estava começando a decolar, poucos meses depois veio a notícia de que Marie Rose chegaria a esse mundo e ele não poderia ser mais feliz. Dois anos depois foi quando tudo desmoronou, estava em seu escritório terminando de avaliar alguns relatórios, atrasado para o jantar com Nikki. Ligou para a esposa pedindo que o encontrasse direto no restaurante ao invés de buscá-la em casa, pouparia tempo e não perderiam mais horas no processo. Falava no viva voz enquanto trabalhava, Nikki já estava em direção à casa da sogra que ficaria com a filha para que pudessem ter um bom momento a sós. Era uma noite para comemorar. Ian conseguira fechar o primeiro contrato milionário da empresa de um processo que já durava sete exaustivos meses. Enquanto detalhava por telefone como foi a reunião, de repente ouviu um som alto seguido de gritos. Gritos que gelaram seu sangue, gritos de sua filha. Sentiu-se quase morto naquele momento, sabia que algo terrível tinha acontecido enquanto gritava a plenos pulmões por Nikki. Correu desesperado para o elevador enquanto continuava a chamar o nome da mulher e em resposta apenas mais gritos. Entrou no elevador completamente sem ar no mesmo instante em que seu mundo parou. Escutou o barulho ensurdecedor de uma explosão e teve certeza ali de que seu coração nunca mais bateria novamente. Depois foi só silêncio. Mais precisamente 365 dias de silêncio. Em silêncio chegou ao hospital, em silêncio assinou a papelada dos óbitos. Completamente mudo permaneceu no enterro e nos muitos dias que se seguiram.

O único momento em que emitia qualquer som era nas madrugadas, quando gritava em seus pesadelos frequentes.

Chorou em silêncio, se isolou, sofreu seu luto por um ano, até que no 366º dia definiu que voltaria a lutar por sua empresa como uma promessa tardia à família que perdeu.

Afundou-se em trabalho, dormia pouco, não socializava nunca, bebia um pouco demais, mas retomou com o triplo da determinação as rédeas da Pegasus e cinco anos depois aqui estava, sólido como uma rocha e inabalável como só quem não tem mais nada a perder pode ser.

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