Capítulo 6

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O resto da noite foi um borrão. Alfonso tentava se entrosar e esquecer por algumas horas o que tinha descoberto no lavabo. Todos bebiam mais do que comiam, exceto Anahí, obviamente. Logo estavam alegres e contando histórias do passado, rindo tanto de certa vez em que Christian teve problemas intestinais em pleno vôo, ou de quando Maite tropeçou e foi de cara no chão em um show na Sérvia. Riam de chorar e se conectavam como se o tempo não tivesse passado.

Maite: Ah, mas teve aquela vez em que Poncho e Anahí ficaram presos no banheiro do hotel e quase perdemos o vôo, Oso teve que derrubar a porta e o hotel quis cobrar uma multa monstruosa por destruir a propriedade. - ria colocando a mão na barriga - Any, você lembra que você saiu de lá estapeando o Poncho e Pedro teve que intervir?

Christian: Eles viviam se estapeando, era o inferno. - acrescentou rolando os olhos.

Anahí: Poncho vivia a vida para me perturbar, o que vocês queriam que eu fizesse? Lhe desse flores? - se defendeu óbvia.

Alfonso: Não é verdade e você sabe que quase sempre quem provocava a briga era você - acusou secando os olhos com as lágrimas que insistiam em escapar de tanto riso.

Anahí: Eu provocava? ALFONSO larga de ser mentiroso, que eu me lembre foi você que deu uma crise de ciúmes sem sentido em São Paulo quando Rodrigo chegou de surpresa.

Christopher: Isso é verdade, você ficou azedo por uma semana dando patada em todo mundo.

Dulce: Eu que o diga.

E todos continuaram naquele looping de lembranças por horas. Claramente não havia espaço para os parceiros, que apenas observavam à margem, enquanto aquele reencontro acontecia.

Ao final da noite se abraçaram, pediram perdão, lágrimas foram derramadas, promessas foram feitas de nunca mais se afastarem. Era uma nova chance para uma amizade que nunca deveria ter sido rompida. Sem interesses por trás e nem nada além de uma relação saudável sendo reconstruída. Era bonito de se ver.

Com o passar dos dias, era comum se falarem diariamente pelo grupo de WhatsApp.

Mandavam fotos dos animais, dos filhos, até das plantas. Riam de um tweet desesperado de um fã, comentavam alguma piada interna. Era tudo muito leve.

Em janeiro veio o nascimento de Emiliano e todo o grupo felicitou Anahí, menos Alfonso. Não era por mal, ele desejava tudo de melhor aos filhos dela, simplesmente não conseguia verbalizar isso ao se lembrar que eram filhos do Velasco. Era uma ferida exposta demais.

Os meses vieram e com ele a pandemia do Covid-19 e foi aí que Anahí se surpreendeu. Um belo dia viu seu nome envolvido em uma polêmica sem sentido no Twitter, sobre o vídeo de uma receita de quase um ano atrás e com maestria soube levar a situação, dando a volta por cima com muito humor. A surpresa sucedeu em ver quer Alfonso, sim, Alfonso, havia publicamente a apoiado.

Foi uma brincadeira tão simples para alguns, mas para ela foi como um choque de adrenalina. Alfonso que debochou dela por vezes, que a ignorou outras tantas, estava ali, publicamente defendendo-a a seu modo. Era significativo demais e ela não deixou passar despercebido.

Quando abriu o WhatsApp para agradecer, já estava lá, uma notificação não no grupo, mas no privado, dele elogiando-a pelo jogo de cintura e pedindo dicas de como lidar com a internet.

"Ora ora, parece que o jogo virou não é mesmo?"

Dali a conversa se estendeu até a madrugada, passando por temas como filhos, carreira, até chegar ao ponto de brincadeiras e recordações comprometedoras.

Anahí: Isso não muda o fato de que meu primeiro orgasmo foi em um backstage.

Alfonso: Não foi no hotel em Cancún? De qualquer forma, não me lembro de você reclamar nenhuma vez.  - respondeu imediatamente, os olhos vidrados no celular.

Cada vez caminhavam para um terreno mais perigoso. Acabou virando uma rotina, se falavam no grupo, mas mantinham uma conversa paralela no privado que sempre acabava em lembranças desse tipo.

Anahí se sentia revigorada, falar com ele tinha esse poder. Procurava levar tudo com divertimento, com cuidado para não ultrapassar a linha tênue entre o perigo e o sadio. Flertar nunca matou ninguém não é?

Já Alfonso não tocava mais na esposa. Uma crise violenta se abateu sobre o casamento, estavam na mesma casa, passando a quarentena juntos, mas se revezavam com Dani, cada um em um cômodo evitando trocar palavras e se encontrarem.

Tudo isso pela discussão que veio no dia seguinte ao reencontro.

Diana: VOCÊ GARANTIU ALFONSO! VOCÊ GARANTIU QUE HAVIA SUPERADO! Foram ANOS, construímos uma FAMÍLIA, limpei todas as suas lágrimas e cuidei da sua insônia, catei todos os cacos que essa mulher deixou. Eu mesma ouvi todas as vezes que você amaldiçoou a ela e a merda em que havia se metido, deixe-me lembrá-lo, por conta própria. Ingenuamente a recebi em minha casa porque eu realmente acreditei que não havia mais perigo. Agora olhe só pra minha cara de trouxa, vendo você, agir feito um adolescente nervosinho pela namoradinha na frente de todos os seus amigos, NO MEU TETO. - gritou a plenos pulmões. Dani que estava na casa dos avós não precisaria presenciar aquela cena, mas ela não podia mais guardar, foi uma noite vendo-o revirar na cama por conta dela, aí já era demais.

Alfonso: Diana eu já disse que você está deixando suas inseguranças te pregarem peças - murmurou cansado - somos apenas amigos, muito tempo se passou. É normal que eu fique um pouco inquieto.

Diana: Ah sim, inquieto seguindo-a com os olhos a todo o momento? Inquieto sem conseguir dormir pensando nela? Inquieto quando caiu finalmente no sono e murmurou o nome dela na minha cama? Me diga Alfonso, você fica nesse estado por todos os amigos que não vê há muito tempo?

E ele cansou da discussão, por não ter argumento para respostas e pela culpa que o corroía.

Estava farto de negar para si mesmo o sentimento que ele tentou abafar por anos. Passou por todos os estágios: a negação, o ataque e a indiferença. E Diana sempre esteve ali, disposta, compreensiva, altruísta. Realmente ela havia cuidado e aceitado ele do jeito que chegou totalmente quebrado. Ele era grato, mais do que grato, sentia-se em dívida eterna com ela, não só por isso, mas por ter lhe dado Daniel, que era a luz de sua vida.

Mas ultimamente isso não era o suficiente. A admiração não se transformava em amor, ficavam apenas nesse limbo de emoções superficiais e como dito anteriormente, ele estava farto de fingir. Por isso apenas se virou, pegou as chaves do carro e saiu sem rumo. Não voltou para casa aquela noite e foi quando Diana entendeu que era o começo do fim.

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