Capítulo 4

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Alfonso correu para atender. Sentia-se como um adolescente, cada nervo de seu corpo apontava que era ela que estava ali do outro lado da porta.

Levantou-se tão abruptamente que interrompeu a conversa e esbarrou em sua esposa sem perceber, quase a derrubando do braço do sofá. Parecia afobado, desesperado e de fato, se sentia como quem vai tirar o pai da forca. Todos ali notaram sua reação, mas acostumados com a relação de Anahí e Alfonso, não esperavam nada diferente. A única que parecia confusa era Diana, observando a cena quase em câmera lenta bem diante de seus olhos.

Levou tudo dele para não escancarar a porta, precisava manter a compostura. Era um ator, não deveria ser tão difícil. Prendeu o ar como quem vai descer em uma montanha russa, esperou um minuto com a mão na maçaneta e finalmente abriu, fazendo um clique alto e revelando um anjo.

Foi exatamente o que ele viu. Pele luminosa, cabelos sedosos, olhos que pareciam oceanos. Aqueles olhos que tantas vezes o assombraram em seus sonhos, agora o observavam arregalados. Alfonso viu os olhos dela marejarem, o que resultou nele uma reação parecida, eram como um espelho. Um breve sorriso surgiu nos lábios de Anahí e ele quis beijá-la ali, naquele minuto. Precisou lembrar-se que o tempo havia passado que era casado, feliz. Que um abismo os separava. Estranho... Pela primeira vez em 8 anos sentiu-se em paz, apenas por ver aquele pequeno sorriso e mesmo se esforçando não pode evitar. A puxou pelo braço para um abraço saudoso, onde antes mesmo do corpo magro, o cheiro o atingiu com força inebriando os sentidos.

Quando finalmente chegaram a se abraçar de fato, depois de alguns segundos ele sentiu. Isso era uma vibração? Seria possível que o coração dele estivesse batendo tão alto que vibrava em seu corpo?

Foi quando ele a ouviu dizer baixinho:

- Parece que Emi gostou de te conhecer. - e deu uma risadinha olhando a barriga entre os dois.

Alfonso naquele instante voltou à realidade instantaneamente. No calor da emoção nem havia percebido que ela estava redondamente grávida, coisa que obviamente ele já sabia, apenas tinha se esquecido. Olhar pra ela fazia isso, uma amnésia imediata nele. Mas era impossível fingir que ela não estava ali na distância de um abraço, mais linda do que ele achava possível e com um filho prestes a nascer, filho esse que não era dele.

Ah o karma!

Forçou um sorriso mecânico, afastando um passo para que ela pudesse entrar, tentando se reorganizar enquanto automaticamente apresentava a esposa que já esperava atrás dele com um semblante aflito por Anahí.

Alfonso: Essa é min... Diana. Diana, essa é Anahí. - apontou de uma a outra sem prestar muita atenção no que fazia. Sua mente ainda girava em assimilar Anahí, grávida de outro homem, em pé no meio de sua sala.

Anahí: Agradeço muito por me receber essa noite, trouxe essas flores para você, espero que goste de orquídeas. - disse entregando a outra o presente.

Só então Alfonso voltou sua atenção para o pequeno vaso que Anahí carregava. Riu ironicamente para si mesmo, é claro que ela daria um jeito de deixar algo ali na casa dele que o lembrasse dela, as flores favoritas dela, o cheiro da casa dela. Como se ele precisasse de mais lembretes.

Enquanto Alfonso se perdia em pensamentos, não notou que Diana respondia Anahí com uma educação forçada, quase ensaiada. Também não notou ela se virar com as mãos apertando o vaso tanto que os nós de seus dedos ficaram brancos. Não notou o semblante transtornado da esposa enquanto levava as benditas orquídeas para a cozinha.

Uma pena, ele nãonotou.

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