Capítulo 3

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Bem distante dali, Alfonso ainda pensava na mensagem absurda que havia recebido. O atrevimento em mencionar Diana foi típico de uma Anahí de 2011. Ela adorava brincar com a mente dele e ele sabia que não estava mais tão imune como esteve nos anos de distância.

A verdade é que após aquele maldito poadcast, sua segurança desmoronou em questão de segundos e as reservas não existiam mais. Não sabia que precisava ouvir um pedido de desculpas até ouvi-lo. Foi quase que instantâneo, menos de meia hora depois estava ligando para Christian e com a cara mais lavada do mundo querendo marcar um reencontro com todos.

Tudo foi ainda mais rápido após isso. Christian criou um grupo, Alfonso deu as coordenadas do dia e endereço, mas ele estava inquieto. Todos falavam e confirmavam menos ela. Ela que fora o motivo de tudo isso e em nenhum momento se pronunciava no grupo carinhosamente intitulado como "Los sin derechos".

Quando não podia mais conter a ansiedade, resolveu ligar. Afinal, se vale a pena fazer, vale a pena fazer bem feito.

Foi no segundo toque em que ele pode soltar a respiração que nem percebia estar presa.

- Pronto. - respondeu Anahí do outro lado, não parecia perceber com quem estava falando, Alfonso até ouviu brevemente ela repreender o que parecia ser uma criança, provavelmente Manuel seu filho, enquanto repetia - Olá?

Alfonso percebeu que não havia respondido e se apressou a tentar deixar o clima leve, precisava que ela fosse ao encontro, precisava disso como o ar que respirava.

Alfonso: A faceta mãe é realmente enlouquecedora não é?

Na primeira palavra Anahí percebeu com quem falava e nem precisou olhar o visor para confirmar o número. Obviamente Christian a havia preparado pra aquilo, ela só não esperava que ele fosse ligar, era um tanto quanto, surpreendente se tratando dele.

Anahí: Você não sabe o quanto! Experimente fazer uma criança de 2 anos tomar banho enquanto você tem uma pança enorme no meio do caminho. - riu enquanto acalmava a respiração, afinal, era apenas Alfonso, tentava se lembrar.

Alfonso: Então posso supor que é por esse motivo que você foi a única a não responder o grupo e a não confirmar a presença no nosso jantar certo? Sem mais motivos obscuros por trás? - questionou.

Anahí: Não há nada tão obscuro que possa me impedir de estar lá. - respondeu brincando com o sentido das palavras, afinal realmente havia milhões de motivos obscuros para não ir, mas ela derrubaria cada um deles porque já estava farta.

Alfonso: Ok então, te esperamos. E espero que não seja um problema que seja aqui em casa, você sabe, achei que poderia ser mais íntimo dessa forma, sem paparazzi e com mais privacidade.

Anahí: Problema nenhum. Espero que sua esposa não se sinta desconfortável com minha presença, porque ambos sabemos que ela não era exatamente minha fã. - devaneou tentando de certa forma sondar o terreno.

Alfonso: Jamais, já faz muito tempo, estamos felizes em receber... Todos. Combinamos os detalhes pelo grupo? - cortou. Era um caminho perigoso aquele.

Anahí: Ok! - E desligou antes que ele tivesse a chance de falar mais alguma coisa.

Definitivamente, quanto mais você fala do monstro embaixo da cama, mais real ele se torna.

Após aquela breve conversa tudo fluiu. Anahí que já tinha um vôo agendado de LA para a Cidade do México para seus exames pré natais, conseguiu alterar o vôo de volta permitindo a presença no jantar.

A mídia não sabia, obviamente, mas Anahí vivia em Los Angeles com o filho Manuel e vinha ocasionalmente para o México em datas importantes e eventos políticos. A esposa perfeita entrava em ação, fazia meia dúzia de fotos para o catálogo anual de feriados e voltava correndo para Los Angeles, tentando ficar o mais longe possível de seu adorado esposo Manuel Velasco, agora ex-governador de Chiapas.

O casamento era uma farsa e isso sim não era segredo para ninguém. A mídia especulava, o PRI calava. O contrato garantia 8 anos e 2 filhos. Cada vez que um boato de divórcio e sobre a homossexualidade de Velasco surgia, o prazo aumentava para despistar a imprensa. Deveriam estar "felizes e plenos à espera de seu segundo filho, Emiliano" para abafar qualquer rumor. Era desgastante, mas finalmente estava chegando ao fim e Anahí finalmente poderia seguir em frente e deixar esse capítulo nebuloso para trás.

E foi com essa confiança que ela chegou ao endereço onde muitas vezes esteve, uma vida atrás.

Riu consigo mesma do fato de Alfonso não ter se dado o trabalho de dar à esposa um novo apartamento. Apenas levou-a para seu apartamento de solteiro e pronto. Prático como sempre fora.

No alto de seus sete meses, Anahí brilhava como nunca, não se sabe se pelos hormônios da gravidez ou pela excitação do que estava por vir. Mas ela sabia que estava estonteante e usava isso a seu favor.

Passou pelo saguão, se identificou para um porteiro que a olhava com uma expressão de quem via uma obra de arte e enquanto ouvia o coração bater no peito descontroladamente, subia andar por andar naquele elevador que parecia levar uma eternidade.

Respirou fundo antes de tocar a campainha, podia ouvir as vozes que conhecia tão bem. Estavam todos lá e como sempre, a entrada triunfal seria dela.

Tocou o interfone e aguardou, ouvindo os passos se aproximando.

Seria no mínimo... Curioso.

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