Capítulo 23 - Cura

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Tive um sonho. A casa do meu irmão foi destruída em um terremoto. Ele estava desesperado me dizendo que precisava ir atrás da esposa e da filha. Tentei convencê-lo a esperar que o abalo passe. Porém, eu era quem estava ligando a chave de ignição do carro pronto para correr e buscá-las no coral que sua filha apresentava hoje na escola.

A quem engano? Estou tão desesperado quanto ele.

Fomos na direção da escola. O caminho estava cheio de destroços e pessoas correndo. Eu desviava dos obstáculos como louco.

Terremotos não duram tanto assim.

Uma fenda se abriu, mas não no chão e sim no meio do ar. Era vermelha e brilhava como fogo. Desviei às pressas e bati contra um poste.

– David! David, David.

Minha mão se estendeu tentando alcançar o meu irmão. Alguém a segurou. Era Luna.

– Calma Christopher, você estava tendo um pesadelo.

– Luna, que alívio. Obrigado.

Outro sonho. Ainda estava na caverna onde encontrei minha mãe. Mais uma vez não conseguia lembrar do que se tratava. Entretanto, fiquei com a sensação de que deveria lembrar do que se tratava. Era importante.

Olhei no fundo dos olhos de Luna. Ainda tinha lágrimas no meu rosto.

Quero ter pelo menos uma pessoa para poder conversar.

Confirmei que não tinha ninguém por perto e disse bem baixinho:

– Sonhei com o meu irmão do outro mundo, mas não lembro os detalhes. Só sei que algo terrível aconteceu.

Agora, ela não tinha dúvidas ou fúria. Luna segurou minha mão firme e me consolou.

– Eu sei que você é uma boa pessoa Christopher. Ainda não sei como posso te ajudar, mas eu quero.

– Obrigado Luna, estou feliz de ter você comigo.

Ela sorriu e se abaixou me dando um beijo nos lábios. Retribui e ficamos assim por um tempo. Quando nos afastamos, ela desviou o olhar envergonhada.

– Uhuhuhu! Amor de jovens sempre me dá uma quentura...

Num canto da caverna, o velhinho de antes nos espionava escondido atrás de uma pedra. Ele fungava com o nariz cheio de excitação. Luna correu e lhe deu uma boa pancada na cabeça.

– Seu velho tarado, você espia até a sua neta!

Então ele espiou outras também? Espera... Neta?

– Ai ai, minha netinha querida, você cresceu tão rápido. Como pode tratar o seu avô assim. Esses velhos ossos se estremecem de tristeza.

Ela bateu nele mais uma vez. Suas falas funcionariam melhor se ele não tivesse colocado as mãos para frente se defendendo e "sem querer" tocasse no que não devia.

– Grah, de todos os sobreviventes da vila, você tinha que ser um deles? Que sorte terrível eu tenho.

– Ai netinha, agradeça por ainda ter família nestes tempos difíceis. Somos os sortudos.

Depois de todo esse show, o velho analisou os meus machucados cutucando-os aqui e ali. Seu rosto sério me fez questionar qual era a sua verdadeira personalidade. Parecia uma pessoa completamente diferente.

As feridas já estavam fechadas e somente ficaram as cicatrizes das mordidas no meu ombro e braço. Quando ele cutucou eles, senti dor.

– Ai! Mais cuidado.

– Você tem uma capacidade regenerativa impressionante, garoto. As elfas também ajudaram na sua recuperação. Descanse mais alguns dias e voltará ao normal.

Vejo que tenho que começar a pensar em uma armadura.

– Garoto, se não fosse pelas elfas que você trouxe estaríamos enterrando você e seu pai.

Levei um susto com o que o vovô disse. Não vi meu pai no ataque.

– Aconteceu alguma coisa com ele?

– Ah, depois de que nos separarmos no rio lutamos contra outro Liopleurodon. Que bom que era dos pequenos, era duas vezes o tamanho do seu pai.

Ele deve estar falando daquele peixe que nos atacou no rio, então se chama Liopleurodon.

Aquilo era pequeno? O animal quase arrancou a minha cabeça. O nome soa familiar. Não era um dinossauro marinho? Ah, dinossauros não, por favor. Mal conseguimos lidar com os pequenos.

– Seu pai acabou se machucando e tivemos que tomar abrigo nesta caverna. Estava vazia quando chegamos, mas depois apareceram as hienas. Deve ter sido delas antes do terremoto. O vulcão provavelmente as afugentou, voltaram depois que tudo passou.

Levantei para ver como estavam os outros. Sai mancando e os dois me ajudaram segurando um braço de cada lado.

Esta caverna era diferente da nossa, como uma fenda na montanha com duas paredes retas se apoiando uma na outra formando um triângulo comprido. Pouca luz entrava pela parte superior.

Antes de chegar à saída, encontrei o meu pai. Ele segurava sua cintura enfaixada com folhas e peles como lhe havia ensinado. Com a outra mão comia carne assada na fogueira.

É um milagre que não tenha perdido um pedaço. Alguns dentes daquele peixe gigante devem de tê-lo atravessado.

Alana e Mérida dormiam do seu lado abraçando uma a outra. Queria saber como fizeram para nos curar tão rápido. A menos que não tenha sido rápido.

– Quanto tempo passou desde a luta?

– Só uma noite. Ayka, Dahlia e Kadu estão lá fora vigiando no caso das hienas voltem a atacar.

Atéque em fim descobri o nome de um deles. Então, o menino se chamava Kadu. Agorasó preciso descobrir o nome do velho.

Transmigrei para a Idade da PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora