Capítulo 28 - Armaduras

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De manhã, no fundo da caverna, me ajoelhei na frente de Luna passando minhas mãos pela sua cintura. Envergonhada, seus olhos azuis piscavam fora de controle tentando se distrais com as rachaduras nas paredes.

Claro que ela queria arrancar minha cabeça pelos atos ousados, mas não havia opção. Ninguém aqui sabia tirar medidas e muito menos o que era uma armadura. Se não fosse feito certo, o traje não encaixaria ou pior, atrapalharia no momento mais inoportuno. Então, a tarefa caiu sobre mim.

Passei a corda mágica ao redor da sua cintura e, com um pedaço de carvão, marquei o couro que tinha do lado preparando o molde para a armadura.

Descobri que, se eu o desejasse, a corda não se esticaria, como se pudesse ler os meus pensamentos.

O que Eleonora pensaria se me visse usando sua criação desse jeito? Ontem tive uma ideia excelente de como usá-la no futuro. Espero que ela goste, onde quer que esteja.

– Christopher, até quando você vai fazer isso?

– Já estou terminando. Você quer sua armadura nova ou não?

– Ugh, tudo bem, mas se apresse.

Luna estava inquieta há algum tempo, mas contive sua ira com minha promessa da nova armadura. A ideia de ver minha nova criação a animava muito e ela estava decidida a passar por qualquer coisa para ver o meu trabalho completo.

Bem, não dá para negar que estou tomando o meu tempo para tirar essas medidas. Quando terei uma oportunidade destas? Hehe.

Vê-la tão obediente era divertido. Para distrai-la listei todos os benefícios da armadura enquanto fazia o meu trabalho e mencionei como seriamos os primeiros seres humanos a usá-las neste planeta. O que mais teve efeito foi dizer como ela ficaria linda com a armadura e que sua beleza passaria para todo um novo patamar.

Tirei as medidas dos demais membros do grupo na privacidade na caverna. Foi muito trabalhoso, principalmente o velho, que ficou fazendo sons como "ohh", "ahhh", "hum", me deixando desconcertado. Meu pai também não parava de apertar os músculos para parecer maior me fazendo errar nas medidas. Esses dois foram os mais demorados.

Era a minha primeira vez fazendo armaduras, porém sabia que o couro diminuiria de tamanho ao secar ficando enrijecido. Depois de perder umidade, os espaços de ar nele diminuiriam contraindo o material. Isso lhe dava a dureza necessária para servir como uma defesa. Por isso, fiz os moldes um pouco maiores do que as medidas que tirei para que sobrasse uma folga.

Cortei as peles com uma faca de obsidiana preenchida de mana e montei as armaduras. O grupo todo ficou ao meu redor me vendo trabalhar. Queriam ver como ficaria o produto final. As roupas deste lugar eram primitivas demais, como de verdadeiros Neandertais. Luna era a única que tinha algo mais moderno.

Com o couro que sobrou, fiz uma segunda camada nas partes do peito, pescoço e braços para reforçar a defesa. Como teste, mais cedo cortamos um quadrado do material e pedi para Luna atirar nele com o seu arco. A cabeça das flechas conseguiu atravessar o material quando era só uma camada. Com duas ele não chegava à pele, mas deixava uma pequena abertura.

Não é a defesa perfeita, mas é melhor do que nada.

Finalizei as peças. Eram meio rústicas, mas me sai bem para a minha primeira tentativa. Algumas partes, como ombreiras e peitoral, foram feitas com pedaços de couro formando uma espécie de escamas de dragão. Essa era uma antiga técnica que vi em um documentário, uma boa forma de aproveitar o couro restante e proteger ainda mais a pessoa.

 Essa era uma antiga técnica que vi em um documentário, uma boa forma de aproveitar o couro restante e proteger ainda mais a pessoa

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As armaduras ficaram incrível! Cobria o corpo dos pés até o pescoço. Assim que entreguei as peças todos começaram a tirar a roupa lá mesmo para colocar as novas. Tampei meus olhos zangado com a falta de noção deles.

– Ei, esperem, esperem! Coloquem encima da roupa que já tem, okay? Isto é só uma proteção.

Dahlia me deu um olhar de cachorrinho abandonado e quase sucumbi.

– Mais irmão, está é muito melhor que a nossa.

– A armadura é diferente da roupa. É só uma proteção. Prometo que vou fazer roupas novas depois.

Assim que se acalmaram, nos vestimos e ficamos lá fazendo poses e testando para ver se estava confortável ou se precisavam de ajustes.

Kai, principalmente, contraiu os músculos a um ponto em que pensei que a armadura não resistiria. Por sorte, fiz a dele um pouco maior do que a dos outros prevendo que algo assim aconteceria.

– Ohhh, sinto que estou forte como um urso!

O vovô Ubirajara também quis se mostrar, mas sendo um velho esquálido e de ossos finos, pouco havia para ver.

– Hehehe, nada vai derrubar este velho agora.

Meu pai e o velho ficaram lá fazendo poses de fisiculturistas e os deixamos.

Depois veio a vez de Luna, o que me deixou paralisado.

– O que você achou Christopher?

– Irmão?

Luna estava na minha frente esperando por uma resposta.

– Ugh, está incrível!!! Ficaram ainda mais bonitas do que pensei.

Tive que me esforçar para dizer essas palavras. Realmente estavam melhor assim, mas Luna não precisava ter feito essas poses de fisiculturista também... Isso tiravam boa parte do apelo.

Luna segurava um braço contra o outro para deixar o bíceps maior. Minha irmãzinha menor também a seguiu colocando os braços à frente apertando os músculos do peito e com os dentes a mostra fazendo "huuuu". Podia até ver as veias do seu pescoço.

Aham, boa parte do apelo se foi.

Alana e Mérida estavam do lado, uma triste e a outra brava. Não fiz armaduras para elas, porque são projeções das sementes e não restavam suficientes materiais. Afinal, tive que duplicar as camadas nas armaduras e triplicar as partes com escamas.

Os verdadeiros corpos delas são as sementes, então se forem atacadas sofrem uma ferida, mas não sentem uma dor real e no máximo perdem o seu avatar. Depois de descansar podem criar um novo com os seus poderes.

– Vamos meninas, não fiquem assim. Farei algo melhor assim que tiver a chance.

Alana parou de fazer biquinho e seus olhos se iluminaram.

– Verdade? O que é, o que é?

Mérida ainda se fez de difícil.

– Hum, eu não queria mesmo. Mas vou aceitar já que você esta se dando o trabalho de fazer alguma coisa útil.

– Haha só esperem. Sei que vão adorar.

Alana se animou rápido. Sei que sua irmã também, mesmo ela não o demonstrando. Na verdade, não tinha ideia do que fazer.

Émelhor pensar logo, antes que comecem a me cobrar. 

Transmigrei para a Idade da PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora