Capítulo 18 - Adeus

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Eu estava desesperado. No chão, eu abraçava Eleonora. Sua pele estava ficando cada vez mais fria.

Será que ela trocou a sua vida para me dar este poder?

Lembrei que ela disse as pétalas da árvore eram o seu verdadeiro corpo e agora estava sem nenhuma folha como. Minha preocupação aumentou ao ver que sua coloração ficou acinzentada.

Senti uma mão no meu antebraço. Eleonora tentava se levantar mesmo com a pouca energia que lhe sobrava.

– Fique no chão, não precisa se esforçar assim.

Ela relaxou descansando a cabeça no meu colo e passou sua mão no meu rosto.

– Ah, vendo como você se preocupa por mim sem nem me conhecer fico aliviada em deixar minhas filhas em suas mãos.

– Como assim Eleonora? Você não está pensando em deixá-las, está?

Meus olhos se encheram de água. Isto parecia uma despedida. Mal a conheci, mas já sentia que éramos próximos.

Se tivéssemos mais tempo definitivamente nos tornaríamos grandes amigos como ela disse antes. Porém, esse tempo ameaçava nunca acontecer.

– Há mais uma diferença dos elfos das suas histórias Christopher. Esta floresta é o meu domínio. Posso fazer tudo que desejar aqui, mas também é a minha prisão. Não posso me afastar da minha árvore. Para minhas filhas é diferente. Elas ainda são jovens e podem fugir.

Ela segurou a minha mão e me deu dois cristais esverdeados. Parecia que eles tinham toda uma galáxia em branco rodando no meio deles.

– Estas são as sementes das minhas filhas. Cuide delas por mim. Elas são jovens e inexperientes, mas são almas boas.

Os cristais desapareceram em partículas de luz que foram absorvidas pelas minhas mãos. Senti como voltaram a aparecer no espaço do meu consciente. Elas flutuaram do lado do meu mana.

Raízes feitas de luz saíram das sementes e mergulharam no líquido. Sabia que uma conexão se formou entre mim e as elfas. Elas absorviam parte da minha força para se nutrir, mas nada que me afetasse.

A mão de Eleonora estava ficando gelada. Podia sentir a vida abandonando-a. Alana e Mérida apareceram a nossa frente de repente como se soubessem o que estava acontecendo. As duas ficaram paradas se abraçando em silêncio. Como não parecia que se aproximariam, as chamei para que possam se despedir.

Elas avançaram com paços lentos e cansados até cair de joelhos em frente da mãe. Alana a abraçou e Mérida só derramou lágrimas. Eleonora nunca parou de sorrir.

– Meninas, de agora em diante vocês ficarão com Christopher. Confiem nele. Ele cuidará de vocês.

– Mãe, o que você está dizendo? Como você pode nos deixar com este humano!

– Mérida!

A elfa não queria seguir de forma alguma um "ser inferior" como eu.

Alana a repreendeu com um beliscão no braço. Ela ficou calada e voltou a encarar sua mãe.

– Me desculpe, prometo que não vou me separar dele.

Elas não conversaram muito. Só pelos olhares diziam tudo uma a outra. Eleonora sorriu e o seu corpo começou a ficar transparente e desaparecer como se nunca estivesse lá. Sua árvore perdeu o lustre. Os galhos murcharam e aquele ambiente aconchegante em que cheguei pareceu sem vida. As plantas ao nosso redor pareciam saber que Eleonora não estava mais conosco.

O dia estava acabando quando voltei com Alana e Mérida para a cachoeira onde Dahlia conversava com Luna. Quando nos viram voltaram a posição de reverência de joelhos com a cabeça no chão.

Olhei para Alana e Mérida. As duas não se importavam com estas formalidades que os próprios humanos criaram. Além disso, o falecimento da sua mãe as abalou tremendamente e não tinham tempo de notar esses detalhes.

– O que estão fazendo? Levantem. Quero lhes apresentar Alana e Mérida. De agora em diante elas viajarão conosco.

As duas hesitaram em se levantar, mas vendo que as elfas não mostravam reações o fizeram. Pelos seus rostos soube que estavam cheias de perguntas.

Queria explicar melhor a situação. Mas, sinceramente, me sinto tão mal quanto as gêmeas.

– Dahlia, está tudo bem? Foi uma queda e tanto. Quase te perdemos.

Minha irmã acenou timidamente com a cabeça.

– Sim, tudo bem irmão. Não me machuquei.

– Fico feliz.

Do lado, Luna continuava calada, contudo me observava com atenção. Me ver ressuscitando Dahlia do seu afogamento foi um grande impacto. Fechei os olhos, não queria pensar sobre isso.

Lembrei que não comemos nada desde que abandonamos a caverna. Aproveitei essa desculpa para mudar o rumo da conversa.

– Bom, vamos comer primeiro e depois procuraremos pelos nossos pais de manhã. Não adianta sairmos à noite. Pode ser perigoso.

Pedi para as gêmeas me ajudarem a coletar alimentos. Elas conheciam a região melhor que todos nós. Juntos passeamos pelo bosque juntando frutas e nozes, inclusive uma quantidade a mais para a viagem de amanhã. Em menos de meia hora conseguimos o que precisávamos e voltamos para perto da cachoeira.

Ascendi uma fogueira como de costume. Alana e Mérida se esconderam nas minhas costas me segurando pela roupa ao ver as chamas

Acho que as assustei.

Mérida me soltou quase que imediatamente e fechou a cara. Ela não gostava de mim mesmo. Isso ficou claro enquanto buscávamos por comida. Ela sempre respondia minhas perguntas com "sim" e "não" ou me ignorava quando se cansava.

Alana pelo contrário não ficava a mais de 2 metros de distância de mim. Ela precisava de um apoio agora que Eleonora se foi e sua irmã não era muito receptiva para lhe dar apoio.

Minhas companheiras não disseram nada. Não sabiam o que aconteceu, mas perceberam que algo sério se passou no tempo em que desapareci na floresta já que uma das elfas não voltou.

A fogueira só nos aqueceu. Não cozinhamos nada nela. Terminamos dormindo lá mesmo na grama. Demorei algumas horas para dormir. Observei as gêmeas e decidi cria-las da melhor forma possível. Posso ter 16 aqui, mas ainda era um adulto no meu mundo.

Transmigrei para a Idade da PedraOnde histórias criam vida. Descubra agora