Capítulo 1

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Ergo os olhos para minha mãe que estava parada à porta do meu quarto. Seus cabelos negros encaracolados estavam em um coque no topo da cabeça, os olhos castanhos olhando na minha direção com um leve brilho enquanto seus lábios carnudos tinham um curto sorriso.

— Estou chamando há alguns minutos. O livro parece estar realmente bom. — comenta cruzando os braços.

Fico sem graça.

Gillian Flynn devia ser uma mulher que recebia tratamento psicológico. Ou talvez a escrita fosse a forma dela liberta seus demônios internos. Eu sempre ficava tão perdida em suas tramas psicológicas de traumas e assassinatos psicóticos, que podia, por um breve momento, esquecer o mundo ao meu redor.

— Sobre o que é? — indaga minha mãe.

— O marido é o único suspeito do assassinato da sua mulher, mas diz veemente que não a matou. — explico fechando o livro após colocar o marcador de páginas que não era nada mais do que um pedaço de folha de caderno contendo as respostas de uma prova que fiz ano passado.

— E já tem ideia de quem possa ser o assassino? — questiona minha mãe.

— Ainda não. Estou muito no começo, mas tudo é estranho demais. — pouso o livro no meu criado mudo ao lado da cama.

— Me conte quando tiver ideia. — ela descruza os braços e vai virando. — Hora do jantar. Venha comer.

Ela vai saindo enquanto levanto e ajeito meus óculos de grau. Puxo o short de algodão que havia enroscado em minha coxa e se prendido entre minha virilha, enquanto sigo atrás dela, passando pelo corredor pintado de um claro marrom, onde quadros da nossa família estavam pendurados como decoração. Não olho para as fotos que já conhecia decoradas, algumas porque eram de poucos anos atrás e sabia muito bem o momento em que tive que posar ao lado de meus pais e irmã.

A mesa de jantar estava perfeitamente posta como em todo o jantar. O cheiro da lasanha encheu minha boca de saliva. Esse era um dos motivos por eu gostar dos domingos, mamãe sempre fazia uma comida não saudável. Era o dia do lixo, como as pessoas que costumam fazer regime dizem. Além do fato de ser o dia que antecede a segunda, o dia que eu mais adorava.

Nos últimos trinta dias os domingos não têm sido tão prazeroso apenas porque as segundas não traziam os mesmos significados que me faziam sentir tanto prazer por ela, porque eram férias. Mas hoje o domingo voltou a me dar o total prazer que dava, pois era o último dia das férias e amanhã teria aula, o início da rotina semanal que eu tanto adorava.

— Lasanha de pão. — anuncia meu pai vindo da cozinha com uma jarra de suco, que pela cor eu podia supor ser de graviola.

Papai era o que as pessoas chamam de magrelo. Ele tinha quase dois metros de altura e pouca massa corporal, sua pele parda estava pálida pelos dias de constante trabalho como enfermeiro no hospital estadual da cidade. Seus cabelos ondulados estavam sempre bem penteados e com um corte baixo, os olhos cor-de-mel, que eram do mesmo tom que os meus, pareciam sempre carinhosos. Além da cor dos olhos, também herdei o nariz e queixo pequeno, os lábios mais grossos no inferior e o corpo magro demais.

Sentada ao lado da minha mãe, tudo que indicava que eu era sua filha era o mesmo tom de pele escuro, os cabelos cacheados e a falta de muita altura. Meus traços eram todos como os do meu pai. Sua versão feminina, como vó gostava de dizer. O completo oposto da minha irmã mais velha, que se aproxima e senta na cadeira enfrente a mim, ao lado do papai.

Ela tinha cabelos castanhos e ondulados como o papai, uma pele morena e o corpo com as curvas como a da mamãe, além dos traços suaves misturados dos dois. Michelle sempre chamou atenção dos homens, e se orgulhava disso, usando mínimos biquínis quando íamos para a piscina do condomínio ou à praia.

Don't Falling For MeOnde histórias criam vida. Descubra agora