Capítulo II - Defesa e Ruína

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Uma dor de cabeça infernal foi a primeira coisa que senti ao recobrar a consciência. Devagar, abri os olhos e chiei alto com a luz ofuscante de lâmpadas fluorescentes. Gemi, girando o corpo no chão gelado de concreto para esconder o rosto da incômoda luz.

Flashes do que aconteceu antes de eu apagar explodiram na minha mente e o pânico voltou a me domar.

Porta arrombada. Soldado do braço de metal. Marcus. Hydra. Soro. Pai. Mãe. Hydra.

Onde estava? Onde estavam meus pais?

- Pai... Mãe! - minha voz rasgou a garganta e tossi.

- Não estão aqui - alguém disse.

Essa voz rouca, eu a conhecia.

Levantei o rosto e estreitei os olhos, encontrando o soldado com braço de metal próximo, recostado numa parede sem reboco do outro lado do cômodo pequeno. Ele ainda usava o uniforme de couro e algumas facas e pistolas preenchiam seu cinto e coldres em suas coxas. Ao constatar isso, me encolhi ainda mais no chão e inutilmente tentei cobrir ainda mais o corpo com minha camisola amassada e suja.

- Onde... Onde eles estão? - perguntei com dificuldade.

Não recebi uma resposta. Endireitei o corpo de barriga para cima de novo e me sentei, com pontadas insuportáveis batucando a cabeça. O soldado observava cada movimento que fazia, silencioso.

- Quem é você? - tentei mais uma vez - O que vão fazer com meus pais?

Nada, nem uma mísera palavra saiu de sua boca. Vendo que não conseguiria respostas, realizei uma inspeção do local. Um cômodo pequeno, sem janelas e com paredes sem reboco. A porta de madeira velha estava fechada e o soldado estava a poucos metros dela, não poderia ao menos tentar uma fuga. Ele certamente seria muito mais rápido que eu.

Nenhum som podia ser ouvido detrás da porta e isso me causou ainda mais medo, por meus pais. E o soldado pareceu notar, pois de repente falou:

- Não vão fazer nada com seus pais, por enquanto.

- O que eles desenvolviam na... Hydra para acabar assim? - voltei a perguntar.

- Não recebi ordens para responder um interrogatório seu - o soldado respondeu seco, cruzando os braços.

- Então você é movido a ordens? - debochei e assim que as palavras saíram de minha boca me arrependi.

Só Deus sabe do que esse homem é capaz e lá estava eu a provocá-lo. Genial, Isabelle Meldezy.

- острый язык (língua afiada) - o soldado resmungou no idioma desconhecido.

Irritei-me com sua atitude e quando percebi já estava falando em francês, a segunda língua que aprendi com meu pai, como mais uma forma idiota - e talvez suicida - de provocação:

- Aimez-vous parler à vos victimes dans des langues qu'elles ne parlent pas?(Você gosta de falar com suas vítimas em línguas que elas não falam?)
O que julguei ser uma sombra de divertimento percorreu os olhos vazios do soldado.
- Oui (sim) - respondeu também em francês.
Engoli em seco e me forcei a ficar de boca fechada.
- Quelles langues pouvez-vous parler? (Que línguas você fala?) - ele tornou a perguntar.
- ¿Porque quieres saber?( Por que quer saber?)- rebati, dessa vez em espanhol, a língua materna de minha mãe.

- Para tener cuidado de que idioma te hablo (Para que eu tenha cuidado com qual língua eu falo com você)- quase revirei os olhos com sua resposta.

Em situações normais, ficaria surpresa com o tanto de línguas que ele sabia falar fluentemente.

A porta foi aberta e Marcus a atravessou, acompanhado de mais um capanga musculoso e cheio de cicatrizes no rosto carrancudo. O último fechou a porta atrás de si e se colocou no lado oposto ao soldado, olhando-o desconfiado durante o processo.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora