Capítulo XIX - Mon soldat et le Captaine

506 46 13
                                    


A pia de porcelanato branco estava cheia de gazes, esparadrapos, vidrinhos de água oxigenada e toalhas de rosto manchadas de vermelho. Também podia-se se encontrar algumas gotas de sangue espalhadas por sua extensão.

Chiava baixinho enquanto passava a segunda gaze com água oxigenada no corte que Pierce fez, que não parava de sangrar desde que entrei no box do banheiro para tomar banho. Meu corpo continha alguns arranhões também, resultado da explosão que me fez voar alguns metros pela rua, mas esses foram fáceis de cuidar. O problema maior eram os benditos arranhões na bochecha, mais aquele corte desgraçado. Só uma entidade divina para saber como eu faria para escondê-los com maquiagem para ir trabalhar amanhã.

Xinguei Pierce de todos os nomes feios que conhecia, lutando contra o sangramento.

Depois de longos minutos consegui estancar o sangue, arrumei um pedacinho de gaze com esparadrapo para tampar o machucado e impedir que voltasse a sangrar com algum toque um pouco mais forte no rosto. Arrumei a bagunça que fiz no banheiro e fui para o quarto ajeitando meu shorts de algodão azul e a camiseta branca enorme que serviam de pijama.

Arfei de surpresa ao ver o soldado sentado na minha cama, usando uma calça de moletom confortável e uma blusa cinza. Seus cabelos castanhos pingavam a água do banho recém tomado e o cheiro agradável do sabonete impregnou o quarto.

- Ou você fez a missão muito rápido, ou eu demorei demais naquele banheiro - comentei abrindo um pequeno sorriso.

- Acho que a segunda opção - o soldado respondeu apoiando o braço de metal na cama - Pude ouvi-la xingando algum sujeito de várias palavras sujas, algumas eu nem fazia ideia que existiam. Estendi meu vocabulário com isso.

- Ah... - balbuciei sem jeito, mordendo os lábios - Convenhamos, o sujeito mereceu.

- Posso imaginar quem seja - ele levantou-se e veio até mim.

O soldado avaliou o curativo em minha bochecha, trincando o maxilar. Suas íris azuis brilharam com uma fúria contida, talvez parecida com aquela que apareceu em meu corpo a algum tempo atrás.

- Não faz ideia do quanto eu quis socar Pierce por isso - ele murmurou levantando meu rosto.

- Já conversamos sobre isso, está tudo bem - suspirei, inebriada com seu cheiro e proximidade.

- Sim, sobre isso nós já conversamos - afastou uma mecha do meu cabelo, colocando a mão humana na minha nuca de forma carinhosa - Mas nós precisamos conversar sobre outra coisa agora.

- Sobre o que?

Nem percebi minhas mãos movendo-se, indo parar nos fios castanhos de sua nuca, muito menos a sua mão de metal me pegando pela cintura e colando nossos corpos. Só notei isso quando senti o calor delicioso emanando de seu corpo tão perto e o seu hálito quente batendo em minha boca.

Eu queria beijá-lo de novo, estava quase desesperada para fazê-lo.

- Você já sabe, Vietny - respondeu num fio rouco de voz - Olhe como estamos agora. Veja essa atração.

- Pouco me importo se é errado ou não, se é sobre isso que você quer conversar - foquei o olhar em seus olhos, falando confiante - Eu só sinto a atração, não consigo explicar, é um pouco assustador... Mas nada me faz parar com isso, é como um sentimento adormecido há tanto tempo que precisa ser extravasado. Eu... Eu quero senti-lo.

Engoli em seco, encarando sua boca sem pudor algum. A respiração do soldado desregulou contra a minha e, tamanha a nossa proximidade, eu pude sentir seu coração disparar contra meu peito.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora