Capítulo XXV - Pesadelo

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O local estava mal iluminado, podia ver parcamente os longos corredores brancos cheios de portas de metal e o teto com tubulações. O único som ecoando era o de meus passos lentos e cautelosos, bem como de meu coração batendo num ritmo descompassado.

Olhava atenta para frente, buscando alguma presença, mas parecia que não havia ninguém naquele lugar. Andei por um bom tempo, virando corredores, descendo escadas e verificando portas, até encontrar uma porta dupla branca entreaberta no fim de mais um corredor. Atrás delas, havia um laboratório bem iluminado, recheado com aparelhos de uma tecnologia antiga, mesas cheias de equipamentos para análise celular e uma maca vazia, com grossas tiras de couro largadas em cima de seu estofado.

Me aproximei lentamente, sorvendo cada detalhe. Não demorou muito para meus ouvidos captarem um ruído baixinho, vindo do outro lado da sala. De repente, uma cabeleira negra foi vista, seguida do rosto belo, com grandes olhos azuis e um sorriso sensual brincando nos lábios bem desenhados.

Entreabri minha boca, observando Jhon Hall se endireitar atrás de uma das mesas. Seus olhos pregaram-se nos meus, o sorriso sexy aumentou de tamanho e ele deu a volta na mesa, diminuindo cada vez mais a distância entre nós. Seu tronco definido estava coberto por um jaleco impecavelmente branco, contrastando com as calças sociais pretas e o sapato escuro brilhante.

- Ah Amélie! Que bom que está aqui – estremeci ao ouvir sua voz depois de muito tempo – Já estava te esperando há um bom tempo.

- J-Jhon? – gaguejei quando ele ficou na minha frente.

- Quem mais poderia ser? – perguntou num tom brincalhão - Venha, não podemos perder mais tempo!

Jhon pegou na minha mão e me levou até a maca, ajudando-me a deitar ali usando de uma gentileza polida. Estava tão anestesiada com o que acontecia, que não fiz qualquer pergunta ou pestanejei ao ter o corpo preso à maca pelas faixas de couro.

- E então, está preparada? – Hall virou-se para uma mesa após me prender.

- Preparada para o quê? – ergui a cabeça para espiar o que ele estava fazendo.

Pelos sons de papel se rasgando e metais e vidros tilintando, julguei que preparava algo.

- Ora, para sua transformação Amélie – ele disse como se fosse algo óbvio.

Seu corpo girou mais uma vez e eu pude ver em sua mão a enorme seringa com um líquido azul no seu interior. Arregalei os olhos, despertando do meu torpor de surpresa e agitei o corpo desesperada para tentar me livrar das amarras.

Não, aquilo não podia estar acontecendo de novo.

- Fique calma, isso vai passar – Jhon usou de um tom suave, mas a sua expressão se transformou em surpresa misturada com dor, idêntica a que fez quando morreu na minha frente – E você vai se transformar no monstro que me assassinou. Será uma arma letal da Hydra, você será Vietny.

- Não se aproxime! – gritei sentindo as lágrimas de pavor molharem meu rosto – NÃO!

Hall não me ouviu e se aproximou, segurou meu braço e direcionou a seringa para uma veia. Berrei com a dor queimante do soro XZ entrando em contato com meu corpo, como da primeira vez.

Acordei num sobressalto, ofegando como se tivesse corrido uma maratona. Olhei para todos os lados do lugar escuro, reconhecendo os detalhes simples do apartamento que dividia com Bucky.

Foi apenas um pesadelo. Apenas um pesadelo.

Me livrei do abrigo quente dos edredons e fui para a borda do colchão, sentando-me lá e esfregando as mãos no rosto suado. Com um suspiro olhei para trás, para onde meu soldado estava dormindo pesado, aparentando estar num sono tranquilo.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora