Capítulo VI - Tu né merites pas cette vie

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Três meses se passaram desde que injetaram o Soro XZ em minhas veias. Nesse meio tempo, descobri e desenvolvi várias habilidades que jamais pensei que fosse humanamente possível ter e criar tão rápido.

No final dos três meses, seguindo uma rotina intensa de treino diário, eu já sabia falar fluentemente alemão e italiano e arriscava algumas palavras em russo - a língua que eu descobri ser a preferida do soldado para resmungar. Também tinha todo o conhecimento necessário de comportamento e regras de etiqueta, ensinados pela velha senhora Colins, além das "técnicas sedutoras" e nojentas passadas com todo o cuidado pela ex-agente da Hydra, que prefiro não entrar em muitos detalhes.

Além disso, já sabia diversos tipos de lutas e meios de defesa ensinados pelo soldado, que também ajudaram a estimular os sentidos potencializados, a absurda agilidade e os reflexos proporcionados pelo soro. Não havia nada que pudesse passar despercebido pelos meus sentidos, nem as menores movimentações do corpo humano, e na maioria das vezes conseguia desviar de ataques, sejam estes físicos, vindos de uma faca ou mesmo de balas cuspidas de pistolas.

Descobri que lutas corporais não eram lá o meu maior forte, mas as movimentações que envolviam entradas furtivas e uso de pistolas e adagas eram muito mais proveitosas. Obtinha resultados positivos, que foram capazes de deixar Marcus quase saltitando pelos corredores da base da Hydra, de tão aliviado e satisfeito que ficou ao saber que sua nova arma prestava para algo além de falar línguas diferentes e se comportar como uma menininha inocente.

Meus pais acompanhavam de pertos os meus avanços, algumas vezes assistiam os treinos de luta e tiro com o soldado e quase todos os dias eu ia até o laboratório para exames de rotina para acompanhar a evolução do soro em meu corpo, que felizmente estabilizou seus efeitos exagerados no final do segundo mês. Entretanto, tive pouquíssimos momentos ao lado deles em que nós agíamos como uma família, partilhando de gestos carinhosos e afetuosos, mal podia conversar com eles sem ter alguém por perto, já que suas visitas discretas ao alojamento foram diminuindo gradativamente.

O meu relacionamento com o soldado foi avançando conforme nós convivíamos juntos, arriscaria dizer que desenvolvemos uma amizade. A atmosfera tensa e constrangedora que tivemos no nosso primeiro dia de treino desapareceu com o tempo, o que me deixou aliviada. No começo, ele ainda era bem fechado e mal trocava palavras comigo, mas aos poucos fui tentando me aproximar, fazendo algumas perguntas banais durante o treino, demonstrando um pouco de confiança e puxando assunto quando ficávamos enfiados dentro alojamento sem nada para fazer. Em algumas semanas o soldado já conversava mais a vontade comigo e até tive o prazer de ganhar um sorriso seu, mesmo que fosse apenas um repuxar de lábios, quando eu fui parar lindamente no chão por tropeçar numa das caixinhas de madeira que estavam caídas. Por falar nelas, a minha curiosidade quanto ao seu conteúdo aumentou ainda mais, pois todas estavam lacradas com um pequeno cadeado e eu não fazia ideia de onde estavam as chaves.

O dia tão esperado para a Hydra e o tão odiado por mim chegou, o dia em que partiria para a Alemanha Oriental na minha primeira missão. Passei toda a manhã jogada na cama do beliche tentando convencer a mim mesma de que precisava fazer aquilo que ordenaram e me prepararam com todo o cuidado, pois só assim garantiria minha sobrevivência e muito possivelmente a de meus pais também.

Ainda assim, não seria uma tarefa fácil. O plano meticuloso arquitetado pela Hydra consistia em assassinar discretamente Jhon Hall, um espião americano que pisou no chão alemão oriental semanas depois da renuncia do chanceler da Alemanha Ocidental, Willy Brandt, em 1974. Segundo as fontes da Hydra, Hall fornecia informações para o governo americano e para o atual chanceler alemão, Helmut Schmidt, como uma demonstração de fortificação da aliança dos EUA com a Alemanha Ocidental. O seu papel-disfarce no governo da Alemanha Oriental? Uma espécie de mensageiro e consultor para ambos os governos recorrerem quando o assunto era acordos políticos entre eles.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora