Capítulo XXIII - Os primeiros passos do recomeço

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Nós não tínhamos para onde ir. Feridos como estávamos e sem nada em mãos, não tivemos escolha a não ser voltarmos para a base da Hydra em busca de suprimentos e curativos, com nada mais que um plano suicida de lutarmos caso esbarrássemos com agentes. A nossa sorte, foi que o velho banco abandonado não abrigava uma alma viva lá dentro quando cruzamos as portas da garagem.

A circulação rápida dos dados da organização na internet foi eficiente até em espantar os lobos da toca, ao que parecia.

Eu e o soldado agimos rápido, ainda que a base estava vazia, não havia garantias de que alguém não apareceria por lá. Corremos para nossos antigos quartos segurando cada um uma mochila, a fim de guardar mudas de roupas e um ou dois sapatos.

Com minha mochila pronta, segui para a ala administrativa da base, não me importando de revirar as proibidas gavetas de dinheiro e pegar o máximo de notas que meus bolsos e a mochila podiam abrigar. Depois, fui para a enfermaria da base e apanhei uma maleta branca com um generoso kit de primeiros socorros, eu e o soldado estávamos necessitando de bons remendos, era um milagre estarmos andando nessa altura do campeonato.

No caminho para a garagem, o ponto onde encontraria o soldado para partir, acabei parando em frente ao laboratório de informática deserto, com os pensamentos pulsando no pendrive escondido no uniforme em frangalhos da S.H.I.E.L.D. Adentrei o recinto, meus dedos coçavam para furtar o notebook na mesa principal com um plano de fundo de coelhinhos fofinhos. E foi isso que fiz, peguei o computador, sua fonte para carregar e espremi-os em meio às roupas dentro da mochila.

O soldado me esperava encostado numa das paredes da garagem. Suor pingava por sua testa, o maxilar estava trincado e sua mão humana apertava o abdome, enquanto os olhos quase se fechavam de vez. Ele mal se aguentava em dor, mas tentou disfarçar assim que ouviu meus passos ecoando pelo recinto, ajeitando a postura e abrindo um pequeno sorriso.

- Pronto? – perguntou em meio a respiração curta.

- Sim – o olhei de cima a baixo, séria – Você não está em condições de dar mais um passo.

- Eu estou bem, Bella – se abaixou para pegar a mochila ao seus pés, grunhindo baixinho – É sério.

Segurei seu braço humano, atraindo sua atenção para meu rosto.

- Abra o casaco – ordenei largando minha mochila.

- O que? – estreitou os olhos, confuso.

- Abra o casaco – repeti me agachando, depositando o kit de primeiros socorros no chão e abrindo-o.

- Nós não temos tempo para isso – o soldado me olhou de cima – Precisamos sair daqui.

- Não vamos muito longe com você desse jeito – avaliei os suprimentos, em busca de faixas e analgésicos – Você mal consegue ficar em pé.

- Andei até aqui e posso sair da mesma forma – respondeu um tanto rude.

- Você está ferido – suspirei exausta – Ao que parece carrega ferimentos graves, ainda que tivesse negado isso quando perguntei. Não sei porquê fui acreditar em você...

- Por que se importa tanto comigo afinal de contas? – a pergunta me fez fita-lo incrédula.

- Porque eu te... – engoli em seco enquanto me levantava, segurando a língua – Eu tenho apenas você. Assim como eu sou tudo o que você tem, então acho melhor você cooperar e abrir a droga do seu casaco logo se quiser ter o tempo correndo ao nosso favor.

O soldado me ofereceu uma carranca de contragosto, mas felizmente fez o que pedi. Entre gemidos e movimentos lentos, seu casaco de couro foi aberto e deixou visível o enorme hematoma em seu abdome. A pele estava arroxeada, com as laterais do ferimento pendendo para o esverdeado.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora