Capítulo VII - Missão

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A viagem até a Alemanha Oriental foi constrangedora desde o embarque. Eu e o soldado fomos escoltados por Marcus e mais dois agentes para a pequena pista que havia na base da Hydra, ouvindo durante todo o trajeto farpas e provocações do loiro que fez questão de jogar no ar o "flagra" que deu em nós. Como se não bastasse, assim que fomos enfiados no jato – que era uma máquina super-tecnológica e luxuosa – percebi que ficaria sozinha com o soldado, pois não havia um guarda, agente ou oficial da organização lá dentro.

O moreno sentou na poltrona mais afastada da entrada do jato, ajeitando irritadiço a pesada jaqueta de couro preto em seu tronco. Ele não me disse uma palavra desde o nosso quase beijo e se manteve um pouco afastado enquanto andamos até a pista. Julguei que desejava ter espaço e, com ousadia, conclui que talvez quisesse enterrar o episódio sem esclarecer as coisas. Por isso, decidi me sentar o mais longe possível dele, evitando olhá-lo por muito tempo.

O silêncio reinou pela viagem toda, só não era mais denso do que o clima pesado dentro da veloz aeronave, que cortava os céus como uma ave colossal. Mas que para mim, ela mais se parecia com uma tartaruga caminhando, a ansiedade que estava para saltar daquela coisa de metal e me manter o mais longe possível do soldado me fazia esquecer de que ainda era impossível voar na velocidade da luz.

Eu me sentia envergonhada pelo episódio que vivi com soldado. Agi como uma impulsiva e me entreguei a sentimentos proibidos, sabendo que as consequências das ações não seriam boas. E ali estávamos nós naquele clima pesado, mesmo que não nos beijamos de fato graças a Marcus.

Mas quem eu queria enganar com esses pensamentos certinhos? Desejava tanto beijá-lo que cheguei a assustar. Ele me tentava como o próprio pecado. Não sei se era por todo o ar de mistério que ele emanava pelo seu belo olhar azul, ou pela história que meus pais contaram a seu respeito, ou porque vi nele uma figura de apoio, alguém que ofereceu ajuda em meio ao caos que se tornou a minha vida com o aparecimento da Hydra. Talvez seja por todas essas coisas reunidas...

Algum tempo se passou e uma voz masculina de sotaque carregado anunciou por um alto-falante que tínhamos acabado de entrar no território de Berlim pertencente à Alemanha Oriental. Minhas mãos começaram a suar com o aviso. Em poucas horas estaria frente a frente com a minha missão.

A aterrissagem foi turbulenta, o que fez a minha vontade de sair do jato triplicar de tamanho. E assim que a porta foi aberta para que nós saíssemos, saltei da poltrona e praticamente corri para fora.

O fim de tarde em Berlim estava fresco e leves raios de Sol atingiram minha face quando comecei a descer a escadinha. Um grupo de oficiais do exército esperava no solo do pequeno aeroporto militar, vestindo fardas bonitas e chamativas. Reconheci de imediato a figura careca e ranzinza no meio dos homens.

Comandante Stuart se afastou do seu grupo e se aproximou assim que eu e o soldado pisamos no chão. Um sorriso seco repuxava seus lábios finos e ele ergueu os braços até a metade do corpo, num gesto de boas-vindas. Parou a minha frente e puxou-me para um abraço duro, oferecendo tapinhas irritantes em minhas costas.

- Minha sobrinha! – Stuart disse em alemão, com um carinho forçado na voz que me deu nojo – Foram apenas alguns anos sem vê-la e olhe só o tanto que você mudou! Está mais calada que a última vez que a vi...

Me arrepiei com o tom ameaçador que sua voz tomou na última frase. Como poderia ter esquecido de desempenhar meu papel desde que saí do maldito jato? Amélie Stuart, sobrinha misteriosa do comandante Stuart, órfã de pais quando completou cinco anos, foi mandada para estudar na Rússia assim que o comandante assumiu a guarda. Voltou para os braços do amado tio depois do convite do próprio para visita-lo, a fim de fazer companhia a ele por um curto período de tempo e, é claro, acompanha-lo numa imperdível comemoração do governo alemão oriental. Porém, a festividade levaria a jovem Stuart a ter um destino cruel, já que seria sequestrada pelo mesmo indivíduo que iria assassinar Jhon Hall naquela noite.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora