Capítulo XI - Monstre

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AVISO: este capítulo contém cenas de violência e conteúdo melancólico. Caso leitor seja sensível a esses tipos de cenas, NÃO leia.

Os corredores da base da Hydra nunca pareceram tão grandes e assustadores como naquele momento. Me sentia como a mocinha fugindo do monstro em filmes de terror, correndo pelos corredores longos e escuros da morada da criatura, que davam a impressão de levarem ao mesmo lugar sempre. Corria e corria e corria, mas o laboratório não surgia nunca na minha frente, em seu lugar via apenas paredes brancas que davam em lugares não desejados, ou idênticos ao que havia acabado de passar.

Mas depois do que pareceram horas de angústia, as portas brancas duplas do laboratório apareceram escancaradas. Solucei de alívio e medo, aumentando a velocidade de meus passos.

O interior do lugar exibia um cenário mórbido. Vários agentes armados estavam dispostos perto das paredes, vigiando os quatro cientistas que se revezavam nos espaços entre as três macas sustentando corpos num estado deplorável, no centro do laboratório.

Macklir, Duncan e O'Connel encontraram seu fim de maneira terrível, toda a anatomia de seus corpos estava errada, ou muito inchada ou fina demais. Não queria saber os detalhes do que a tal substância que mamãe disse na carta fazia com um ser vivo, apenas a aparência dos corpos já bastava para me fazer tremer de espanto.

Não fiquei por muito tempo analisando os recrutas, percorri os olhos pelo laboratório e encontrei mais dois corpos jogados ao chão, próximos um do outro e vestindo típicos jalecos brancos. Meu sangue parecia que tinha sido drenado das veias e caminhar se mostrou uma tarefa muito difícil. Porém quando dei por mim, estava ajoelhada entre meus pais mortos, chorando copiosamente como uma criança, ignorando o mutirão de gente dentro do laboratório. Espuma escorria de suas bocas entreabertas e o brilho de seus olhos abertos havia há muito desaparecido, bem como a quentura de seus corpos. Foi um fim rápido pelo visto. Eles só podiam ter morrido de uma forma, fazendo uso de...

- Cianeto – uma voz anasalada indagou o que tinha acabado de pensar.

Ergui o olhar, encontrando Marcus de pé a minha frente observando meus pais caídos, sem expressão alguma no rosto. Olhá-lo despertou uma série de sentimentos terríveis dentro de mim, era algo como ódio puro e luto misturados com as lembranças ruins que ele causou aos meus pais e a mim.

Isso tudo que aconteceu era culpa desse maldito cientista maluco. Se ele não tivesse procurado meus pais a tantos anos atrás isso não teria acontecido, eles jamais teriam começado a desenvolver o soro XZ para a Hydra, eles poderiam estar vivos. Se Marcus não tivesse se empenhado para nos encontrar quando papai e mamãe fugiram das garras da organização, nós poderíamos estar juntos agora, num país qualquer atendendo novos pacientes. Eles poderiam estar vivos.

Marcus... Eu devia matá-lo. Eu iria matá-lo.

- Você... Foi você que fez isso – sussurrei entredentes.

Levantei lentamente, sem desviar os olhos de Marcus. O loiro engoliu em seco, dando alguns passos para longe sem conseguir soltar uma palavra para seus colegas, ele estava com a língua petrificada de medo. Ninguém ao nosso redor parecia notar a minha intenção e sorri diabólica para o cientista, aproximando-me sem barreiras e devagarinho do seu corpo magrelo, deliciando-me com o medo crescente em seus olhos vítreos. Seria esse o gosto fornecido pela vingança? Um gosto adocicado pela expressão de terror que sua presa dirige a você pouco antes de sucumbir?

Agarrei o colarinho do jaleco de Marcus e o empurrei o mais forte que podia contra a parede que sustentava uma máquina desconhecida, provocando um estrondo quando as costas dele amassaram o metal do utensílio. O cientista urrou de dor, fazendo coro com a gritaria que se instaurou pelo laboratório. E os agentes da Hydra finalmente moveram as pernas para me pararem. Mas eu era mais rápida que qualquer um deles.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora