Capítulo V - Treino

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O soldado se mostrou alguém muito rígido para horários dos treinos, não estava marcando nem seis e meia da matina no relógio em cima da cômoda quando ele apareceu no quarto, puxando o edredom em que estava enrolada. Ele me deu vinte minutos para me preparar, tomar o desjejum que esperava na mesinha da sala e encontra-lo em uma espécie de salão de treino, há exatos dois corredores e meio de nosso alojamento.

Saí da cama pulando e corri para fazer minhas higienes matinais, dando um pouco mais de atenção para recobrar a cor normal da minha pele, o tom rosado de meus lábios carnudos - que particularmente me faziam lembrar os da mamãe - disfarçar as olheiras embaixo dos meus olhos castanhos e o vermelho envolto no meu nariz pontilhado por algumas sardas. Não poderia dar o gostinho para a Hydra de me ver quebrada, não no ponto de vista físico do meu corpo, precisava demonstrar que era mais forte que suas animosidades.

Saí do banheiro prendendo meus longos cabelos castanhos em um rabo de cavalo e vesti uma calça de moletom preta, uma regata branca e um grosseiro coturno preto, todos encontrados nas gavetas da cômoda ao lado do meu beliche. O desjejum foi rapidamente engolido por mim quando entrei na sala, nem me dei o luxo de sentar no sofá para comer os ovos mexidos com torradas e café.

O salão já estava lotado com agentes da Hydra em treinamento quando o atravessei. Sons de pancadas, facas cortando o ar e gritos de dor e força preenchiam o recinto. Seu centro era divido em quatro ringues quadrados para luta corporal e com armas brancas. Em uma lateral havia um hall para treino com sacos de pancadas e na outra alguns bonecos-alvo para lançamento de facas e adagas permaneciam organizados. Uma parede enorme de vidro se erguia sobre o salão, em sentido oposto à porta de entrada, dando vista para uma sala luxuosa e aconchegante, com sofás e poltronas vermelhas, do qual alguns agentes e oficiais da organização assistiam o treino de seus homens e mulheres.

O soldado me esperava paciente no único ringue vazio, o segundo da direita em relação à porta, vestindo uma calça de moletom semelhante à minha e uma camiseta lisa preta, expondo mais detalhes de seu braço metálico e dos seus músculos protuberantes, que por sinal prenderam minha atenção mais do que deveria.

- Então... Aqui estou – disse terminando de cruzar o ringue.

- Está dois minutos atrasada – murmurou olhando sério para mim – Pagará por isso durante o treino.

- São apenas dois minutos! – disse indignada - Não pode relevar essa?

Ele se aproximou em silêncio, sem desviar os olhos dos meus. Fui afastando alguns passos conforme ficava tão próximo e quase não tive tempo de desviar da sua tentativa de envolver meu pescoço com sua mão humana.

- Rigidez é algo que se presa aqui dentro – exclamou investindo em mim de novo, dessa vez com a mão metálica.

Abaixei para sair de seu ataque, o que resultou num chute em meu abdome, não forte para machucar e sim derrubar no solo emborrachado do ringue. O soldado se agachou no meu lado e envolveu meu pescoço com a mão de carne.

- Em hipótese alguma desvie a atenção de seu inimigo – apertou com um pouco mais de força o local – Ou pode ser seu último movimento.

Assenti crispando os lábios e ele me liberou. Levantei e fiquei a sua frente, esperando alguma ordem ou ensinamento.

- Conhece os pontos fracos de um homem? – perguntou.

- Olhos, joelhos, meio das pernas – estreitei os olhos, tentando recordar de algumas dicas de defesa pessoal que recebi na escola – Pescoço...

- Muito bem.

E então se aproximou de novo, envolvendo as duas mãos em meu pescoço.

- Quando um homem chegar pela frente, seja para segurar em seus ombros ou enforcar – explicou firme – Passe seus braços por dentro dos dele e faça pressão para que libere as mãos de seu pescoço, depois segure seus ombros com dureza e chute-o com toda a força. Essa é a primeira e mais simples lição de autodefesa que posso te ensinar.

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora