Capítulo IV - Deserto Invernal

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- Ela parece uma garotinha comum para mim, diria medrosa e frágil como porcelana – Stuart disse com um sotaque pesado, me analisando de cima a baixo – Tem certeza que o soro fez mesmo efeito nessa coisinha?

- Ela não apresentou nenhum efeito colateral, isso já é um bom sinal – papai disse formal – Com o tempo testaremos suas habilidades.

- Se quer provas, Comandante Stuart – Marcus foi para o lado do soldado e corajosamente arrancou uma pistola do suporte de sua cintura – Aqui está sua prova.

A arma foi apontada em minha direção e, como se o mundo desacelerasse, eu vi e senti o momento exato em que a bala deixou o cano, voando em minha direção. Me joguei da maca e ouvi a bala zunindo um pouco acima de mim, atingindo a parede do laboratório.

Ajoelhada no chão gelado e limpo, lancei um olhar furioso para Marcus e grunhi raivosa, mostrando os dentes.

-COMO OUSA? – mamãe gritou, abaixando-se para me ajudar a levantar – Poderia tê-la matado!

- Então agradeça que o soro esteja funcionando, minha cara Beatrice – Marcus sorriu satisfeito e olhou para o Comandante - Precisa de outra demonstração para acreditar, Comandante Stuart?

- Não, já basta – o militar sorriu para mim – Em breve precisarei de seus serviços na Alemanha, Vietny.

Minhas mãos e membros inferiores tremiam, não de medo, mas sim de raiva. Raiva de Marcus, raiva da Hydra. Raiva do que me tornei e nas consequências que foram trazidas junto.

Pierce se aproximou devagar, sem desviar os olhos claros dos meus. Parou há poucos centímetros de mim e com uma serenidade invejosa pegou uma de minhas mãos, envolvendo-a com as suas.

- Eu entendo essa ira, Isabelle – sua voz grossa saiu calma demais – Mas se você deixar, nós podemos tornar a situação mais agradável.

- Agradável? – perguntei franzindo o cenho – Não estou aqui por vontade própria senhor, como a situação poderia ser agradável para mim?

Ele riu fraco.

- Não somos tão malvados assim – soltou minhas mãos – Creio que começamos com o pé esquerdo com você e sua família. Permita-me apresentar o lado bom da Hydra e te fazer mudar de ideia.

- Não existe lado bom nela – disse entredentes – Jamais a ajudarei de bom grado.

- Ah... Quer mesmo deixar a teimosia falar mais alto? – Pierce perguntou estreitando os olhos – Se tomar esse caminho, as coisas não vão acabar bem e aí eu terei motivos para fazer você acreditar que somos os caras maus da história.

Stuart gargalhou atrás de Pierce.

- Não entendo como usar o lado macio e delicado vai fazê-la ceder por vontade própria, agente Pierce – o militar se aproximou do soldado – É mais fácil torna-la igual ao Soldado Invernal, poupará muitos esforços.

- Prometeram não fazer nada parecido com ela – meu pai disse inquieto ao meu lado.

- A questão é que se ela não ceder, não teremos escolha doutor Meldezy – Pierce afastou-se um passo e encarou meu pai – A faça cooperar e nada acontecerá com ela.

Meu pai abaixou o olhar e assentiu, suspirando pesado. Pierce voltou a ficar do lado de Stuart, mantendo seus passos e expressões calmas. Algo me dizia que, devido ao seu comportamento, agente Pierce deveria ser alguém muito pior que o impaciente comandante Stuart.

- Bom, então o que estamos esperando? – Marcus exclamou esfregando as mãos – Vamos as apresentações da sua nova vida, Vietny. Passará a treinar diariamente lutas, tiros, boas maneiras, línguas e é claro a estimular suas possíveis habilidades. Ao final de três meses, esperamos que você já esteja se comportando como uma silenciosa e inocente agente da Hydra sob efeito do Soro XZ. Seu treinamento de lutas iniciará amanhã bem cedo e, para a sua felicidade – apontou para o soldado – Será nosso Soldado a treiná-la, afinal, que professor seria mais adequado que nosso melhor assassino?

Vietny [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora