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Já passava das onze quando Julie Molina O'Sullivan encostou seu carro - caro - no meio-fio de frente para pensão

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Já passava das onze quando Julie Molina O'Sullivan encostou seu carro - caro - no meio-fio de frente para pensão. Devo anotar que a mesma foi uma ótima "cavaleira" pagando a conta do bar, já que eu não tinha um tustão torrado na carteira. 

Olho para onde moro, vejo que ainda havia algumas luzes acesas. Vejo a Sra. Molina se inclina um pouco sobre o volante para dar uma "espiada" na fachada da minha casa. 

- Parece aconchegante - Ao invés de desdém, tudo que eu consegui ouvir foi uma sincera gentileza. 

- Eu acho - Digo soltando o cinto de segurança. 

Antes que eu pudesse agradecer por... bom... tudo que a mesma havia feito nas últimas seis horas. Percebo que a mesma já estava fora do carro pegando minha mochila e meu tênis ensopado. Logo dando a volta no carro e me ajudando a sair. Julgo que a adrenalina no meu corpo cessou, já que os machucados começaram a latejar. Principalmente meu pé esquerdo.

Julie me ajudou a pegar as muletas, e sua mão se esbarrou por acaso na minha. Pode ser maluquice, mas parecia que uma corrente elétrica percorreu por todo meu corpo. Eu estava certo que ela também sentiu algo já que recuou um passo, olhando para baixo. Tento não pensar naquilo, então a mulher começa a me acompanhar com passos calmos até a porta da pensão. 

Parados na entrada, um silêncio esquisito se formou me deixando inquieto. Ela também pareceu um pouco tensa, contudo, graças aos céus, resolveu acabar com aquele silêncio.

- Quando você acha que pode começar? - Ela disse entregando a mochila e o sapato para mim, mantendo seus dedos longos dos meus. Aquilo me incomodou um pouco. 

- Amanhã, se você e seus funcionários não se importarem com os barulhos de muletas. - digo, e vejo a mesma me dar um sorriso de lado. 

- Eu gosto do seu entusiasmo, porém o Dr. Jones aconselhou repouso. Que tal... hã... na semana que vem? Segunda-feira está bom? - a mesma fala levantando a sobrancelha. 

- Eu... hum... ok. Afinal você é a chefe, né?! - Vejo o canto de sua boca se levantar, me dando aquele mesmo meio sorriso que acaba com todo o bom senso que me falta. Eu pensava que todo aquele lance de borboletas no estômago era mentira, mas ei! Eu estou sentindo isso agora. 

Com toda a minha força de vontade levantei meu olhar olhando para frente, eu era um pouco mais alto que ela, então era possível eu manter meu olhar longe da prin... Julie. 

- Acho melhor eu ir em... - a porta se abriu no mesmo instante que a mesma iria terminar a frase. 

- Luke, caralho, se tem celular para quê? Eu te liguei, e você não atendeu pensei que tivesse acontecido algum aci... - ele fala com sua atenção só em mim, porém, logo repara para as muletas e para meu tornozelo - Ai meu senhor. Você sofreu um acidente! - Ele fala desesperado. 

- Calma, Reggs eu to bem - falou levantando as mãos tentando me equilibrar nas muletas. - Eu só caí de mau jeito - falo de forma tentando tranquilizar ele. 

- Ele quebrou um osso do tornozelo - a linda e maravilhosa mulher soltou fazendo Reggie ficar ainda mais desesperado, olhei para ela indignado, e a mesma deu de ombros. Quando volto meu olhar a Reggie, vejo que o mesmo está com os olhos arregalados olhando para Molina. 

Ai meu deus, não! 

- Você... - ele disse abrindo e fechando a boca algumas vezes. - você... é a... - ele piscou algumas vezes então o interrompo. 

- É uma mulher atenciosa - digo apressado - Me levou para a clínica onde cuidaram do meu pé, e me deu um emprego - isso conseguiu tomar atenção dele. Obrigado senhor tô te devendo essa! Ele ficou abrindo e fechando a boca igual um peixinho dourado. 

Por favor, não Reggs. Implorei em silêncio olhando no fundo, de seus olhos. Graças a deus ele entendeu 

- E também sou a mulher que atropelou o seu amigo - Essa mulher também não me ajuda - Lamento muito - sua fala soou como se ela estivesse arrependida. Por deus quantas vezes eu vou ter que falar que ela não me atropelou? 

- Ele é meu irmão. E você quase me atropelou - frisei. 

Suponho que eu já fiz as apresentações né?! Reggie balbuciou algo estranho para ela deixando o clima ainda mais esquisito. Julie deve ter entendido errado a loucura do Reggie, ela deve ter pensado que ele ficou quase "catatônico" pela preocupação. Se ela soubesse... 

A mesma se pôs a falar tudo que a médica havia dito para Reggs, o que foi bom, já que eu não ouvira nem metade. A mesma mexeu em alguns bolsos do paletó refinado dela. Era a receita médica, e sua carteira, percebi quando ela abriu e tirou alguns dólares. 

- Aqui estão alguns medicamentos que a médica passou - estendeu a receita, um cartão com o seu número e o dinheiro - Julgo que isso deve bastar nas despesas. Caso não, é só me ligar que eu providencio tudo - disse a mesma. Olho as notas e já me preparo para recusas, Reginald deve devia saber o que vinha pela frente por que em um momento rápido pegou tudo da mulher elegante. 

- Obrigado, isso irá bastar - o mesmo disse, ainda um pouquinho perplexo, olhando para mim, para Julie e de volta para mim. Julie parecia ter ficado um pouco desconfortável. 

"Faziam anos que ninguém a olhava desse modo" 

Não, pera, quê? O que essa voizinha na minha cabeça? 

- Acho melhor eu ir embora - a mesma fala me tirando dos meus pensamentos. - Caso você não esteja bem segunda-feira por favor me informe. Caso contrário meu motorista irá te buscar às sete horas em ponto. - ela diz em uma voz baixa e doce. 

- Não precisa se preocupar - falo arrumando a mochila em meus ombros - Eu posso pegar um ônibus - falo e a mesma olha para baixo dando um riso prévio. 

- Imagino que sim, no entanto, não acredito que o motorista do ônibus irá te levar até a minha casa - a mesma disse colocando as mãos no bolso, ensaiando um sorriso - nós vamos começar por lá. 

- Ah, ok. - Digo e vejo a mesma não sair do lugar. E impressão minha ou ela está relutante em ir embora? 

De uma coisa eu tinha certeza que estava certo. Aquele encontro tinha mexido com ela, de alguma forma que eu não sei explicar, no entanto eu tinha certeza que tinha mexido tanto quanto mexeu comigo. 

- Bom, boa noite - Disse ela dando um aceno com a cabeça, se despedindo. 

- Boa noite Sra. O'Sullivan - Ouço Reggie resmungar uma despedida, mas eu mal ouvi, pois, à medida que a mulher que era igual a minha princesa se afastava, algo parecia atravessar meu peito. Meu peito doía, quase tanto quanto meu tornozelo pulsante. Parecia que faltava algo em mim. 

I will always find you - Au jukeOnde histórias criam vida. Descubra agora