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Sarah •

Uma das melhores coisas da vida era a sensação de ver a sua mãe se recuperando depois de uma rebordosa. Ela ficara dois dias internada, e graças a Deus, já tinha retornado para casa. O seu coração estava bom na medida do possível, os medicamentos controlaram a pressão arterial e também o colesterol. Requeria cuidado, estava sendo acompanhada por uma nutricionista funcional que tinha uma dieta bem rígida. E pelo cardiologista.

Mamãe odiou a dieta, mas era para o bem dela. Estávamos enganchados para lhe proporcionar bem estar e também lhe cuidar. Ela reclamava pelo excesso de cuidado, mas não cediamos aí.

Ela tinha nos dado um susto muito grande. Nunca mais que quero vê-la deitada naquele leito conectada com aparelhos. Foi uma imagem que me perturbou muito, sempre achei que mamãe fosse uma espécie de imortal. Acho que temos essa concepção sobre as nossas mães, de que elas são sempre fortes e que nunca vão nos deixar. Serão eternas. Ter passado por isso, me mostrou o quão era frágil e precisava de todo amor e carinho do mundo.

— Eu as amo. — Mamãe disse com o olhar em cada uma de nós. Sua expressão estava bem melhor do que os outros dias, acho que a mudança do ambiente que tinha renovado as suas forças. Aliás, ninguém gostava e tinha ânimo dentro de um hospital. Suas bochechas estavam mais coradas e os seus olhos tinham adquirido novamente o brilho. — Mas juro que ter que vê-las novamente antes do Natal, irei enlouquecer!

Tanto eu como Carla franzimos o cenho, indignadas. Escutei a risada rouca da minha mulher no cômodo próximo, ah, traidora...

— Mamãe eu achei que gostava de nos ver. — Carla disse em tom magoado.

— Sabe Carlinha, eu tinha a mesma ilusão. — Disse amuada.

Mamãe sorriu, deixando que as pequenas rugas surgissem no canto dos seus olhos.

— E eu gosto, vocês são as minhas filhas e tê-las junto de mim é gratificante. Mas... Tudo em exagero cansa. Vocês estão me deixando louca, os empregados estão loucos! Invadiram a minha rotina sem pedir licença e eu gosto muito da minha rotina de ter o silêncio da casa onde posso ouvir os meus próprios pensamentos. — Mamãe desabafou e ainda sorriu.

— Mas estávamos cuidando de você! — Falei ao cruzar os braços.

— Eu sei que sim. Mas olhem em volta... Tenho os empregados e eles estão cientes á cada passo meu. Eu quero seguir com a minha vida, terei bastante responsabilidade, bem... Mais ainda desde então, mas eu preciso me sentir útil, quero fazer as minhas coisas de antes, cuidar do meu jardim. E vocês não deixam, estão me tratando como se eu fosse uma criancinha de dois anos, só me faltam dar comida na boca! — Mamãe fez careta. — Sou muito grata por ter cuidado de mim, eu sei que nunca iriam me abandonar. Agora, vão se ocupar com a vida de vocês... O Natal é depois de amanhã, sei que tem afazeres. — Olhou pra minha irmã. — Carla, vá as compras, sabemos que você é consumista por demais, as lojas Gucci, Prada, Louis Vuitton devem estranharem a sua ausência. — Eu ri, e Carla fez um bico. Mamãe me olhou. — E você, Sarah... Está recém-casada, eu sei que estraguei a lua-de-mel de vocês...

A interrompi.

— De forma alguma mamãe! Não interrompeu nada.

Mas, mamãe ignorou.

— Vá aproveitar a sua esposa, tadinha da Juliette que também está aqui quase vinte e quatro horas por dia. Vão fazer tudo aquilo que um casal recém-casados fazem.

— Traduzindo: Sexo. Muito sexo. — Carla anunciou.

Eu e mamãe reviramos os olhos, mas a minha irmã fez apenas rir.

True Love || Sariette • ADAPTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora