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Satoru Gojo


— Alexa, abra as persianas. — Comando.

A fraca luz solar invade a extensão do apartamento com lentidão, causando um bocejo instantâneo na mulher deitada ao meu lado. Eu respiro fundo, massageando as têmporas ao fechar os olhos momentaneamente; ao abrí-los, vejo a imensidão de prédio bem à frente e abaixo de mim. Seattle é linda, o amanhecer é lindo, o crepúsculo, o meio-dia, essa cidade é linda em qualquer momento, por isso também é o lugar ideal para que eu possa me recuperar da perda de Iori.

Por outro lado, eu me conformei, sei que ela não vai mais voltar independente das idiotices que eu fizer. Mei Mei, a preguiçosa dormindo com os pés apoiados em meu colo, é a responsável pela minha distração durante todos esses dias, tal como o ombro em que eu chorei e me lamentei por um bom tempo. Mas eu sei que não posso continuar assim, que uma máfia inteira depende de mim e do meu desempenho como Chefe.

E eu sinto falta do Japão, acima de tudo, de acordar com os barulhos marítimos, do sol forte e do vento fresco, da Mansão que é um dos poucos lugares em que eu posso chamar de lar, apenas pela presença das pessoas que estiveram comigo desde o início da minha jornada na Yakuza. Sinto falta de Kento, especificamente, mas sei que ele precisava ficar em Kanagawa cuidando de S/n e auxiliando meus irmãos no que lhes for solicitado.

— Quero voltar para o Japão. — Digo a Mei Mei, que está amarrando os próprios cabelos em um coque.

— Então volte. — Ela dá de ombros, agora coçando os olhos. — Mas não esqueça de me pagar, Satoru. Sou sua amiga mas nada que eu faço é de graça.

— Achei que seu salário fosse suficiente.

— E é. — Ela sorri travessa. — Mas quem não gosta de um extra?

Eu não digo nada, mas lhe dou uma risada fraca em resposta; mapeando o apartamento com os olhos, vejo a TV logo atrás de nós — considerando que viramos os sofás para apreciar a vista —, do meu lado esquerdo há uma grande prateleira com diversas garrafas de bebida e mais outra com livros, para manter o equilíbrio. Há alguns poucos jarros perto das paredes e um pequeno lustre de vidro suspenso no teto. Ao meu lado direito, há a extensão do sofá marrom de couro, dois pequenos degraus e duas paredes que separam a sala das duas suítes.

— Estou com fome. — A mulher murmura. — Por que caralhos não tem uma cozinha aqui?

— Por que eu gastaria tempo cozinhando se posso comer a comida maravilhosa das minhas queridas empregadas?

— Aposto que você come as empregadas também.

— Um dos privilégios de ser bonito e dono do prédio. — Mexo os ombros, umedecendo os lábios.

Ela solta um riso de escárnio, então se levanta repentinamente e esfrega os olhos conquanto arqueia a coluna para se despreguiçar. Seus cabelos branco-azulados caem como cascata pela extensão da coluna esculpida; Mei Mei tem uma beleza extravagante, isso é um fato.

Mas meus olhos se desprendem de seu corpo esbelto quando ouço o barulho do elevador. A mulher, sabendo que eu não estou esperando ninguém, se impulsiona para baixo e pega uma das inúmeras pistolas espalhadas pela casa, bem abaixo do sofá. Em um movimento fluído, ela se posiciona sob um de seus joelhos e ergue o outro, com a arma apontando para a porta de metal que começa a se abrir aos poucos.

— Satoru... — Ela grunhe para mim, que não me mexi desde o início de seu alarde. — Não seja suici-... — Ela parou de falar quando viu que a pessoa que está no elevador é Nanami.

Ele sequer piscou quando percebeu a pistola apontada em sua direção. Kento está... ridículo. Cabelos desgrenhados e olheiras profundas, três botões abertos de sua camisa social preta e os ombros caídos. Bem, ele não está como um mendigo ou com cara de desespero, apenas aquela sua máscara fria e inexpressiva; mas para Kento, isso pode ser muito. E apesar da preocupação, me sinto mais do que feliz ao vê-lo, parece ter sido uma eternidade sem sequer responder suas mensagens. E isso me acerta como uma bala, fazendo-me engolir em seco enquanto me levanto do sofá e caminho até o meu imediato.

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora