47 › Reconciliação

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— Sweetheart. Me ouça.

Estalo a língua, revirando o olhos enquanto guio o garfo carregado de macarrão à boca. Kento suspira com pesar, como se estivesse prestes a se teletransportar e me surrar. A tela parece pequena demais para mim, mas fico aliviada por sequer vê-lo bem. É suficiente, por enquanto.

— Eu não vou voltar porque eles estão me caçando. — Nada além de pura convicção sai de meus lábios. — Por quem quer que estiver me caçando. — Corrijo.

Kento contou sobre Weistwood no dia que chegou em Kanagawa, logo após o pequeno e tenso encontro com os Quatro. Eu deixei clara a minha dúvida sobre esta ser uma operação oficial. Minhas palavras exatas foram "Eles não trabalham dessa forma, nem mesmo os mais lesados e orgulhosos. Muitas coisas poderiam ter acontecido há tempos atrás se realmente soubessem que estou viva".

Então estamos retomando a conversa nesta manhã — à medida que um Inarizaki me chamou para analisar algumas coisas que Nanami não se deu o trabalho do perguntar o que era, enquanto discutíamos no dia anterior. Agora, quero ir diretamente à pessoa responsável por essa investigação, considerando que não podemos arriscar que eu seja, realmente, descoberta.

— Você está em perigo. Volte. — Ele insiste.

— Eu realmente acho isso muito fofo da sua parte, darling, mas planejo terminar meu trabalho. — Irredutível, é o meu temperamento nesse momento. — Com a Inarizaki, posso até mesmo resolver esse problema da CIA, não se preocupe.

Ele articula o pescoço, apertando o copo recém cheio com mais afinco. Aposto que meu movimento atento é visível pela tela do iPad, que provavelmente está apoiado na mesinha de centro à frente de Kento, considerando o ângulo.

— Esse ângulo me faz lembrar de um certo dia em que você me... destruiu. — Brinco com as palavras, sem me preocupar em abaixar o tom de voz.

— Não fuja do assunto. Nós precisamos convers-...

— Nós não precisamos conversar sobre nada. — O corto. Kento franze as sobrancelhas. — Eu posso resolver isso. Obrigada por ter lidado com Weistwood, ele também usava esse nome nos quartéis.

Weistwood. Inútil até mesmo no quesito sexo. Ele era um militar de uma unidade da Virgínia, então conseguiu ir para a CIA graças ao Major Mibriar, seu tio. Mibriar, Comandante Muzan e Comandante Alexander — o que matei — eram grandes parceiros. Tão amigos que se ajudavam até na corrupção, que foi descoberta após a morte de Alexander, quando suas rendas foram investigadas. Mesmo que eu tenha o matado, eles — as poucas pessoas que realmente trabalhavam — não podiam ignorar minha denúncia. Estou feliz que minha raiva e indignação foi maior e me fez matá-lo. Estou livre deles, finalmente.

Ou não, se minhas suspeitas de perseguição do lado de Muzan estão certos.

A última coisa que desejo é um comandante vingativo querendo me matar.

— Por que você não me ouve?

— Porque você está se preocupando atoa, Nanami. Não sou de porcelana.

— Não estamos falando sobre você tropeçar, é sobre levar um tiro na testa. — Ele retruca, aumentando um timbre do tom.

— A testa é minha, não sei porque está tão preocupado.

Nanami fica em silêncio por alguns segundos, fazendo-me praguejar minha boca irrefreável que só fala coisas erradas na hora errada.

— Como assim você... — Ele coça os olhos com o polegar e o indicador. — O que está acontecendo com você? Nem vai se dar ao trabalho de vir para a reunião com o seu pai.

𝐂.𝐈.𝐀  || 2d × Reader (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora