Tela do Passado

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O caminho de volta para a minha casa foi tranquilo, o apartamento na parte alta da cidade não era pequeno, tão pouco gigantesco. Mas era o suficiente para abrigar com conforto eu e meu pai, o prédio de cor clara se erguia de forma imponente no horizonte e parecia emitir um brilho pálido quando banhado pela luz das estrelas.

Usei dos acessos para subir e assim que entrei vi os sapatos polidos e marrons perfeitamente alinhados junto à porta. Confirmando de fato que hoje meu pai havia chego primeiro.

A pasta executiva estava cuidadosamente posta numa poltrona enquanto o barulho de panelas na cozinha se faziam presentes ecoando pelo apartamento. Tudo parecia igual, salvo um pequeno vaso no canto que teve as flores amarelas trocadas por novos ramos de um tom violeta vibrante e as fotos que estavam próximas a ele.

Eram as mesmas imagens que já conhecia, porém dispostas de maneira diferente, retratos do que costumava ser nossa família. Minha mãe partiu desse mundo a muito tempo, quando eu não devia ter mais de cinco anos. Poderia ser algo extremamente banal, mas naquele dia a queda da escada se provou... Mortal.

-Não ouvi você chegar - meu pai disse aparecendo jogando um guardanapo sobre o ombro apontando para o vaso na minha frente como indicador - O que achou das flores?

-São bonitas - cutuquei uma das pétalas com o dedo - Sempre teve um bom gosto.

-Não sou humilde o suficiente para negar isso - ele piscou na minha direção cruzando os braços em seguida - Ainda vai demorar.

Sorri de leve e passei por ele seguindo para o quarto e depois de deixar que a água lavasse o cansaço do dia desabei na cama com os fios ainda um pouco úmidos, o teto sendo o meu alvo de atenção. Porque aquele telefonema não saía da minha cabeça? Porque a sensação de ter algo rastejando atrás de mim não desaparecia? Um agouro impregnado nas minhas costas.

Ergui o braço para ver o marcador, onze horas, teria que carregar no dia seguinte.

Me levantei quando ouvi o chamado, não adiantava ficar pensando em coisas desnecessárias. Joguei a toalha no suporte e passei a mão pelos meus cabelos os balançando de leve enquanto andava na direção da cozinha, meu pai estava se virando com uma panela nos braços quando pareceu tropeçar nos próprios pés lançando o que quer que fosse nosso jantar para frente. Ergui a mão vendo um brilho dourado tomar as pontas dos meus dedos, a cena parou e voltou para o momento em que meu pai tinha derrubado

Ele pegou o pote pelas alças e eu soltei o tempo, suspirando em seguida - Cuidado.

-Desculpe - ele colocou o pote na mesa, mais um ponto saiu do meu braço. Dez horas. Voltar o tempo tirava doze vezes mais da energia necessária do que qualquer outro ataque e o máximo que eu podia voltar eram doze segundos.

- Boa coisa que você está por aqui.

-Não é por isso que pode ser descuidado - puxei a cadeira.

-Hai, hai - disse se sentando à minha frente - Como andam os relatórios?

Apoiei o rosto na minha mão sorrindo de leve, ele definitivamente não sabia disfarçar - Você perguntou não foi?

-Não pode culpar um pai por querer o bem de sua filha, e em defesa do seu tio - ele se serviu de alguma comida antes de continuar - Ele não queria me falar, tive que usar de toda a minha persuasão para conseguir alguma resposta.

-É claro que sim. Consegui o número necessário, mas o tio Tsunagu está me testando com o estagiário da Genius Office - me deitei sobre a mesa - Um garoto da U.A com a personalidade tão forte quanto sua própria técnica.

-Parece divertido.

-Seria mais, se não estivesse valendo a minha recomendação.

Meu pai colocou as duas mãos na mesa e diferente de antes manteve um olhar sério - A tarefa de lecionar não é algo que se faz com obrigação. Se tentar forçar isso não vai funcionar, esqueça da carta faça seu melhor para o ajudar em seus objetivos, se seu tio ver isso ele vai te recompensar depois.

Não respondi, mas ele estava certo, a tarefa de guiar alguém não era algo para ser burlado mas do outro lado alguém com a cabeça tão dura quanto do garoto não daria uma abertura se não visse uma vantagem para chegar mais perto de seu objetivo

Sem perceber acabei suspirando alto meu pai rindo em seguida.

-Já quer desistir?

Me levantei pra roubar um bolinho do prato dele - Até parece.

Terminamos de jantar tranquilamente conversando sobre casualidades do dia, e seguindo nosso trato eu me adiantei para poder lavar a louça já que ele tinha feito a comida. Depois de cuidadosamente limpar a mesa ele abriu a pasta do trabalho, colocou um óculos retangular no rosto e se colocou a trabalhar.

Vi um design um tanto quanto familiar em cima da mesa.

-Endeavor? - perguntei me virando para a pia em seguida.

-Foi solicitado algumas melhorias, vou ter uma reunião na agência dele amanhã. - ele começou a fazer algumas anotações. Desde que eu me lembre meu pai foi uma das pessoas que cuidou do herói de fogo e de seu traje hoje tendo a maioria dos afiliados da agência na cartela de clientes.

-Me lembro que quando você era criança adorava me acompanhar nessas visitas, com certeza deixava as reuniões bem menos chatas.

-Você não tem do que reclamar - disse com os olhos focados na minha frente - Fazia atendimento a residência quando eu era pequena. E honestamente eu mal ficava por perto.

- Tenho certeza que você me acompanhava só para brincar com o primeiro filho de Enji - o tom de voz melancólico me disse por qual caminho aquela conversa estava seguindo - Foi uma pena o que aconteceu com ele.

Touya, apesar de já não lembrar muito de sua feição, sabia que gostava muito de encontrar com o garoto. Mesmo que as memórias fossem enevoadas e turvas, os sentimentos complicados que foram trocados de maneira inocente ainda se faziam presente; do meu lado a culpa pela morte da minha mãe e da dele um desejo egoísta do pai que foi profundamente enraizado.

O momento que a minha mãe caiu da escada foi quando a minha habilidade despertou. Uma pintura brutal parada no tempo apenas para ser apreciada com desespero, o grito mudo que rasgou a sua garganta, os cabelos que voaram tampando sua visão e o vestido cor de creme caindo em ondas. Os braços tentaram segurar no delicado corrimão de madeira vermelha, mas os dedos não agarraram nada além do ar. Tão rápido quanto veio a individualidade se foi, deixando que a cena continuasse seu curso original manchando a tela com tinta carmesim.

Um talher escorregou da sua posição original me fazendo sair de pensamentos antigos. Limpei a garganta antes de colocar o último prato no lugar e responder meu pai - Sim.

-Foi uma pena.















N/A: Oi Oi!

Sim está meio fora do padrão mas o que acontece, eu quero abrir mais a história para vocês antes de parar o tempo necessário. Assim dá para sentir o caminho que eu vou seguir.

Tem inúmeras histórias de BNH mas eu de verdade estou animada com o caminho traçado e as ligações feitas.

É isso! Até mais, talvez tenha mais um ou dois capítulos abrindo o arco do jeito que eu quero, mas não posso prometer nada.

Xx

Litō - (Dabi x [Nome] x Hawks)Onde histórias criam vida. Descubra agora