[T] Nós

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A sensação era a mesma de antes, a de estar cansada de ficar tanto tempo parada. A cabeça pesada, um pulsar insistente atrás dos olhos e uma pressão intensa que parecia querer fazer meu crânio implodir. O mesmo som das máquinas de hospital registrando a minha condição de quase vida. A única diferença em relação ao meu despertar anterior, é que desta vez não tive que brigar com a luz para abrir os olhos.

Pela janela do quarto a luz prateada da lua entrava vestindo as paredes claras com um tom azulado, pálido que me fez sentir em um filtro de foto. As cortinas balançavam vagarosamente, com preguiça devida a uma fresta. O ar que entrava no quarto era gelado, fresco, reconfortante em algum nível.

Sentia meu corpo inchado, as mãos rançosas, provavelmente inchadas pelo tempo parada e todo o soro e outros medicamentos sendo jogados para dentro do meu corpo.

Não é apenas o meu corpo biológico que parece estar bagunçado, as inúmeras perguntas sem respostas surgiram na mente como um turbilhão, se embaraçando uma na outra e deixando qualquer chance de resposta ainda mais longe.

Levantei a mão na altura dos olhos, observando os dedos, abrindo e fechando as mãos, sentindo a temperatura da pele, as texturas. Definitivamente eu estava viva, então como?

— [Nome]? — a voz ecoou pelo quarto cuidadosa, com receio. Passos ecoaram para dentro do quarto logo em seguida.

Virei a cabeça, escutando o raspar dos curativos quando o movimento aconteceu, tentei apoiar os cotovelos e me projetar para frente, mas rapidamente o meu visitante se aproximou tocando de leve meus braços.

— Eu te ajudo. Aplicaram um calmante poderoso, precisa se manter calma, vou levantar um pouco o encosto para você, tudo bem?

Sem ter outra opção, desisti. Me dedicando a olhar na pessoa em minha frente, e todos seus traços.

É ele, é Touya.

Não existe maneira de não ser, todos os traços do garoto que eu me lembrava estavam ali em seu rosto, mais maduros com linhas firmes, mas trazendo em cada detalhe uma lembrança do meu melhor amigo. Senti o embolo se formar na garganta e os olhos arderem, nunca nem nos meus melhores sonhos — aqueles que parecem tão distantes quando minha infância —, imaginei que o veria novamente.

— Por favor, não chore — com as costas das mãos Touya limpou meu rosto. O azul de seus olhos brilhavam de uma maneira quase elétrica, intensa, mas repleta de angústia. — Sei que está tudo confuso, mas tudo vai se ajeitar.

— Como? — minha voz saiu estranha para mim mesma, abaixei a cabeça olhando as minhas mãos e os tubos de soro.

— Sua memória deve retornar com o tempo e-

— Como você está vivo?

Sua cabeça tombou ligeiramente para a frente após a minha interrupção, os cabelos claros caindo em seu rosto o cobrindo parcialmente. Seu maxilar se travou, mas não tive uma resposta imediata. Touya tirou o sobretudo escuro o jogando sobre a poltrona no canto do quarto e voltou a se aproximar, por baixo dele ele vestia uma camisa social branca que foi dobrada até os cotovelos enquanto percorria o caminho do móvel até a lateral da maca.

— [Nome], por que você acha que eu morri? — ele segurou as barras que me impedia de cair com força, mantendo o olhar baixo.

— Teve um acidente, quando tínhamos treze anos, foi então que você...

Tentei falar mais, porém as palavras ficaram travadas nos meus dentes.

— No Monte Sekoto — continuou — sim. Aconteceu, e teria provavelmente sido meu fim, se você não tivesse aparecido.

Litō - (Dabi x [Nome] x Hawks)Onde histórias criam vida. Descubra agora