[T] Heroína

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Os dias que eram repletos de sol, e tranquilos repentinamente se tornaram um inferno. Começou com indiferença, nenhum de nós estava disposto a falar com o outro, saíamos para trabalhar sozinhos em silêncio e voltávamos da mesma forma, como estranhos. Os gestos carinhosos não existiam mais, davam lugar uma vigilância constante e até mesmo doentia.

Quando percebi, os dias foram tomados por brigas. Minha mãe havia voltado para a casa sem muitos questionamentos, não sei o que Touya disse a ela, mas com sua grande capacidade de persuasão qualquer mentira se fazia de verdade.

Não importava o que dissesse, meu — até então — marido, parecia se recusar a acreditar na minha inocência em relação ao adultério. Em sua cabeça de loucuras, Keigo era o motivo de tudo de errado ter acontecido. Foi nesse momento que os discursos começaram a se repetir, quase como um mantra.

A desculpa da memória, o afastamento, a rejeição e a traição. Todas as brigas eram pautadas envolta desses assuntos.

Meu cansaço começou a ficar aparente e tudo aquilo que eu queria, era a maldita mensagem de Hawks. Que fosse uma saída, uma proposta, qualquer coisa. Touya estava me sufocando, sua presença, suas ideias... A cada segundo sua imagem se distanciava do sonho e virava um pesadelo.

No meio tempo, a própria sociedade começou a mudar um pouco, conversas sobre uma mudança no sistema de heróis começou a eclodir em pequenos pontos de discussões. Pouco a pouco, a ansiedade que vinha junto da incerteza começou a crescer e se enraizar nas pessoas, tecendo o medo.

Certo dia, exausta emocionalmente, resolvi sair logo pela manhã, enquanto ele ainda estava dormindo. Swyn foi a minha companhia ao visitar um café ainda nas primeiras horas do dia.

— Por que tão cedo? — questionou com um bocejo se deixando cair no sofá almofadado com cor de caramelo.

— Não estava aguentando mais — respondi tirando a bolsa e fazendo o mesmo. — Não existe os contadores de acidentes em empresas? Nosso recorde de brigas está em 0 dias.

Os braços do meu amigo foram apoiados cruzados na mesa, servindo de apoio para a sua cabeça — Sempre achei ele um pouquinho controlador, pelo que me falou desde muito cedo Touya foi articulador. Agora que as coisas saíram dos planos dele, parece que o fio escapou de vez.

— Alguma vez eu já disse algo parecido para você?

— Não me lembro, talvez, afinal sou um fruto da sua imaginação, posso ser apenas um amontoado de memórias esquecidas.

Abaixei a cabeça soltando o as pela boca — Está conformado demais, não acha? Com essa situação toda.

— O que posso fazer se a sua percepção minha é assim? Quero um café forte, por favor, me acorde quando chegar. E algo doce, obrigado.

Pelo menos algo não mudou nessa situação inteira. A conversa com meu amigo foi leve, como de costume, ele falou sobre o hotel e alguns restaurantes que ele foi. Deixou de lado assuntos como Hawks e os trabalhos da polícia.

Se eu pudesse ficar horas e mais horas com ele o faria, mas é capaz de Touya cometer alguma loucura irreversível enquanto eu estiver fora. Swyn me deixou na porta de casa com uma expressão preocupada e após eu falar que estava tudo bem, ele se foi.

— Um não é o suficiente, resolveu me trair também com seu amigo?

A voz envolta em veneno ecoou assim que fechei a porta. As manchas no pescoço de Touya e nos braços estavam ainda mais escuras do que eu me lembrava. Os cabelos estavam completamente desalinhados e as vestes pareciam as mesmas do dia anterior.

Litō - (Dabi x [Nome] x Hawks)Onde histórias criam vida. Descubra agora