Encontros

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Pela primeira vez em muitos anos acordei ofegante, a fresta aberta da janela deixava que o ar gelado entrasse se agarrando às pequenas gotas de suor na base do meu pescoço e rosto. O coração parecia bater em meus ouvidos num ritmo acelerado e forte, fragmentos de um pesadelo ainda presentes na minha mente. Uma névoa desbotada com cheiro de madeira queimada sufocava meus pulmões e garras de azul cerúleo me rasgavam a pele até chegar aos ossos.

O relógio na parede indicava que passava das cinco horas da manhã, me sentei na cama apoiando os pés no chão e em seguida mantive a cabeça entre os joelhos até que me acalmasse o suficiente. Não tinha muito tempo para o amanhecer e de qualquer jeito teria que ir para a agência cedo, talvez ocupar minha mente com a rotina ajudasse.

Quando terminei de me arrumar o sol começava a nascer no horizonte, ao longo do meu antebraço a marcação ainda estava às dez horas. Teria tempo o suficiente para carregar antes de trabalhar, abri a porta de vidro da sacada e sem me preocupar pulei o pequeno parapeito. O controle do tempo não se limitava apenas a ações, tendo habilidade o suficiente para interromper o fluxo, conseguia criar blocos de pausa que me permitiam movimentar em pleno ar.

Em poucos minutos me vi sentada na beirada do meu prédio, observando a rua e a cidade acordando de cima. Já começava a ficar agitada, juntei as minhas mãos no momento que o calor do dia me atingiu a pele, o formigamento dos ponteiros surgindo na minha testa com a pequena coroa brilhando intensamente enquanto captava a luz do sol.

Joguei os braços para trás e balancei as minhas pernas no ar mirando o céu que ficava cada vez mais claro. O ar pareceu se agitar na minha lateral, e quando sons de passos se fizeram presentes soube que não estava mais sozinha.

-Não é um alvo fácil demais ficando aqui? Qualquer vilão poderia te atacar.

– Se ele for burro pode tentar – respondi ainda de olhos fechados e em seguida me virando para a nova companhia – O que faz por aqui Hawks?

Os cabelos claros banhados pelo sol matinal pareciam quase cintilar e as penas vermelhas estavam ainda mais vibrantes do que eu me lembrava. O rapaz mantinha os óculos no rosto e os protetores no ouvido, deveria estar voando quando me viu e parou para conversar.

-Nada demais, uma conversa aqui uma coisa de super-herói ali – disse com um sorriso preguiçoso esticando o pescoço apenas para olhar meu antebraço – Não é comum te ver carregando, dias agitados?

Dei de ombros – Um pouco, nada que um profissional não possa aguentar.

-Tão confiante [Nome]-chan – disse quase cantando – Poderia me apaixonar por você sabia?

Não pude deixar de rir – Não faz o seu perfil ser o cara de uma garota só Hawks – rebati – Eu gosto de exclusividade.

-Posso abrir uma exceção.

Balancei a cabeça ignorando o flerte sem sentido – Você não deveria estar com um estagiário da UA?

-E estou, a propósito estava voltando pra lá. – levantando ele ergueu os braços se espreguiçando e em seguida andou para fora do prédio sendo sustentado pelas asas. Coloquei o braço na frente dos olhos por conta do vento que revoltou – É uma pena [Nome], mas preciso deixá-la caso contrário vou me atrasar, não podemos deixar a geração futura se perder não é mesmo?

-Se atrasar não é algo que está no seu vocabulário – levantei vendo que o marcador no meu braço agora tinha as doze horas completas.

-Sobre isso você está certa, aceita ajuda para descer? – mesmo no ar ele fez uma leve reverência.

Litō - (Dabi x [Nome] x Hawks)Onde histórias criam vida. Descubra agora