Capítulo 10

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"Preciso conversar, onde você está?" mandei a mensagem para a Jade e afrouxei o nó da gravata que estava usando.

Fiquei o dia inteiro em reunião, o Eddy judiou de mim hoje ao marcar quatro seguidas e estou desde as seis da manhã de pé e vestido de social. Agora não é nem cinco da tarde e meu corpo está reclamando como se fosse onze da noite.

"Na companhia, tenho que dar a última aula, termino seis e meia" me respondeu uns dez minutos depois, eu encarei o WhatsApp aberto no computador e vi que ela continuava online.

"Passo aí te pegar?".

"Preciso ir no shopping depois daqui, aceita ser meu carregador de comprinhas?" dei risada sozinho para o computador ao imaginar a cena.

"Por que será que mulheres gostam tanto do shopping?".

"A graça de ganhar dinheiro é gastar" a mensagem veio seguida do emoji de uma nota com asas. "Hoje em dia as pessoas gostam de comprar pela internet e esqueceram da graça que é entrar nas lojinhas".

"Vou aceitar só porque não aguento mais ficar nesse escritório" segui sua onda e mandei um emoji revirando os olhos. "Passo te pegar seis e meia então".

"Tá bom mandão" ela mandou a mensagem e já saiu do aplicativo, enquanto eu mudei a aba da conversa e fiquei encarando a foto da Jana.

A desbloqueei assim que foi embora. Ela tinha feito praticamente um bate e volta, ficamos à tarde no apartamento e no final do dia ela já tinha o vôo de volta porque não podia ficar longe das crianças.

Na cabeça dela a Angel tinha feito um favor em deixá-la vir, no fundo ela sabia que poderia ficar mais e algo no meu peito diz que não era só pelas crianças que estava voltando.

Está vendo?

É exatamente esse tipo de pensamento, esse sentimento doloroso que quero evitar.

É sobre esse Otávio que eu temo, esse que repúdio e evito com todas minhas forças.

Não gosto de ser inseguro, desde adolescente eu sempre tomei as rédeas da minha vida e não seria agora, com quase trinta e quatro anos, totalmente independente desde antes dos meus dezoito, que eu iria me tornar aquele que nunca fui.

Respondi alguns e-mails, revisei um contrato antes do horário combinado e assim que o relógio marcou seis e meia desliguei tudo aliviado por esse dia de trabalho finalmente ter acabado.

— Até amanhã chefe — o Eddy se despediu assim que passei por ele.

— Não me venha com mais reuniões porque se eu tiver que colocar outro terno essa semana você está demitido — ameacei em vão e até ele riu da minha mentira deslavada.

— Tomara que seu humor melhore — ele juntou as mãos em direção ao céu e eu sai rindo da palhaçada.

Tomara mesmo que melhore, porque ainda é terça-feira e eu já quero matar um.

Mandei uma mensagem para a Jade assim que cheguei na frente do prédio da companhia e cinco minutos depois ela apareceu cheia de bolsa e com o cabelo molhado.

— Você nem para me dar uns minutos — entrou reclamando e jogando as bolsas no banco traseiro.

— Claro que dei, já são sete e cinco — olhei no relógio de pulso e ela bateu no meu ombro.

— Estou de TPM, não me contraria.

Dei partida no carro e a Jade ficou mexendo na multimídia procurando uma música que a agradasse.

Infinitamente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora