BÔNUS - POV. Angel Duarte Gupper

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Como uma boa anfitriã, esperei até que o Otávio e o Lívio fossem embora para ter a conversa com a Janaína, não gostaria que eles presenciassem ou se sentissem responsáveis por qualquer atitude minha.

Então na madrugada da véspera de Natal eles foram e nem os acompanhamos até o aeroporto porque o que já é um pesadelo em dias normais, nessa época de fim de ano parece o caos.

O Emerson está parecendo a minha sombra, ele não está me deixando em paz nem para amamentar o João e mesmo entendendo que ele está fazendo isso por receio de que eu faça alguma coisa, estou a ponto de mandá-lo embora junto com ela só para parar de me encher o saco.

Como se eu vivesse sem ele.

Eu estava no quartinho do João junto com o Emerson quando a Janaína apareceu, toda solicita e com aqueles dentes de cobra cascavel a mostra.

— Oi Angel, precisa de ajuda? — deixei um João sonolento com a babá para que ela o fizesse arrotar e abri o meu sorriso mais falso para ela.

— Na verdade gostaria de falar com você sim, vamos até o jardim, a casa está cheia hoje — contratei uma equipe para fazer a ceia e decoração da noite de Natal, já que contaríamos com a presença dos meus pais e um casal de amigos deles, por isso a casa está de pernas para o ar.

Pedi para as babás das meninas as levarem para a área do parquinho para elas não ficarem no meio atrapalhando ou se machucarem e daqui do quarto do João eu consigo vê-las brincando.

No quarto e durante o caminho até o jardim o Emerson não falou nada, ele estava levando a sério o papel de ser minha sombra e até que seria fofinho se não fosse a cara fechada e a aparência de lenhador sexy.

Puts, que vontade de sentar nele que me deu.

— Aconteceu alguma coisa? — a Janaína perguntou assim que teve a oportunidade, com um certo receio, provavelmente por conta da carranca do meu marido.

Ele foi até o banco a alguns metros de onde paramos e se sentou com os braços cruzados e perna flexionada.

— A ingratidão é filha da soberba — citei Miguel de Cervantes — Já ouviu essa frase? — analisei sua expressão e por mais que estivesse receosa, não parecia amedrontada.

— Nunca — ela desviou o olhar para o Emerson, como se meu marido tivesse algo a esconder.

— Pois bem — suspirei molhando os lábios. — Eu só tenho uma pergunta para você Jana, alguma vez te deixei faltar alguma coisa na minha casa?

— O que? Não, claro que não.

— Eu ou alguém dessa casa te faltou com respeito? — insisti e ela abriu a boca inconformada.

— Que conversa é essa Angel, claro que não, sabe que amo trabalhar aqui.

— Depois que a Letícia passou pela minha vida eu tenho muita dificuldade para confiar nas pessoas, você sabe disso, todo mundo aqui sabe — suspirei andando para perto da árvore. — Você foi a minha primeira babá, eu te deixei entrar na minha casa, na minha vida, te dei um lar sem fazer perguntas sobre o seu passado ou suas reservas... — engoli a vontade de chorar e todas as emoções contraditórias que rondam o meu peito há dias.

— E eu sou muito grata a isso...

— Cala a boca — não deixei que terminasse a maldita frase. — Eu te dei uma nova vida, uma casa, um salário bom para que pudesse juntar seu próprio dinheiro, fiz tudo o que estava ao meu alcance...

— Eu sei, eu sei...

— E você me apunhalou pelas costas, não só mentiu para mim, como ainda teve a cara de pau de se insinuar para o meu marido — cuspi as palavras, se estivesse perto dela tenho certeza que cuspiria na sua cara.

Infinitamente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora