Capítulo 17

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Pai.

A um tempo venho me imaginando nesse título. Imaginando a descoberta, ele crescendo na barriga, o dia do seu nascimento, como seria seu rostinho, as noites sem dormir... Na minha cabeça seria como a Clara, que eu vi nascer e estive lá o tempo que consegui durante seu primeiro aninho.

Nunca imaginei estar nessa situação, viver o que estou vivendo é surreal demais para mim e estou zero preparado para esse choque.

Puta que pariu.

Não sei o que pensar.

Minha vida era para ser completamente diferente, se a Clarinha já me mudou, imagino o quanto um filho teria me mudado.

Não consigo trabalhar, não consigo treinar, não consigo fazer porra nenhuma enquanto minha cabeça fica trabalhando a mil tentando entender coisas que provavelmente só a Jade poderia me ajudar, mas estou bravo com ela, muito bravo.

Aí vejo que preciso dela, na mesma proporção em que estou bravo.

E minha cabeça fica nessa indecisão e mudança contínua, entre querer ir lá, falar com ela, me apresentar para o meu filho, conversar, entender... E esse sentimento esquisito de ver todos os anos perdidos de algo que significaria muito para mim.

Ou não.

Eu vou reconhecer que estou me sentindo um verdadeiro lixo. A Jade não me procurou para explicar, o Jorge não me ligou querendo explicações sobre a ausência na C&C, o que significa que o Eddy entendeu quando falei para remarcar qualquer assunto que for. A Jana então eu nem sei o paradeiro.

E eu estou oficialmente sozinho, fodido e com um filho adolescente.

Como se pudesse ler meus pensamentos a campainha do meu apartamento tocou.

Pensei sobre atender, para não ter sido anunciado na portaria provavelmente era a Jade ou o Jorge, se fosse o meu sócio ele simplesmente entraria — em dias normais a Jade também, mas não estamos em um dia normal.

Diferente de todas as probabilidades ela não me ligou, não mandou mensagens se explicando, não pediu para a irmã vir e nem nada. Ela só me deu um espaço e me deixou surtar sozinho, duas semanas que estou literalmente surtando sozinho.

Eu estava com a mão na maçaneta totalmente indeciso; com medo de atender e ter que lidar com essa nova realidade, e com medo de não atender e ser esquecido de vez.

Então eu abri.

Abri a porta para a Jade, para a incerteza, o medo e a insegurança... Para todo o pacote que deve ser a paternidade.

Será? Eu estava mesmo preparado para isso?

Uma coisa é pensar em ter filho um dia, outra totalmente diferente é já ter um e ele ser grande o suficiente para entender que há anos é rejeitado.

Seus olhos coloridos encontraram os meus, eles tinham uma bagagem que ela sempre conseguiu maquiar, havia tanta coisa para me contar, tantas palavras não ditas e mal entendimento que até fiquei zonzo.

A Jade estava sozinha, deu um passo para frente e eu não consegui dar passagem para que entrasse, por ser alta ficamos cara a cara, seus olhos encarando os meus, desviando de um para o outro, nossas respirações perto demais para alguém que já está desconcentrado.

— Vai me deixar entrar? — sua sobrancelha levantou e eu percebi o quanto estava me sentindo vulnerável.

Dei um passo para o lado e deixei que entrasse, ela caminhou até a mesa de jantar da bagunça e deixou a bolsa ali, encostando o quadril na quina do sofá.

Infinitamente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora