Capítulo 33

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Dei uma volta pela Hyde Park e parei por um momento para apreciar a fonte de água. Na verdade, eu estava só olhando em direção a ela, meus pensamentos totalmente alheios a paisagem.

Fiquei com receio de ligar para o doutor Nash, então mandei uma mensagem pedindo para conversar com ele e o mesmo me retornou poucos minutos depois.

— Não sei se fico feliz ou preocupado por ter me retornado tão rápido — suspirei apoiando os cotovelos na mureta.

— Normalmente os pacientes me agradecem, mas você é um caso à parte — ótimo, pelo menos ele está de bom humor.

— Sou?

— Você busca saber sobre mim, enquanto é você quem importa. Sei que está se perguntando o que estou fazendo e se não tenho uma vida social, só porque te retornei assim que consegui.

— Incrível, já que é tão bom, me diz os números da Mega Sena.

— O que é isso? — perguntou sem entender a referência.

— É tipo o Euromillions do Brasil — expliquei e ele deu risada do outro lado.

— Eu estudo comportamentos, ainda não virei adivinho.

— Quem manipula a mente não consegue manipular os jogos?

— O seu senso de humor é peculiar, mas nem ele vai conseguir me distrair do principal. O que aconteceu?

— Você se lembra do Jorge né?

— Sim...

— Ele e o Eddy, meu secretário e braço direito, estão juntos — suspirei percebendo o quanto era doloroso dizer em voz alta.

— E como você está se sentindo com isso?

— Sei lá, estou muito puto, chateado por terem escondido de mim por tanto tempo — coloquei uma mão na testa, cansado de olhar a água caindo e levantando repetidamente. — Eu falo com os dois absolutamente todos os dias e eles nunca deram uma pista sequer; de atração, romance, nada. Não sei nem dizer quantas vezes já fui inconveniente sem saber, supondo outros relacionamentos, brincadeiras que vendo agora foram de muito mau gosto... Tudo porque não conversaram comigo, não confiaram em mim.

— Então esse é o maior problema, a confiança?

— Mas é claro Nash — exclamei impaciente. — Eu converso sobre tudo com eles, peço conselhos, desabafo, bebemos juntos, achei que fossemos amigos, que era recíproco sabe... Sinto que esse tempo todo somente eu era amigo deles, enquanto nunca passei de um patrão e sócio.

— Você perguntou como eles estão se sentindo?

— Não perguntei nada, sai de casa, estou no parque respirando um ar.

— Às vezes vale a pena mudar o ponto de vista Castro, assim como você tem os seus sentimentos, eles também os têm.

— Eu sei, é que sou tão transparente quanto aos meus que não me sinto confortável com eles escondendo os deles.

— Contou para o Emerson sobre seus sentimentos pela mulher dele?

— Aí, essa doeu!

— Só quero que você veja que nem sempre nos sentimos confortáveis para compartilhar tudo, você poderia dizer para o seu primo o que sente e nunca disse, foi uma escolha sua e tem seus motivos.

— Estou me sentindo um idiota, parece que todo mundo esconde as coisas de mim.

— Quando estiver mais calmo converse com seus amigos e entenda o que aconteceu, não saia caçando culpados, as pessoas tem os seus motivos — ouvi um choro de bebê do outro lado da linha, mas logo foi abafado. — Preciso desligar, mas volte para a sua casa e pense antes de fazer qualquer coisa.

Infinitamente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora