Capítulo 6

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O gabinete tem cinco andares, um prédio branco com janelas escuras. Pessoas de terno e militares entravam e saíam de lá com passos apressados. A entrada estava cheia, pessoas esperando a senha aparecer em uma tela preta com números vermelhos, pessoas em pé em filas que pareciam durar uma eternidade e tinha um elevador à esquerda. 

Lúcio vai até o elevador e eu o sigo, os dois prateados e o motorista ficaram para trás, não tenho dificuldade em alcançar o mensageiro já que temos quase a mesma altura e ele é lento. Nós vamos para o quinto andar. Quando as portas abrem, vejo pessoas ainda mais apressadas discutindo com seus comunicadores, escuto apenas coisas como "como vamos manter?" "Não temos condições." "Tire de lá!" "Leve logo à presidente!"

Não sei o contexto de todas essas conversas, mas deve ser por causa do navio que eu vi hoje. Lúcio me guia até uma sala no fim do corredor a direita, onde o doutor Henrique está. Ele está concentrado em uma pequena TV em cima da sua mesa, assistindo qualquer coisa que seja com tanta atenção que é a primeira vez que ele não me nota assim que apareço. 

Ele pisca e ergue as sobrancelhas em surpresa, pelos reflexos de seus óculos, só consigo ver uma explosão. As chamas, ao menos. 

- Fascinante. - O doutor balbucia.- Pode ser perigoso, mas é fascinante. Muito útil.

Lúcio limpa a garganta, chamando a atenção para si. Doutor Henrique olha para mim e sorri normalmente. 

- Bom dia, Marina. - Ele diz, unindo as mãos, pegando o controle da pequena televisão, volta ou avança o vídeo e pausa. - Sente-se, sente-se. Vou explicar o seu trabalho. - Com um gesto, ele dispensa o Lúcio. 

A sala dele era pequena e sem janelas, as paredes em um tom leve de amarelo, estantes marrons nas paredes ao lado da mesa, pastas espalhadas por todo lado com fotos de pessoas e seus nomes. Prateados, percebo pelo carimbo cinza. A mesa do doutor Henrique é pequena demais para tanta coisa que ele tem. 

- Bom, suponho que você... não lembre muito bem do que fez, já que demorou para chegar. - Ele comenta apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos. - No contrato diz que você vai ser uma empregada que vai servir comida para a presidente Verônica, para mim e para seus hóspedes, mas você vai fazer mais do que isso. 

Meu estômago se embrulha, por que eu assinei aquele contrato? Eu me odeio por ter feito isso, apenas continuo porque talvez meu pai tenha razão e porque eu preciso de um emprego.

- Sempre percebi como você prestava atenção nas conversas das mesas que servia. - Doutor Henrique admite. - É o que quero que faça lá.

- Quer que eu seja sua espiã? - Pergunto franzindo a testa. 

Isso não vai dar certo, eu vou morrer na primeira conversa que tentar ouvir e eu não tenho nada que me dê segurança. Não sou que nem os espiões dos filmes que já vi, os atuais ou os antigos, não posso espionar as pessoas assim.

- Não minha, da presidente Verônica. - Doutor Henrique explica. - E você não será a única, há outros que também vão trabalhar com você. Está tudo organizado, não estou dando uma missão ultra secreta e perigosa para você. Só quero que faça o que sempre fez, sirva e escute. 

Uma voz sussurra na minha cabeça "Levante, saia e vá embora. Levante, saia e vá embora. Você não está desesperada por emprego e não é uma espiã autodidata, recuse." 

- Em dois meses, receberemos visitantes que nunca conhecemos antes, mas temos propósitos em comum: a liberdade dos vermelhos. - Doutor Henrique continuou, sem ter ideia do conflito interno que eu estava tendo na frente dele. - Mesmo assim, queremos ter certeza de que estamos conquistando aliados, não dando informações a inimigos e os atraindo para cá. 

A Alvorada Rubra |Fanfic de A Rainha Vermelha| EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora