Capítulo 28 - Luís

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Minha mãe não conseguiu mais falar comigo depois que me colocaram aqui.

O Frigorífico é onde os prateados são colocados pra ficarem "conservados", é frio e escuro e não tem nada que me coloque em contato com o exterior. Não me faz tremer e trincar os dentes, mas eu mataria por um cobertor agora. Em vez disso, continuo só com uma calça que não serve pra aquecer as minhas pernas. Eu fui curado antes de entrar, Verônica queria garantir que não teria que me tirar daqui tão cedo, então mandou curarem cada arranhão na minha pele.

Passei horas ouvindo o barulho das outras celas fechando, o Frigorífico tá lotado hoje.

De vez em quando, a temperatura ficava mais baixa, fazendo eu abraçar meu próprio corpo e deitar no chão por um pouco de calor. Mas agora, parou. Não tem mais essa variação de temperatura em momentos aleatórios, só a mesma temperatura de uma sala com ar-condicionado. Não tenho nenhuma saída, a comida passa por uma portinhola e é empurrada por um cabo e eles não entregam se eu estiver perto da porta. Sou uma isca valiosa enquanto estou vivo, não importa as condições.

Verônica tá se aproveitando da bondade da minha mãe, da culpa que ela carrega por ter ajudado uma amiga que nunca retribuiu por isso. Alguns guardas sabem que eu sou filho da "terrorista" Tábata Fagundes e espalharam, então alguns já tentaram me provocar. Eles acreditam em tudo que a Verônica fala, ela pode mandar eles fazerem o que ela quiser. Odiar quem ela quiser.

Fico acompanhando o movimento do lado de fora. Eu não posso ver, mas posso ouvir. Os passos, alguns gritos dos prateados que são colocados no Frigorífico sem parasita implorando pra sair e a risada dos vermelhos que se divertem com esse sofrimento. É doentio pensar que nós não mudamos praticamente nada, só trocamos as peças de lugar. Eu lembro da minha avó dizendo isso pra explicar as suas ações, tínhamos que tomar cuidado pra se perder no caminho por um mundo melhor e acabarmos apenas piorando tudo.

Estou prestes a tentar dormir quando escuto som de tiros e um relâmpago. As luzes em cima de mim piscam e eu escuto o tiroteio ficando mais pesado, alguém está berrando ordens, mas eu não escuto direito. Depois de ouvir o que deve ter sido uma metralhadora, eu deito no chão, pra evitar levar um tiro. Os tiros continuam, cada vez mais intensos, os trovões ecoam em cima da minha cabeça e eu começo a ficar com dor de cabeça.

- Que merda é essa?- Escuto uma voz feminina perguntar. Olho pra cima e vejo uma silhueta envolta da luz do corredor.

Diana Farley, não sei sua idade e não sei seus parentescos, só a sua patente. General do Comando da Guarda Escarlate e representante deles. Tenho inveja dela, admito. Ela me puxa pelo braço para fora da cela e eu vejo o que está acontecendo.

O Frigorífico é um túnel de praticamente quilômetros, com celas minúsculas onde você só tem o chão para deitar, mas só se ficar encolhido. As luzes do corredor quase nos cegam e os sons ecoam por todo lugar. A Guarda veio pela única entrada que tinha, a rampa ainda está intacta e soldados da Farley correm pra lá e pra cá.

Soldados estão abrindo as celas e atirando nos prisioneiros, depois teleportadores entram pra tirar eles dali. Reconheço alguns soldados da minha mãe, espiões, eles mandam relatórios em voz alta pra ela e eu entendo.

Eles estão curando os prateados e mandando direto pra ilha. Fico sem ar quando percebo o que vai acontecer.

- Armadilha.- Digo, voltando a olhar para a general.

- Por que ele está aqui? - Escuto outra voz.

Mare Barrow, outra agente da Guarda Escarlate, não sei a patente dela. Chamam ela de "Garota Elétrica" onde ela mora. Tem aprimorados com um poder parecido com o dela lá na Ilha do Trapo, mas a cor dos raios da Mare são roxos. As cores variam de pessoa pra pessoa.

A Alvorada Rubra |Fanfic de A Rainha Vermelha| EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora