Capítulo 9

44 4 0
                                    

Doutor Henrique pediu uma xícara de café que eu fui entregar, o escritório dele é bem maior do que o outro e ainda mais bagunçado. Ele estava com o jaleco de sempre, uma camisa verde e uma calça preta, observando dois braceletes em sua mesa. 

- Como foi a viagem, Marina? - Ele pergunta, pegando um deles e o colocando no pulso.

-  Foi bem, doutor. - Respondo, ignorando a lembrança do maldito enjoo. 

- Soube que você serviu a presidente Verônica. - Doutor Henrique comenta, analisando o bracelete em seu pulso, era um pouco apertado para ele. - Ouviu algo sobre a aliança que queremos fazer com o norte? Ela está confiante? 

- Pareceu estar, disse isso para os governadores. - Digo dando de ombros.

Não entendo o motivo dessa pergunta, o doutor Henrique é o braço direito da presidente, deveria saber de tudo o que ela pensa, os dois deixaram nosso país como ele é hoje. Por que ele perguntaria algo sobre ela para mim?

O doutor gira o pulso, observando cada centímetro daquele bracelete.

- Isso é muito bom. - Ele diz sem tirar os olhos daquilo. - Fiquei com receio de que ela estivesse aborrecida, mas tenho certeza que logo ela ficará muito contente com o que estou preparando- AH! 

Doutor Henrique cai da cadeira com o susto ao mover o pulso de um modo em que saíram faíscas do bracelete, também me assustei, ele se levanta ajeitando o óculos no rosto. Sem parar de olhar para o bracelete, agora com medo de se mover.

- Oh, fantástico! É para isso que servem, eu ia guardar como troféu.- Ele exala alegria e satisfação. - Isso é até bastante prático, meu deus, devo mandar que coloquem... - Doutor diz enquanto tenta tirar o bracelete, o puxando, mas não conseguindo. - tem que colocar de volta no... é difícil de tirar... - Ele tenta mexer no fecho do bracelete, mas estava mais arranhando-o do que tirando.- Claro, né? Marina, me ajude. Preciso disso hoje à noite, mas não preso em mim. 

Chego até ele perto da mesa e vejo o bracelete, parece simples, mas também não consigo tirar. O fecho é complicado demais.

- Isso deve evitar que roubem. - Doutor Henrique comenta enquanto pega um hidratante e o despeja no pulso, eu tento puxar o bracelete para um lado enquanto ele tenta puxar o pulso para o outro. - Cadê os guardas que tiraram essa coisa? 

- Onde conseguiu isso, doutor? - Pergunto antes de contar até três para nós dois puxarmos. 

- Er... - Alguém diz na porta.- Precisam de ajuda?

- Oh! Olá, senhorita Gisa. - Doutor Henrique diz com o mesmo sorriso simpático. - Estamos travando uma luta contra essa coisa. - Diz levantando a mão para mostrar o pulso melado de creme, ainda com o bracelete preso. - Que está começando a me apertar e eu não estou conseguindo tirar, parecia tão simples quando coloquei.

Gisa cortou o cabelo em algum momento, o deixando curto na altura das bochechas. O corte desvia a atenção das cicatrizes que ela tem no rosto, as que puxam sua boca para baixo quando ela sorri, mas ela não parece feliz, seu rosto parecia uma máscara esculpida em gelo enquanto olhava para nós dois. 

- Posso ajudar? - Ela pergunta casualmente, indo em nossa direção e olhando para os braceletes. 

Troco de lugar com Gisa, que olha para o pulso do doutor Henrique com uma expressão fria e calculista. Em segundos, ela consegue abrir o bracelete e ele sai facilmente. 

- Oh, muito obrigado, senhorita Gisa. - O doutor diz, admirado com a facilidade com o que ela fez isso. - Como conseguiu? 

- Sei mexer nessas coisas. - Gisa dá de ombros, ainda segurando o bracelete na mão. - Eu era uma ladra antes de entrar para a Guarda, roubei muitos relógios, moedas, baterias e o que a minha família precisasse. Ninguém nunca me pegou. 

Ela olha para o bracelete por alguns segundos antes de colocá-lo ao lado do par. 

- Para que esse bracelete serve? - Pergunta, olhando para eles. 

Recolhi a bandeja onde trouxe o café do doutor Henrique e o resto das coisas, mas eu demorei a sair porque a colher, a caneca e o pote de açúcar que eu trouxe simplesmente sumiram no meio da bagunça da mesa. E porque parte da minha atenção se prendeu na conversa.

- É uma das coisas que o capitão Marcos trouxe de sua viagem, eu estava tentando descobrir se tinha alguma utilidade e parece que eu estava certo. - O doutor responde com orgulho.

- Seu capitão viajou pelos mares em busca de dois braceletes? - Gisa perguntou, franzindo o cenho. 

- Pode-se dizer que isso foi um brinde pela nossa busca padrão. - Doutor Henrique diz. - Não esperávamos encontrar, mas encontramos. 

- Vocês devem ter muita sorte. - Ela diz com um sorriso.

- Eu espero que sim. - Doutor Henrique diz, totalmente alheio. 

- Às vezes, não nos resta nada a não ser contar com a sorte. - Gisa dá de ombros. 

Doutor Henrique ri, pegando os braceletes e enfiando-os nos bolsos do jaleco, a forma como eles ficaram ali era muito engraçada. 

- Esta noite, veremos o quanto somos sortudos, senhorita Jasper. - Ele diz, indo em direção a porta com aquele sorriso demoníaco no rosto. 

- Vocês são amigos, por acaso? - Gisa pergunta atrás de mim. 

Arregalo os olhos com a pergunta, mas quando olho para ela, vejo um sorriso confuso no rosto de Gisa.

- Não, eu só sirvo o que eles pedem para a cozinha. - Explico, ainda olhando em volta procurando as coisas que eu trouxe. Até agora só encontrei a bandeja, mas Gisa me entrega o pote de açúcar e a caneca com a colherzinha dentro. - Nossa, obrigada. Como conseguiu? Uma das habilidades de ladra? 

Gisa faz que não com a cabeça. 

- Meu namorado é bagunceiro também, o quarto dele faz isso parecer o lugar mais organizado do mundo, faz parecer fácil procurar coisas aqui. - Ela comentou olhando para o escritório.

- Eca, sinto muito. - Comento. 

- Mas a bagunça dele não é esse tipo de bagunça, a maioria são os vários livros que não cabem nas estantes das paredes então ficam no chão, pilhas de relatórios, parece que houve uma guerra em uma biblioteca e não houve vencedores. - Gisa comenta com um sorriso triste. 

- Ele veio com você? - Pergunto com um sorriso amistoso, mas o sorriso de Gisa some. 

- Não. - Ela responde antes de ir.

A Alvorada Rubra |Fanfic de A Rainha Vermelha| EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora