Capítulo 20 - Marina

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Eu escuto sussurros, mas não consigo entender todos, só da Geovana que está perto de mim. Ela está conversando com a Mare e com a Farley, as duas desconfiadas como sempre.

- O que a Verônica sabe sobre nós?- Mare perguntou, a voz dela é baixa, mas consigo ouvir.

Estou em algum canto de um maldito avião, com as mãos presas nas costas e um saco na minha cabeça. Eu espero que o avião não demore para chegar no destino por que isso aqui não está me fazendo bem. Nem um pouco.

- Pouca coisa.- Geovana respondeu.- Ela não esperava que vocês fossem... mais do que parecem, nem que planejavam salvar os prateados dos países de vocês.

- Assim espero.- Farley diz, ríspida.- E de que lado ela está?

Fico tão focada em não colocar o meu jantar para fora do meu estômago que não percebi que ela está falando de mim.

- Nenhum.- Geovana respondeu.- Marina não faz parte da força rebelde, mas também não é uma aliada da Verônica, ela só queria trabalhar.

- Mesmo assim, ela cometeu traição, por que não foi punida?- Mare pergunta, tão rude quanto a Farley. - Verônica não parece ter pena das pessoas, mas ficou com pena dela.

Eu soltei uma risada, era para ser só uma, mas não aguentei e comecei a gargalhar. Alguém tira o saco da minha cabeça, foi a Mare. Ela e Farley me encaram, mas eu não consigo parar de rir. Geovana olha para mim com medo, eu não faço ideia de que imagem eu estou criando. Só consigo rir.

- Qual é a graça?- Mare pergunta, acho que ela pensa que eu enlouqueci.

- A Verônica... - Consigo falar, mas perco o fôlego rápido.- com pena... de mim...

- A Marina é filha de um rebelde, ele foi executado pela Verônica há poucos dias. - Geovana explica para Farley, ela franze a testa para minha colega de quarto.- Mas, assim, a Marina nunca soube disso até agora.

Eu rio mais alto ainda, outros soldados começam a olhar para mim.

- A minha vizinha me mandou uma carta!- Digo em voz alta.- Uma carta! E depois apareceu no meio do Aniversário da Nova Brasília pra falar disso!- Eu deito no chão, gargalhando.

- Hum...- Ouço Mare dizer.- Então... ela não tem noção de nada?

- Normalmente, ela não é assim. - Geovana me defende. - Acho que ela só precisa de um minuto.

- Certo.- Mare diz com desinteresse.- Quando a Marina parar de rir, vamos esclarecer as coisas.

- Mas eu sou da Alvorada Rubra. - Geovana argumenta, eu rio ainda mais alto. Quantas pessoas são rebeldes e eu não sei?

As pessoas viram rebeldes, as pessoas são assassinadas, as pessoas explodem, me pergunto qual desses caminhos eu vou seguir. Talvez eu seja morta, talvez as minhas risadas incomodem ao ponto de alguém dar um tiro na minha cabeça e eu seja assassinada. Talvez eu não fique tão horrível quanto a minha avó e não sofra com uma dezena de tiros que nem o meu pai.

- Você pode responder também.- Farley dá de ombros com um sorrisinho.- É na ilha de vocês, não se preocupe.

Mare olha para mim e me puxa pela gola da camisa para eu levantar, vendo ela de perto, suas cicatrizes são terríveis, mas ela ainda é bonitinha. Se não fosse pelo temperamento, sua cara emburrada, sua grosseria e esse olhar que ela está me dando, eu diria que a Mare é uma fofa. Eu gargalho ainda mais conforme ela me olha de cima a baixo, até ela me dar um tapa.

Minha bochecha começa a arder e eu paro de rir, Mare continua segurando a gola da minha camisa.

- Recomponha-se.- Ela não grita, mas consegue causar seu impacto mesmo assim.- Não é hora para isso, se você agir assim de novo, eu vou fritar o seu cérebro como se fosse um ovo mexido, entendeu?

A Alvorada Rubra |Fanfic de A Rainha Vermelha| EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora