Capítulo Oito

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Dois meses se passaram, a cada dia eu aprendia mais sobre como lidar com cada um dos meus colegas de trabalho, até com Ira as coisas melhoraram.

Pelo que entendi as investigações voltaram a dar resultado, Dias e ele estão trabalhando mais juntos agora, sempre grudados um com o outro, no fim do mês passado eles conseguiram realizar mais uma batida apreendendo mais pasta base de cocaína o que deixou Ira muito feliz.

— Que bom que já chegou Mankanshoku, graças as manifestações pela cidade o prefeito pediu para que fossemos para a rua reforçando as patrulhas, quero que fique aqui na delegacia com o Gamagoori, ajude no que puder e fique atenta a movimentação na recepção. – O Capitão falou assim que entrei na sala sem me dar tempo de recusar.

Ele assim como o restante dos policiais estava vestido com a farda da polícia militar, a arma do lado direito do quadril e um spray de gengibre um pouco mais abaixo, as munições e restante dos objetos necessários já guardados e organizados.

— Senhor, eu... – Não pude terminar de dizer a frase pois ele começou a sair da sala.

— Boa sorte Mankanshoku, se vir algo suspeito chame o Ira e fique próxima dele, durante essas manifestações as pessoas saem do controle atacar uma delegacia de polícia pode ser loucura, mas não é impossível.

Ele saiu reunindo o esquadrão e gritando ordens de organização, outras unidades se juntariam a eles durante os maiores tumultos, Ira foi impedido de ir por precisarem de um policial aqui que soubesse lidar com o caos se o pior acontecer.

Conforme as horas se passaram o tempo começou a fechar dando indícios de chuva forte, andei pela delegacia toda procurando e fechando janelas e portas desnecessárias abertas, a rua na frente da delegacia estava deserta, toda a concentração de pessoas estava na Avenida Atlântica perto calçadão, os jornais estavam enlouquecidos noticiando cada coisa que acontecia, fechei todas as janelas e quando estava saindo da sala dos detetives uma aranha enorme entrou no meu caminho.

Com calma peguei um jornal velho que estava enrolado na mesa de Moroe, com um salto arremessei-o nela, ela correu, mas não rápido o suficiente para fugir de ser esmagada pelo meu pé. Sorri triunfante sobre o aracnídeo esmagado no chão, quando me virei para limpar Ira estava em pé encostado no batente da porta olhando para a cena, pude sentir meu rosto queimando de vergonha.

— A quanto tempo está aí? – Perguntei levantando o queixo.

— O suficiente para ter visto seu pulinho – debochou

Passei por ele ainda sentindo meu rosto queimando.

— Em que eu posso te ajudar? – Perguntei indo até minha mesa.

A porta de frente estava fechada, não trancada, qualquer um que quisesse entrar só teria que empurrar a maçaneta, isso reduzia o risco de a chuva molhar tudo e de qualquer curioso entrar só para dar uma olhadinha.

— Preciso de um relatório que a Souza entregou ao Capitão ontem, vou verificar alguns detalhes. Você sabe onde está? – Ira perguntou vindo logo atrás de mim.

—Vou pegar, o Capitão me pediu para deixar ele separado, caso você precisasse.

Consegui encontrar o documento sem muita dificuldade guardado dentro de uma das pastas em minha mesa.

— É esse aqui? – Perguntei

Perguntei tentando ler o nome de Souza em algum lugar, mas não consegui encontrar, confirmar antes de entregar era a regra. Senti a aproximação de Ira, ele olhou por cima do meu ombro, concentrado no relatório consegui sentir a respiração bater contra meu pescoço fazendo boa parte do meu corpo se arrepiar, o cheiro do perfume inundou meu nariz tirando um pouco do meu autocontrole se esvair, bem...um pouco não, muito do meu autocontrole voou longe não consegui me impedir de respirar fundo puxando todo aquele perfume para mim.

— É exatamente este. – Ele sussurrou virando o rosto ficando perto de mais de mim.

Alguns centímetros de separavam dele, meu coração deu um pequeno pulo. Trabalhar com ele por apenas dois meses me mostrou mais coisas que o normal, Ira era dedicado, seu esforço nas investigações era evidente, sempre que alguém lhe pedia algo ele dava um jeito de conseguir ajudar mesmo que na maioria das vezes o gênio forte lhe impedisse de ser muito gentil, minha proximidade com ele cresceu mais a cada dia, meu corpo as vezes dava sinais de que queria estar mais perto, como nesse momento em que as minhas pernas estavam levemente bambas e meus olhos desceram rápido de mais para a barba curta depois deslizaram para a boca convidativa de mais.

Ira se afastou de mim, desconcertado.

— Desculpe, eu não sabia que estava tão perto. – Ele murmurou desviando o olhar de mim e focando no documento. — Trago de volta pra você amanhã.

Assim que pegou o documento ele se afastou e se enfiou dentro daquela maldita sala sem sair de lá pelo restante da tarde.

Ele estava tão perto e se afastou tão rápido, me repeliu como se eu não fosse nada, procurei algum indício de que estava fedendo ou alguma coisa em meu rosto de me mostrasse o motivo dele ter saído tão rápido, mas não encontrei nada.

Me assustei quando um trovão irrompeu pelos céus.

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